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MÚSICA

Ana Carolina – 25 Anas no Araújo Vianna

Ana Carolina – 25 Anas no Araújo Vianna
  • Publishedagosto 26, 2025

Uma das mais talentosas cantoras do século 21, a mineira Ana Carolina de Souza, ou melhor Ana Carolina, está completando 25 anos de carreira. Em 1999, o Brasil parou pra ouvir aquela voz potente e vigorosa na canção Garganta, canção de Totonho Villeroy e um dos grandes sucessos da virada do século, que fez do seu disco de estreia vender estrondosas 250 mil cópias. Ana provou que não era fogo de palha e construiu uma das mais ricas carreiras das últimas décadas. Sempre ousada, autêntica, e tendo o talento a seu lado, encanta tanto como compositora quanto intérprete, além de ter fãs devotados que idolatram sua carreira. Ana, completando esses 25 anos de estrada, está com a tour 25 Anas, em que faz um pente fino na carreira de um quarto de século. E esse show acabou atrasando no Araújo Vianna, sexta-feira passada, e o NoSet foi lá para conferir.

Show marcado para as 21h30min. Normalmente no Araújo os shows começam às 21h, e mesmo assim, a cantora só subiu ao palco uma hora depois, em um dos atrasos mais longos que presenciei em mais de 100 coberturas na casa. Por mais que ame a artista, o público não perdoou e eram nítidas as caras de insatisfação que geraram altas vaias. Uma hora não é atraso, é uma falta de respeito, que se tu nao é tão fã do artista, o show já perdeu muito a graça. Mas eis que por volta das 22h35min surge a banda da artista. Todos os músicos na frente do palco mostrando sua destreza com o pandeiro. Logo depois, Ana surge com bastante roupa preta e com violão em punho, em cima do praticável, e abre o show com Armazém, de seu disco de estreia. Quase que em ritmo de medley emenda Garganta, o início de tudo e fecha este primeiro bloco com Me Sento na Rua.  Sem muito papo, ela desce da plataforma, larga o violão e pega o microfone para cantar O Tempo se Transforma em Memória e Tolerância. O público não sabia se estava cansado, aborrecido ou frio, mas apenas com Rosas, com flores ilustradas num vivo telão, que o povo levantou e começou a cantar junto o super sucesso de 2006. Não preciso dizer que a sua voz continua impecável. Com uma técnica incrível, sua robusta voz com alcance invejável é um deleite para os ouvidos e quanto mais o tempo passa, Ana melhora.

A artista então pega novamente o violão e sozinha, sentada, canta a bela Mais que Isso, mas é com a sua canção Mãe, que fez para a sua, falecida há dois anos, que emociona e se emociona, numa arrepiante poesia de devoção à saudosa mãe. O show segue com mais um apanhado da carreira com a animada Quem Dera Eu Seu Zé, do seu último álbum. A canção Nada Para Mim, do seu disco de estreia, e a ótima Ex, de seu último disco, em que faz uma música só com palavras que começam com “es” ou “ex”, num trocadilho com Ex, tendo o telão emulando todas essas palavras. Em Vestido Estampado, a talentosa banda canta à capela ao lado dela, todos os integrantes cantam muito bem. Mas a galera levanta mesmo é com Quem de Nós Dois. Digo que não só levanta, mas vibra, chora e canta junto com a cantora, talvez seu sucesso mais popular. Ana dá um show de técnica e alcance de voz e no fim se emociona, chora e é aplaudida de pé. Fica sem palavras com tamanha devoção e carinho de seus fãs, num momento de arrepiar da noite. 

O show segue com Tanta Saudade e Canção de Trás pra Frente, de seu último trabalho. Mesmo celebrando uma carreira, ela faz questão de mostrar material novo para seu público e de muita qualidade. O público dela é um show à parte, fãs idolatram a cantora, gritam, esperneiam e se declaram para a artista. Pena que a sincronia público e artista não seja tão recíproca. Ana é fria, tímida talvez, não dá boa noite, fala pouco e se limita a fazer o que sabe fazer, cantar quase sem parar, num show pegado com muitas canções. Coisas de artista, mas que não exime a falha de não apresentar a sua incrível banda com bateria, percussão, violoncelo, teclados, baixo e guitarra, que ficou devendo os nomes porque ela não se prestou a divulgar. Logo depois vem com É Isso Aí, aquele cover da música de The Blower’s Daughter, de Damien Rice, em que ela e Seu Jorge imortalizaram um dueto, mais uma vez a galera vai ao delírio e Ana mostra o porquê é uma das maiores cantoras do Brasil.

Ela e a banda fazem mais um show de pandeiros com Vox Populi, e com o violão em punho e banda na batida do instrumento, canta Cabide, de Mart’nália, que Ana gravou no seu ao vivo de 2008. O set seguiu com 2 Bicudos, Hoje Eu Tô Sozinha e Confesso, talvez na passagem mais morna do show com essa trinca de canções. Mas como ela sempre tira um coelho da cartola, canta Pra Rua Me Levar, outra que fez sucesso junto com Seu Jorge, e mais uma vez, hipnotiza a massa. Teva ainda Nua e 10 Minutos, um show de cajons dos seus músicos. E logo depois o telão mostra um google fazendo uma pesquisa sobre Ana Carolina e o ritmo de festa numa batida contagiante anuncia Lésbica Futurista, Lésbica Monossilábica e Poledance. Quase sem parar e agora com a plateia de pé, faz sua homenagem à Cássia Eller, a quem já dedicou uma tour recentemente, com o clássico Malandragem. Tem tempo ainda para tocar Sinais de Fogo e mais uma vez contagia o Araújo com um dos seus maiores sucessos, Encostar na Tua. Para finalizar o espetáculo segue com a ótima Elevador, terminado com chave de ouro e ovacionada a noite de uma  sexta-feira de agosto.

Como falei antes, nada justifica uma hora de atraso. Isso é de um estrelismo sem igual, e fora algumas exigências que prejudicaram o trabalho da imprensa e dos fotógrafos que ela pediu, mas prefiro não citar. Não tem como perdoar uma hora de atraso, isso é vergonhoso, mas falando de show e palco, Ana Carolina cumpriu o que esperávamos. Uma banda sensacional, um repertório escolhido a dedo num grandioso espetáculo, onde ela canta demais, mostra toda a sua habilidade como violonista e não deixa a desejar no que importa, o papel de artista. Se ela não fala, é quase monossilábica e tem pouca sintonia fora das canções com seu público, é uma característica dela, que eu particularmente não gosto, mas aí é com ela e seus fãs. Ana 25 Anos é um vigoroso espetáculo, onde a artista Ana Carolina está cada vez melhor e uma autohomenagem a sua vitoriosa carreira, que deixou quem é fã dela ou que gosta de boa música, super satisfeito, mas cansado com o estrelismo de uma hora de gelo para ver a artista no palco…

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

Written By
Lauro Roth