Anavitória apresenta o espetáculo Cor, em Porto Alegre
Uma coisa que fica nítida na carreira da dupla Anavitória é a maturidade musical adquirida, que ano após ano, fica mais clara nas suas posturas, canções e espetáculos. Desde os covers que ambas faziam de Tiago Iorc, em 2014, que chamou atenção da mídia e abriu os caminhos para a dupla, até o último trabalho delas, o disco Cor, percebemos a evolução, tanto nas composições, quanto nos arranjos e trabalho de vozes das meninas, passar da pouca ousadia e mesmice, só que aprimorada com o tempo. E apresentando o espetáculo Cor, a dupla adentrou no disco voador sonoro do Auditório Araújo Vianna, em Porto Alegre, no último sábado para uma série de dois shows. E é claro, o NoSet estava lá para conferir.
Com casa cheia, uma plateia de muitas adolescentes, pais acompanhando os filhos e um fã clube animado, a dupla representante da nova MPB “gratidão” começou quase que pontualmente o show. Antes de pisar no palco ainda teve tempo de tocar Mistério do Planeta, dos Novos Baianos, que serve para abrir a canção do novo trabalho Amarelo, Azul e Branco, que no disco teve participação de Rita Lee. Com um público animado, mas tímido e comportado, elas embalam outra canção do disco, a bonitinha Tente Acreditar. Porque Eu te Amo, do disco de 2018, refresca a memória dos fãs antes de seguirem com mais uma do álbum Cor, Lisboa, que teve participação de luxo no disco, de Lenine. Anavitória são competentes, cantam muito bem, tem uma banda afiada, mas a impressão é que se ouve uma música delas, se ouviu todas, tamanha a semelhança, tanto nas letras, quantos nos arranjos e na doçura (até demais) das interpretações. Enfim, um som inofensivo, diga-se de passagem, agradável, mas nada arrepiante.
Selva talvez seja a composição mais ousada, com um arranjo mais contundente e explorando talento vocal mais agudo de Vitória. As duas próximas músicas, Te Procuro e Dói Sem Tanto, seguem o embalo quase sem sal das outras. Mas que é quebrado pela canção Cigarra, do novo disco, onde a interação de palmas e o ritmo agradável da música deram mais intensidade à noite. Terra, do novo disco, segue o baile e Explodir, essa muito bem cantada, apenas por Vitória, num belo momento.
Talvez o maior sucesso da dupla, Trevo (Tu), provoca o momento de mais conexão da dupla com a plateia, com a melodia grudenta e as vozes bem colocadas, num ritmo embalado, fez a gurizada presente se soltar mais e cantar junto, mas não se levantar.
Na metade do show as meninas se colocam num canto do palco e Ana pega um teclado, e como boas contadoras de causos, conversam com a comportada plateia, falando amenidades descontraídas antes de tocarem, com Ana nas teclas, a belíssima Cecília, canção do disco de 2019, O Tempo É Agora.
Abril e Ainda É Tempo são aquelas do mais do mesmo do último trabalho da dupla, sendo a segunda cantada solo por Ana, uma amostra de sua suave voz. Eu Sei Quem É Você segue a toada repetitiva do disco novo. Com Partilhar o clima do show é quebrado, com um grande arranjo da discreta, mas eficiente banda da dupla, que faz o auditório se empolgar de vez com a música que a dupla fez junto com Rubel. Já contando com a plateia solta embalam Agora Eu Quero Ir, de 2016 e a animadona Fica, que gravaram com Matheus e Kauan, levando a plateia teen ao delírio e pela primeira vez, vendo o auditório realmente animado.
Pupila e Te Amar é Massa Demais dão aquela segurada na plateia, que mesmo com papel picado jogado nela, parecia mais estática e preocupada em gravar no celular o show que curtir o momento, fato que fez a própria Ana convidar a todos a largar das telas e curtir as duas derradeiras canções, a bela Ai, Amor, onde o público foi pra frente do palco e o último numero da noite, a embalada Carvoeiro, com um arranjo mais forte, meio rock and roll suingado, quase uma exceção no padrão da dupla, mas serviu para fechar bem o show, agradando seus 4 mil fãs que aguardavam pacientemente a dupla desde 2019.
Anavitória mostraram maturidade artística no novo show, ousando e tocando praticamente todas as canções do último disco, mesclando com alguns sucessos da curta, mas consagrada carreira, tem vozes agradáveis, um estilo gratidão de ser e um show perfeito, logicamente, para os fãs. Mas para o observador, no caso eu, é um show um tanto quanto inofensivo, pouco marcante, com canções quase iguais umas às outras e pouca ousadia nas interpretações, mesmo as duas meninas tendo belas vozes. Enfim, um show para quem é fã de uma dupla competente, mas que dificilmente conquista quem não é conhecedor da obra.
Crédito das fotos: Vívian Carravetta