Vou ser bem honesto. Desde a coletiva com James Cameron e Robert Rodriguez que as expectativas para Alita só aumentaram. Afinal, o que esperar de um live action de um dos mangás mais aclamados, sucesso de vendas e admirado até pelos críticos?
Só fiquei preocupado com a receptividade do mesmo em função do baixo público de Ghost in the Shell – A Vigilante do Amanhã, que foi injustiçado e teve um resultado pífio nas bilheterias. Assim, temeroso de que os famigerados “haters” tentem fazer o mesmo com Alita, deixo para vocês todos os motivos para que vão ao cinema e assistam a um filme ótimo e respeitoso com a a obra original.
Antes, o já tradicional trailer só para aguçar a curiosidade. Please, stay with me…
James Cameron e Robert Rodriguez.
Cineastas consagrados e respeitados por críticos, espectadores e outros diretores, James Cameron e Robert Rodriguez foram os pilares de sustentação da obra cinematográfica junto às produtoras e também diante daqueles que amam o mangá de autoria de Yukito Kishiro.
Mas o filme fez jus ao mangá ou foi apenas mais um longa mediano e frágil de estrutura?
Na verdade, Alita superou 100% das expectativas. Mesmo com minha aprovação para Ghost in the Shell, eu ainda nutria temores diante dessa produção cujo teor deveria ser fiel ao material original ou, indubitavelmente, estaria fadado ao fracasso.
Então, após a coletiva via Facebook na qual Cameron e Rodriguez ao lado de Rosa Salazar (Alita) debateram o filme e responderam fãs do mundo todo, percebi que estava diante de um longa-metragem diferenciado, cujo resultado final seria aquilo que eu e outros fãs do mangá desejávamos.
E eu acertei…
Sobre o roteiro.
O filme é baseado na obra Battle Angel Alita – Gunnm Huper Future Vision, de autoria de Yukito Kishiro. No Brasil esse mangá foi publicado em 4 edições gigantes pela JBC. Apesar de pequenas mudanças no desenvolvimento da trama e personagens, o longa segue quase que na íntegra o que está no primeiro volume publicado pela JBC.
Ao seguir basicamente a estrutura do mangá, os produtores James Cameron e Jon Landau foram muito felizes em dar vida ao que só havíamos visto nos quadrinhos. Com a direção de Robert Rodriguez (que criou o roteiro com Cameron e Laeta Kalogridis), tivemos a perfeita fusão do mangá e de todos os recursos que o cinema atual oferece para dar vida não apenas à Alita como a todos os principais personagens presentes na obra original. Claro que há pequenas inclusões e alterações que, dentro do meu entendimento, deram mais dinâmica e credibilidade ao filme. Resumidamente, mangá e filme são obras quase idênticas, porém distintas.
O roteiro cinematográfico nos apresenta ao doutor Dyson Ido (Christoph Waltz), um cirurgião e perito em ciborgues. Ido, em uma de suas buscas por peças sobressalentes, encontra o tronco danificado de uma ciborgue. Com sua experiência e talento, ele traz de volta à vida a pequenina que ele batiza como Alita. Mas em um mundo onde quase todos usam algum tipo de prótese e é preciso estar atento para permanecer vivo, tudo pode ocorrer. Aos poucos Alita se adapta a essa nova realidade e descobre coisas de um passado esquecido.
Ao lado de Hugo (Keean Johnson), a ciborgue percebe que seu potencial está muito além daqueles que a cercam, mas descobrir quem realmente ela foi passa a ser sua prioridade.
Em meio a atitudes estranhas de seu salvador, o doutor Ido, assim como há um lado de Hugo que ela desconhece, Alita chama a atenção de Vector (Mahershala Ali), dos Guerreiros Caçadores e, principalmente, de Nova (personagem que só se revela ao final da trama).
Comparações entre o mangá e o filme.
Basicamente o longa-metragem se baseia no primeiro volume de Alita Battle Angel. Quase todos os elementos do mangá estão presentes no filme, ainda que com pequenas alterações.
A auxiliar de Ido no filme é a enfermeira Gerhad (Idara Victor), enquanto no mangá Ido tem um ajudante chamado Gon. Outra divergência é o próprio nome completo de Ido que na película é Dyson Ido e nos quadrinhos Daisuke Ido.
