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CRÍTICAS FILMES

Baseado em fatos reais.

Baseado em fatos reais.
  • Publicado em: abril 7, 2018

 

 

Baseado em Fatos Reais [D’après une Histoire Vraie, 2018] é a volta às telas do diretor Roman Polanski, 84 anos, cinco anos depois de A Pele de Vênus [La Vénus à la fourrure].

O filme é um mergulho no processo criativo da escritora Delphine, interpretada por Emmanuelle Seigner, mulher de Polanski e com quem já trabalhou em outros filmes, como O Último Portal, [The Ninth Gate, 1999]. Delphine é uma escritora francesa, cujo livro sobre as histórias da sua família, em especial da sua mãe, alcançou sucesso internacional.

Já nas primeiras cenas, vemos a escritora como uma mulher cansada, ameaçada por cartas anônimas e atormentada pela sua exposição ao público, à mídia e às redes sociais. É casada com o crítico literário François [Vicent Perez], que tem um conhecido programa de televisão e com quem mantém uma relação distante. O casal mora em casas diferentes e cada um possui sua própria rotina de vida. Os dois filhos de Delphine não vivem em Paris e mantêm pouco contato com a mãe.

        Ao final de uma sessão de autógrafo, já esgotada pelo esforço de compartilhar com cada leitor uma parte das memórias que expôs no livro, Delphine é abordada por Elle [Eva Green, de Penny Dreadful, 300 – A ascensão do Império e O Lar das Crianças Peculiares]. A fã, uma ghost writer bela e enigmática, acaba chamando a atenção de Delphine. A aproximação das duas é facilitada pelo isolamento e fragilidade da escritora. Elle acaba por envolver a escritora, que se torna dependente dela, praticamente isolando-a do convívio com as outras pessoas.

 

 

É difícil descrever o desenrolar da trama sem dar spoilers. O espectador atento, contudo, verá claros sinais acerca do que efetivamente está acontecendo, desde o início do relacionamento das duas. Estes sinais tornam-se conclusões óbvias, conforme as personagens revelam o seu passado. Esta percepção e a forma da narrativa comprometem o suspense do filme, que passa a se assemelhar mais com um drama.

        Baseado em Fatos Reais   é rodado em Paris e arredores, o que sempre garante ótimas locações com baixo orçamento. Uma peculiaridade é o ostensivo merchandising de algumas marcas francesas, como a Citroën.

As atuações de Emmanuelle e Eva Green, que dominam a maioria das cenas, são boas, mas não conseguem compensar a previsibilidade do roteiro.

A direção peca por deixar muito claro, desde o início, o que deveria ser revelado apenas ao final. Polanski é um grande cineasta. Fez filmes como O Bebê de Rosemary [1968, que também é um thriller psicológico], Chinatown [1974], Tess – Uma Lição de Vida [1979] e O Pianista [2002]. É detalhista ao extremo. Poderia passar o resto dos seus dias realizando filmes apenas com base na sua biografia. Perdeu quase toda a família em campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Sobreviveu nas ruas, como mendigo, esquivando-se de ser assassinado e de morrer de fome, até se reencontrar com o pai depois da guerra. Quando ascendia como um dos maiores diretores de Hollywood, sua então mulher, Sharon Tate, foi brutalmente assassinada pela seita de Charles Manson. Depois, foi acusado e condenado pelo estupro de uma criança de 13 anos, Samantha Geimer, o que lhe valeu alguns dias na prisão e um exílio eterno dos Estados Unidos. Samantha, posteriormente, perdoou-o.

        Baseado em Fatos Reais está longe de ser um filme ruim, mas traz o selo e a responsabilidade de ser um filme de Polanski, um cineasta de que quem se espera um passo além da média dos seus pares. Neste filme, contudo, ele fica oculto na multidão.

       

 

 

 

 

 

Written By
Daniel Nonohay

Nasceu em 1973 e mora em Porto Alegre. É casado e pai de duas filhas. Juiz do trabalho, escreveu o seu primeiro romance à mão, em dois cadernos pautados, quando tinha 17 anos. Em 2016, lançou o romance Um Passeio no Jardim da Vingança, pela Editora Novo Século. Publica regularmente outros textos em seu site, www.danielnonohay.com.br. É, também, autor de artigos técnicos, na área do Direito, e políticos que foram publicados em livros, jornais e sites. Organizou livros de coletâneas. É colorado. Atuou como professor e é pós-graduado em Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho e Direito Previdenciário. Foi Presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho do Rio Grande do Sul. Atualmente, aproveita cada segundo livre para escrever, a sua grande paixão.

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