Bacurau: Cinema Nacional (2019)

Salve Nosetmaníacos, eu sou o Marcelo Moura e hoje falamos de mais um filme de sucesso nacional.

Bacurau (2019): Direção Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, produção Emilie Lesclaux, Saïd Ben Saïd e Michel Merkt, roteiro Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, elenco Sônia Braga, Udo Kier, Bárbara Colen, Thomás Aquino, Silvero Pereira e Karine Teles. Companhias produtoras SBS Productions, CinemaScópio e Globo Filmes, distribuição Vitrine Filmes (Brasil) e SBS Distribution (França), lançamento na França 15 de maio de 2019 (Cannes), Brasil em 29 de agosto de 2019 e Portugal em 19 de dezembro de 2019.

Com um orçamento de R$ 7,7 milhões (Reais) e uma receita mundial de US$ 3,500,.00 (dólares) ou algo em torno de R$ 11 milhões de reais, Bacurau é um filme brasileiro dos gêneros drama, faroeste, terror gore, fantasia e ficção científica, escrito e dirigido por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. É produzido por Emilie Lesclaux, Saïd Ben Saïd e Michel Merkt e estrelado por Sônia Braga, Udo Kier e Bárbara Colen. O título do filme é o apelido do último ônibus da madrugada no Recife, e a origem do nome vem de uma ave de hábitos noturnos comum nos sertões brasileiros, que era chamada pelos povos tupis de wakura’wa.

A produção conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes de 2019, tornando-se o segundo filme brasileiro da história a ser laureado no certame geral, após O Pagador de Promessas (1962) de Anselmo Duarte. Além de ter sido premiado em diversos festivais de cinema, o filme foi selecionado para mostras principais de festivais não competitivos prestigiados mundialmente, como o Festival de Nova York (NYFF).

Sinopse: Num futuro próximo, Bacurau, uma pequena cidade brasileira no oeste de Pernambuco, lamenta a perda de sua matriarca, Carmelita (Lia de Itamaracá), que viveu até os 94 anos. Dias depois, seus habitantes aos poucos, percebem algo estranho acontecer na região: enquanto drones passeiam pelos céus, estrangeiros chegam pela primeira vez na cidade com planos de exterminar toda a população ali residente, posteriormente carros se tornam vítimas de tiros e cadáveres começam a aparecer, os habitantes chegam à conclusão de que estão sendo atacados. Resta identificar o inimigo e criar coletivamente um meio de defesa, os acontecimentos fazem com que os habitantes se unam para resistir aos problemas.

Crítica: Ambicioso projeto nacional, Bacurau é um interessante filme que fala metaforicamente sobre a invasão da cultura estrangeira e a perda da cultura nacional, bravamente defendida aqui pela pequena e esquecida cidade do interior do nordeste, Bacurau. Exemplo disso não falta em sua história, como quando o pseudo chefe da quadrilha estrangeira fala que a língua falada no Brasil é a a brasileira e não o português, quando questionam porque brasileiros apoiam a invasão de outro países em seu próprio território, sendo que estes respondem que não se consideram brasileiros, mas imigrantes nascidos no Brasil, ou mesmo quando os próprios estrangeiros se confundem nas etnias dentro do seu grupo, uma alusão aos enlatados estrangeiros que apesar de produzidos em países diferentes, seguem o mesmo padrão, tudo isso muito bem introduzido no contexto do filme.

Apesar de ser um bom filme, Bacurau peca grandiosamente por tentar ser maior do que é, misturar cultura, arte e cinema e ser mais projeto único e divisor de águas nacionais. O excesso de mais de 2h de filme tornam-o cansativo, principalmente no primeiro arco de 1h, onde a apresentação dos personagens e da cidade tem cenas desnecessárias, com quebras de continuidade, apenas para dar mais tempo para o segundo arco entrar e finalmente, com mais uma hora, contar uma história de maneira corrida . Tem momentos que a ação começa e você imagina que a trama vai se desenrolar, mas voltamos a mais apresentações do povoado e seus costumes, por longos minutos, deixando toda aquela ação para trás.