Alita recebe esse nome na versão cinematográfica em homenagem à filha de Ido. No mangá, Alita (na verdade Gally na versão original japonesa) era um cachorro de Ido. Aliás, os cães têm participações interessantes nas duas versões.
Hugo é chamado de Yugo no mangá.
Outro destaque do filme é o esporte Motorball (uma espécie de Rollerball com ciborgues). Esse evento realmente existe no universo de Alita, mas só aparece nos dois últimos volumes da série publicada pela JBC.
A personagem Chiren (Jennifer Connelly) que é esposa de Ido e mãe da verdadeira Alita tem papel primordial na trama do cinema, porém ela não existe no mangá, mas aparece em um OVA.
Função social do filme.
Pode parecer ilógico, mas Alita: Anjo de Combate tem uma função social importantíssima. O longa serve como um alerta sobre o descaso com as pessoas que não têm acesso às próteses (ainda bastante caras) sejam elas vítimas de acidentes, má formação congenita ou outro motivo. Os habitantes de Iron City (uma cidade bem ao estilo Blade Runner, porém centralizada em um ferro-velho gigante) em sua maioria dependem da caridade de homens como Ido. Em contrapartida, Zalem, a última cidade flutuante, é um paraíso. Isso fica ainda mais evidente quando descobrimos que Nova tudo vê e tudo comando por lá.
Para evidenciar a necessidade de acesso a todos aos recursos que hoje temos, James Cameron apresenta um vídeo onde conhecemos a pequena Tilly Lockey que perdeu os antebraços por causa de uma doença. Mesmo com tais limitações, a menina tem sede de viver e aprender (assim como Alita) e, com o uso de próteses, isso vai ocorrendo. O problema está no fato de que crianças crescem, fato que inutiliza a prótese. Por ainda serem caras, Tilly nem sempre usa uma prótese ideal.
Em parceria com a Open Bionics, os projetistas do filme criaram braços mecânicos com design parecido com os da própria protagonista do filme. Capas protetoras para as próteses inspiradas no filme estão disponíveis a qualquer um. Alita serve para relembrar que a humanidade ao usar corretamente a tecnologia terá muitos benefícios e melhorias na qualidade de vida.
Para compreender melhor essa história e a fábula por trás do longa-metragem, vejam o vídeo.
Efeitos visuais, digitais e atuações.
É fato que o mangá trouxe incontáveis inspirações para o filme. Entretanto, não podemos esquecer que criar aquilo que estava apenas no papel é de uma grandiosidade indiscutível, principalmente se levarmos em conta o resultado final que foi surpreendente.
Em quase toda a película nós nos deparamos com seres cibernéticos impressionantes, críveis e detalhados ao extremo. Diferente da bagunça visual que existe na série Transformers (exceto Bumblebee), Alita: Anjo de Batalha tem o capricho destacado na tela. Nada foi feito às pressas e recebemos um bálsamo visual do início ao fim da projeção.
As atuações são ótimas e não se restringem aos astros da trama, pois muitos coadjuvantes – mesmo com pouco tempo de tela – mostram qualidade e competência em suas interpretações.
Claro que um elenco com Christoph Waltz, Jennifer Connelly, Mahershala Ali e Rosa Salazar ajuda… e muito.
A transposição do mangá para o cinema da personagem Alita é o sonho de qualquer fã da trama original. Eu gostei demais da modificação digital do rosto da atriz para que seus olhos fiquem similares aos dos personagens de mangás. As armaduras e Iron City são um presente para qualquer admirador do gênero Cyberpunk, assim como o vislumbre que tivemos de Zalem.
As cenas de luta no bar Kansas entre Alita e os Guerreiros Caçadores são uns dos pontos altos da trama, assim como acontece no mangá. As revelações de conluios e traições dão um toque a mais na história… e isso é bom.
O final do filme mostra de forma clara que haverá uma sequência. Eu, honestamente, torço para que isso ocorra o mais breve possível. Alita é um dos melhores filmes que vi oriundos dos mangás e certamente merece o sucesso para que novas produções de igual qualidade surjam.
P.S.: não há cenas pós-créditos. P.S.2: o final do post tem um Behind the scenes…