Quantas e quantas histórias de amor foram inspiradas no trágico destino de Romeu e Julieta? Muitas, reais e fictícias, algumas até tiveram início ou fim no cenário shakespeariano de Verona, Itália.
Talvez esse seja um dos mais antigos clichês vistos e revistos, mas que sempre funcionará, como funcionou no filme “Cartas Para Julieta”, de 2010. O longa é dirigido por Gary Winick e o texto é assinado por Jose Rivera e Tim Sullivan, disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video.
Sophie é uma aspirante a jornalista nova iorquina, noiva de Victor, um entusiasmado chef de cozinha que vem se preparando para abrir o seu primeiro restaurante. Eles decidem viajar antes da inauguração e do casamento, antes de todo o caos de ambos os eventos, e escolhem como destino Verona, a cidade do amor.
A ideia era ser uma pré-lua de mel, um momento só para ele, mas não é bem assim. Logo quando chegam Victor se empolga com os vinhedos e outros possíveis fornecedores do restaurante ao redor da cidade e isso não era o que Sophie quer fazer ou onde ela quer visitar. Eles combinam de ir para os respectivos destinos por um dia, que vira vários.
Enquanto Victor vai de vinhedo em vinhedo, leilão em leilão, Sophie visita a praça de Julieta, no centro da cidade. Lá tem a famosa sacada da história e um muro em que mulheres do mundo inteiro colocam suas cartas de amores não resolvidos. Ao final do dia ela ver uma moça recolhendo as cartas e a segue, para saber o que ela faz com essas histórias.
Sophie conhece as “Assistentes de Julieta”, um grupo de mulheres que responde as cartas da forma mais carinhosa possível, para que não fiquem sem resposta, sendo um alento para quem não tem resposta para dilemas amorosos. Isso muito interessa a mente de alguém que deseja ganhar a vida contando histórias no jornalismo.
Logo ela se une a esse grupo, no dia seguinte vai ajudar a recolher as cartas e, escondida entre as pedras, Sophie encontra uma carta marcada pelo tempo, assinada por Claire. Ela dizia que não pode ir encontrar com seu Lorenzo e que voltaria para a Inglaterra de coração partido. A carta nunca tinha sido respondida (nunca encontrada até aquele momento) e ela sentiu que precisava responder e assim o faz.
Menos de uma semana depois, ainda seguindo para rotas diferentes de Victor, Sophie e as outras assistentes de Julieta recebem uma visita rude, um moço inglês que praguejava para quem tivesse respondido a carta da avó. Ele é Charlie, neto de Claire, que escreveu a carta 50 anos atrás, a resposta demorou um pouco, mas a fez querer voltar a Verona e procurar seu Lorenzo.
O mal humor de Charlie se dava porque ele não via a missão da avó com bons olhos, achava uma loucura. Ele também não gostou de Sophie, porque ela não só encorajou a atitude, como pediu para acompanhar e para escrever a história deles. A pequena viagem de Claire, Charlie e Sophie duraria pouco, Lorenzo não estava no local que sua amada pensava.
Mas, para irritar ainda mais Charlie, Claire não quer desistir e Sophie usa suas habilidades de pesquisadora (ela confirmava fatos para as notícias e histórias do jornal onde trabalha) para traçar um plano de busca para Lorenzo. Demora um pouco, é frustrante e emocionante, quase acaba sem resolução, mas onde eles menos esperavam ele estava lá e reconheceu Claire, mesmo depois de 50 anos.
Quanto ao coração de Sophie? Ela sabia que estava certo passar a pré-lua de mel longe do noivo e eles não se importar com isso, sabia também que beijar Charlie debaixo do céu estrelado ainda estando noiva de Victor não era um sinal de um noivado duradouro.
O final do filme guarda a leitura da carta de Sophie para Claire, a resposta de Julieta, e uma das declarações de amor mais fofas.
A carta começa com “’E’ e ‘se’ são palavras que, por si, não apresentam nenhuma ameaça/ Mas, se colocadas juntas, lado a lado, elas têm o poder de nos assombrar a vida toda […]”.
A declaração de Charlie para Sophie termina um tanto dramática para um inglês sisudo, “[..] porque a verdade é que eu te amo … loucamente, profundamente, verdadeiramente e apaixonadamente”. Embora o filme seja todo inspirado em Shakespeare, esse trecho parece mais Jane Austen, a declaração de Mr. Darcy para Lizzi em “Orgulho e Preconceito”.
Lógico que amei, sendo Shakespeare ou Jane Austen, a cena é linda. Aliás, as cenas, elas são em sequência.
Esse filme é aquele que você assiste para aquecer o coração, um tanto quanto previsível, mas muito bem feito, o que segura a atenção até o final. Além disso tem paisagens lindas da região de Vêneto, onde fica Verona, e ao som de uma das músicas mais chicletes da última década (e que voltou a fazer sucesso por causa do TikTok), “Love Story”, de Taylor Swift.
Duvido não lembrar do toque do refrão só de ler o nome da música!
Agora imaginem passar 50 anos achando que nunca mais verá o amor da sua vida e, de repente, uma carta de “Julieta” chega, ainda mais com essa mensagem poderosa. E no meio do caminho ainda fazer o neto engolir o próprio orgulho e aprender a ser feliz. Imagino que muitos por aí precisariam só dessa carta para tomar uma atitude como a de Claire.
A resenha não ficaria completa sem eu falar do elenco.
Sophie é interpretada por Amanda Seyfried e seus enormes olhos expressivos, perfeita para filmes desse estilo e para ser chamada de Sophie, desde o melhor musical da vida, “Mamma Mia!”. Falo mais dela lá na resenha de “Meu Amigo Enzo”!
Claire é vivida por Vanessa Redgrave, inspirando todos com uma mulher forte e que acredita em um amor incondicional, além da beleza em qualquer idade. Ela tem uma carreira de atriz igualmente inspiradora, sendo a ganhadora do Oscar de Atriz Coadjuvante 1978 pelo filme “Julia” e foi indicada mais 05 vezes.
Charlie é interpretado por Christopher Egan, conhecido pelos filmes “Eragon” e “Residente Evil: A Extinção”. Ao ver a cena dele da declaração, aquela que eu disse que parece ser inspirada em Mr. Darcy, eu ainda lembrei de outra referência, “10 Coisas que Eu Odeio em Você”, juntou a vibe de Shakespeare do filme a semelhança dele com Heath Ledger.
Victor, o noivo de Sophie, é vivido por um cômico Gael García Bernal. A primeira vez que assisti “Cartas Para Julieta” eu estranhei Victor porque ainda tinha na minha mente Gael como Che Guevara, em “Diários de Motocicleta”, personagens completamente diferentes, ao assistir novamente (pela 5ª, pelo menos) vejo o quão bom ele é nesse filme. Ele também marcou bem a carreira dele ao dar a voz a Hector, em “Viva – A Vida é Uma Festa” e pela série “Mozart in The Jungle”, tendo ganho o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical no ano de 2016 por ela.
Ah, spoiler aqui, Claire encontra o seu Lorenzo, que é interpretado por Franco Nero, que vem a ser o marido de Vanessa Redgrave na vida real, o que torna tudo ainda mais romântico.
Eu me declaro loucamente, profundamente e verdadeiramente apaixonada por esse filme. E você?
Até mais!