Por causa desta perda de tempo no primeiro ato, um dos problemas do segundo e terceiro ato é a química do elenco na trama, que é até bem trabalhada nas subtramas, fazendo o filme perde sua força. Não há pistas sobre o porque  a cidade é atacada, não há um drama que leve a história para frente, apenas algumas pontas soltas que passam no decorrer do interminável filme, somete para ser esclarecido no fina do terceiro ato.

Gostei muito da atuação do ator alemão Udo Kier (Ace Ventura e Blade) como pseudo líder do grupo estrangeiro, do ator Thomas Aquino (Praia do Futuro), que consegue criar um anti herói com profundidade e personalidade, sendo o único que parece ter uma carga emocional e entender o que está acontecendo na cidade, pois todos o tempo todo parecem estar em confinamento, seja na visita do prefeito ou de qualquer pessoa diferente da cidade. Sonia Braga ( O Beijos da Mulher Aranha e Dona Flor) parece querer atuar mais que seu personagem permite, fazendo caras e bocas o tempo todo, como se fosse seu maior papel ou mesmo que o filme fosse menor que toda sua grandeza.

Apesar destas críticas Bacurau não é mais um filme nacional que fala de pobreza, comédia pastelão ou dramas rasos bem brasileiros, mas finalmente um filme que sai da casinha e toca em um interessante ponto de como estará a cultura brasileira daqui há algumas décadas, tendo nomes de cidades esquecidas sobrepujadas pela tecnologia internacional.

Curiosidades: As filmagens aconteceram na povoação de Barra no município de Parelhas e na zona rural do município de Acari, no Sertão do Seridó, Rio Grande do Norte.

No agregador de críticas Rotten Tomatoes, o filme detém 90% de aprovação com base em 125 avaliações, com uma classificação média de 7,76/10. O consenso crítico do site diz: “Formalmente empolgante e narrativamente ousado, Bacurau se baseia nas preocupações sociopolíticas brasileiras modernas para apresentar um drama contundente e que mistura o gênero”. No Metacritic, o filme tem uma pontuação média ponderada de 82 em 100, com base em 25 críticas, indicando “aclamação universal”.

Peter Bradshaw do jornal britânico The Guardian diz que o filme é “completamente distinto, executado com clareza e força implacáveis”. Steve Pond do TheWrap escreve que: “Bacurau é perturbador, um sonho febril sobre um período confuso no Brasil. E, ocasionalmente, é muito divertido também”.

O site IndieWire, especializado em filmes independentes deu a nota B+ para Bacurau. A revista Variety disse que o filme “é aquele raro exemplo de longa que provavelmente teria sido melhor se tivesse sido mais burro, ou pelo menos menos ambicioso”.

Stephen Dalton do The Hollywood Reporter considerou Bacurau “uma mistura impressionantemente rica, mas talvez um pouco rica demais, por vezes exageradamente recheada e mal cozida em alguns lugares”.

Cesar Soto escreveu no G1 que “não é sempre que o cinema brasileiro consegue equilibrar tão bem o realismo pelo qual é conhecido com diferentes características de filmes de gênero, como ação ou suspense. Bacurau estreia com uma mistura certeira de crítica, sarcasmo e, em certo grau, diversão pop”.

Inácio Araujo da Folha de S. Paulo deu ao filme 5 estrelas e disse: “Bacurau é um filme claro e direto”.

Por outro lado, o geógrafo Demétrio Magnolli, em sua coluna para Folha de São Paulo, criticou o filme. Para ele: “O filme de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles deve ser visto como um testemunho de nossa miséria intelectual — ou, mais precisamente, da extinção de qualquer traço de vida inteligente na esquerda brasileira”.

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