Análise Fílmica: Argo (2012)
A internet tem a capacidade, muitas vezes, de emburrecer e fazer aflorar o que há de pior nas pessoas. Assim nascem os haters. Um grupo considerável destes seres abomináveis vêm, desde muito tempo, difamando Ben Affleck pela sua atuação (que ainda nem aconteceu) como Batman. Argo esta aí para provar o contrário. Ator, diretor e produtor. Affleck prova com este filme que sabe jogar em todas as posições, e que atua em todas elas muito bem, obrigado. Ele mostra sua capacidade e conhecimento cinematográfico nos trazendo uma obra completa. O filme não deixa a desejar em nenhum aspecto.
Sabe aquelas manias da indústria, com as quais já estamos acostumados e que são, praticamente inevitáveis, em Hollywood? Pois então, elas não estão presentes neste filme. Desta vez, os americanos não são retratados como os pacificadores salvadores do mundo, libertadores de povos que vivem sob regimes totalitários. O diretor encontrou uma forma de fugir do clichê. O que é sempre bom. A direção é corajosa ao mostrar a infelicidade das intervenções americanas. E como elas levaram ao desastroso contexto político do Irã. Situação que permitiu a ascensão do Aiatolá Khomeini ao poder.
Argo foi sucesso de crítica e de público. Tendo gasto cerca de 44,5 milhões de dólares, o filme conseguiu arrecadar pouco mais de 232 milhões. Apesar de conter imprecisões históricas, o mérito do diretor Affleck e de toda a equipe de produção está em fazer uma trama bem realista. Afinal, fazer um filme repleto de perseguições, tiros e explosões é relativamente fácil. Entretanto, para fazer um cinema que capte a atenção do público sem estes artifícios é preciso muito mais qualidade. Argo é um filme político, sério, baseado em fatos reais, quase trágicos. Mas muito engraçado. Vale fazer aqui uma menção honrosa para o núcleo mais light do filme. O alívio cômico, que vem com o especialista em maquiagem de cinema John Chambers (John Goodman) e com o ator Lester Siegel (Alan Arkin), proporciona ótimos momentos.
Não só com estes personagens, mas as interações de Tony Mendez, principalmente com seu chefe Jack O’Donell (Bryan Cranston) também rendem momentos engraçados. Todavia, Affleck acerta a mão como diretor incluindo pitadas de humor em seu filme, mas na medida certa. Ele sempre coloca um momento de tensão logo a frente para nos lembrar de que não estamos vendo uma comédia. Além do mais, o filme não exagera nos momentos cômicos. O mérito do diretor vem ainda com a crítica e a forma de caçoar, mesmo que bem de leve, da própria indústria cinematográfica. PS.: Joss Whedon devia pegar umas aulas de direção com Affleck, para melhorar o próximo The Avengers. Talvez assim ele aprenda a fazer um filme sério e balanceá-lo corretamente com momentos engraçados.
Como não poderia deixar de ser, o filme não é totalmente fiel à verdadeira história. O papel da embaixada canadense no resgate dos diplomatas americanos, por exemplo, foi bastante minimizado. Também a história de que os norte-americanos teriam sido rejeitados pelas embaixadas britânica e da Nova Zelândia. Isso não aconteceu. Além disso, o perigo que o grupo passara no aeroporto de Teerã e nas demais localidades fora retratado de forma exacerbada nas telas. Entretanto, todas as alterações são perfeitamente aceitáveis e cabíveis. São artifícios necessários para dramatizar a história e tornar a trama mais interessante aos olhos do espectador. O importante é que a essência daquilo que aconteceu foi mantida. E as situações de tensão, ou ainda, como se sentiram as pessoas envolvidas no incidente, todos estes aspectos foram transmitidos.
Muitas vezes, em cinema, é preciso exagerar um pouco para conseguir sensibilizar o público. Ver uma pessoa morrendo em um filme obviamente não é a mesma coisa que ver uma pessoa morrendo no noticiário, não é mesmo? Pois então, nas telas é preciso dramatizar as situações um pouco mais do que da forma como elas realmente aconteceram. Deste modo, consegue-se sensibilizar o espectador e aproximá-lo da narrativa, fazê-lo se importar com os personagens. Basicamente, são metáforas cinematográficas. Exageros necessários. Mentiras que contam a verdade.
Argo fuck yourself!
Nome original: Argo
Direção: Ben Affleck
País de origem: Estados Unidos
Informações adicionais: O filme é uma adaptação do livro The Master of Disguise escrito pelo próprio agente Tony Mendez, integrante da CIA. Argo tomou como base, também, o artigo The Great Escape do autor Joshuah Bearman, publicado na Revista Wired em 2007. Ben Affleck além de estrelar e dirigir o filme também o produziu, contando com a parceria de George Clooney na produção. A história do resgate de seis diplomatas no Teerã, narrado no filme, já havia sido contada em um telefilme de 1981: Escape From Iran: The Canadian Caper do diretor Lamont Johnson.
Premiações: O filme teve grande reconhecimento mundo afora, tendo recebido muitas indicações e premiações, foi sucesso de crítica e de bilheteria, porém, vou citar aqui apenas os prêmios principais. Argo teve sete indicações ao Oscar de 2013 e levou três estatuetas: Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição e Melhor Filme. Já no Globo de Ouro o filme foi indicado a cinco prêmios, sendo vencedor em dois: Melhor Filme – Drama e Melhor Diretor. Contando ainda com uma nomeação de Melhor Ator Coadjuvante em Cinema para Alan Arkin. Em outra premiação, British Academy Film Awards, Argo levou a melhor nas categorias de Melhor Filme, Melhor Edição e Melhor Diretor.