Análise do Livro: “Textos Cruéis Demais Para Serem Lidos Rapidamente” da Globo Alt
Indo contra a tendência dos textos curtos e superficiais que são postados nas redes sociais, o coletivo literário Textos cruéis demais para serem lidos rapidamente (TCD) passou a produzir e compartilhar um conteúdo extenso, profundo e extremamente poético em suas páginas no Facebook e no Instagram. Com seus escritos e ilustrações, eles acabaram atingindo um público muito maior do que o esperado, nos mostrando como, apesar da crescente agilidade que nossa comunicação exige, ainda precisamos de tempo para digerir e entender nossas complexas relações humanas. Para este livro, foram produzidos textos inéditos que ganharam a companhia das sensíveis ilustrações de Anália Moraes.
Os textos são todos escritos em forma de poesia, com uma bela composição visual que junto com as ilustrações nos dão maior clareza sobre o sentimento do autor.
Na verdade qualquer análise não faria jus ao texto pois a própria disposição visual, o jogo de palavras e a forma de expressão do autor são o que fazem a beleza do texto. Ler poesia não pode ser explicado. Tem que experimentar.
Capítulo 1 – pra quando você se esquecer de mim
a gente precisa enfrentar
a dor de dar errado
muito antes da tentativa
Yasmin Vieira
Nesse primeiro capítulo o autor descreve as dores, sofrimentos e descobertas no processo de término de um relacionamento. Como é ser esquecido. Usado. Como é dar todo seu amor a uma pessoa e não receber em troca. Algumas gotas do livro:
um
eu não vou me desculpar por sentir tudo à flor da pele
quando relações pedem conexões e não o contrário.
que se desculpe você, que passou por mim e não se
lembra o gosto do meu nome
sete
quero saber se meu gosto ainda resiste
em viver na sua língua
enquanto você tenta
me esquecer beijando outros
Capítulo 2: A memória é uma pele
Acontecemos e era bom. Espero que
lembre disso. De cá, te desejo o bem, e
que seja gigante. Estou sendo.
Júlia Rabêlo
Neste segundo capítulo vemos o autor saindo da dor e indo para a raiva e iniciando seu processo de desapego. Ainda ama muito, mas já começa a perceber que não há mais volta. Que as memórias precisam partir. E que precisa virar a página. Os textos dessa fase são mais intensos, com explosões verbais, bem diferente do primeiro capítulo quando as palavras eram poucas e doloridas. E ainda assim bastante contraditórios. É um deixar partir com um “pezinho” no passado. O furacão da libertação. O vômito da dor. Em jatos. Um tentar entender.
prometo não falar mais de você quando vir meus
amigos comentando sobre os ex-namorados. prometo
colocar a mão na boca todas as vezes que pensar em
amaldiçoá-lo.
terei respeito pelo que destruí.
tudo que destruímos deveria ser colocado num altar
imaculado pra que não voltemos a ele.
você é meu altar sagrado
eu sei que doeu em você
porque eu fui a única pessoa
que olhou dentro do seu olho
e pediu calma
porque todas as outras
pessoas passaram por você e
pediram pressa.
Capítulo três – pra você não se esquecer de sentir
– Você lavou as mãos antes de
sair do banheiro?
– Lavei. – E em um gesto rápi-
do se virou para o outro lado.
Tinha mentido. Mas parecia
adequado mentir nessas
circunstancias. Ele não tocaria
nela, ela não tocaria nele,
nenhuma infecção é mais forte
do que a ausência de amor.
Jessica Ferreira
O início da superação. Quando o autor volta a se conhecer. A se amar e a perceber que merece muito mais que ficar sofrendo. Que merece alguém que o ame. Merece situações alegres. Que não é um coitado culpado. Que pode sim ser feliz e dar a volta por cima. Que quer ficar consigo mesmo e se reconstruir, se refazer. Já vemos textos com maiúsculas, com acentos, pontuação completa.
saudade de te empurrar nos carrinhos dos
supermercados e de ouvir sua voz grunhindo e me
pedindo pra ficar. saudade de tudo que não viveremos
pelas escolhas e caminhos da vida.
Quando está quase curado o autor se depara com a saudade do que poderia ter vivido. E regride. Inclusive na escrita. Retornam as letras minúsculas. A falta de maiúsculas. Ele fica confuso entre a cura e a saudade. Entre o que poderia ter sido e o que é. E ele se cura.
Capítulo 4 – a felicidade é uma arma quente
Você não precisa permanecer no passado para
entender que é capaz de guardar uma lembrança.
Pode seguir
Giovanna Freire
Esse último capítulo fala da cura. Quando a saudade não produz mais dor. Quando as memórias só produzem memórias. Não há mais dor em lembrar. Não há mais o sentimento de vítima. Está curado e pronto para amar novamente. Uma outra pessoa, ou a si mesmo. Uma pessoa que o respeite e complemente. Uma pessoa diferente da anterior. E com isso um ciclo se fecha. O amor começou como fogo, se tornou dor, raiva, resignação e agora se torna a paz.
você vai encontrar alguém que assista a todas as sua séries desconhecidas. e ele vai gostar delas. alguém que não vai reparar no seu nariz maior que a média, nem vai se importar se seu corpo é um espaço para caminhos um tanto indesejados. alguém que te levará a festas, mas que também fará carnavais particulares e bem mais barulhentos dentro de você. alguém capaz de retirar o peso do mundo dos seus ombro e que não humilhará sua essência mais densa e cheia de farpas. pelo contrário: erguerá um altar pra sua sensibilidade ter onde dormir. alguém que te entregue uma adrenalina no peito e que a tome de você no instante exato em que descobrirem o centro do universo um do outro. será você voando pelo céu de um amor bom.
Ficha técnica
- Ilustração: Anália Moraes
- Páginas: 304
- Formato: 14cm x 21cm
- Data de lançamento: 04/12/2017
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Os autores
Coletivo Literário TCD composto por:
Igor Pires da Silva, Letícia Loureiro e Maria Luiza Moreira
Ilustrações de Anália Moraes e Gabriela Barreira
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