Bando de Dois: crime e castigo no sertão nordestino.
Esta resenha tem o apoio da Social Comics.
Bando de Dois é uma obra-prima dos quadrinhos nacionais. Isso se dá em função de sua coragem em abordar um tema controverso (no caso, o Cangaço) com uma narrativa rápida, marcante e cheia de recursos visuais que apontam para alguém que aprendeu – e bem – a arte sequencial ensinada por Will Eisner. Os desenhos são extremamente detalhados e reforçam de forma brilhante o roteiro, incentivando a continuidade da leitura.
A história é bem interessante e mostra elementos de pesquisa bem alicerçados, seja por conta da representação coerente do ambiente do sertão, como também pela caracterização dos personagens principais.
Bando de Dois retrata a saga de dois cangaceiros sobreviventes a um massacre resultante de uma tocaia. Tal como na história de Lampião e seu bando, os cangaceiros tiveram suas cabeças cortadas e serão expostas como troféus. É nesse ponto que um dos sobreviventes, Tinhoso, tem um chamado em sonhos, um pedido de vingança e recuperação da honra do bando. É nesse ponto que Tinhoso se une ao outro sobrevivente, Cavêra di Boi e juntos partem para uma prestação de contas que irá, certamente, gerar muito sangue derramado.
Com um plano muito bem arquitetado, a dupla e um ex-cangaceiro, recrutado no diálogo e na pressão, conseguem forças para confrontar uma tropa de policiais (os macacos), liderados pelo infame Tenente Honório (mesmo sendo um representante da lei, o leitor tenderá a não gostar dele, mérito de Beyruth que nos faz ter simpatia pelos cangaceiros).
Com uma mistura de suspense, ação e sobrenatural, Bando de Dois tem elementos que lembram a extinta Kripta ou até mesmo uma das mais empolgantes cenas de O resgate do Soldado Ryan.
Destaco o confronto final por sua coragem gráfica de representar sem temores a morte e as sequelas de um confronto armado. Mais do que isso, Danilo Beyruth mostrou ser capaz de produzir quadrinhos com um tema sério, polêmico e violento. Não bastasse a abordagem da violência de um dos períodos mais conturbados da região nordeste do Brasil, o leitor irá se deparar com alguns aspectos da cultura nordestina até hoje existentes como a fé cristã que é demonstrada em cada procissão, a seca que persiste em castigar esse povo, o surgimento do crime organizado (existente até os dias atuais) e a simplicidade de quem vive um dia de cada vez.
Bando de Dois foi considerada a melhor HQ nacional de 2010 pelo Universo e Blog dos Quadrinhos, recebeu o prêmio Angelo Agostini de melhor lançamento de 2010, foi vencedoras dos prêmios de melhor desenhista, roteirista e edição especial nacional no troféu HQ Mix de 2011. O autor destaca a importância de ter sido um dos vencedores do ProAC em 2009 (Apoio a Projetos de Criação e Publicação de História em Quadrinhos do Estado de São Paulo). Entre os destaques de sua carreira, Danilo também é autor da série Astronauta do selo Graphic MSP e da série em dois volumes sobre São Jorge com grande embasamento na lenda e nos textos apócrifos.
Leitura obrigatória para quem ama uma HQ de qualidade.