Além da Morte: um remake que poderia ser bem melhor.

Além da morte [no original: Flatliners] é um fruto da cada vez maior e mais fecunda árvore de refilmagens dos grandes estúdios. Um negócio de pouquíssimo risco. Enredos e roteiros que já foram testados e aprovados pelo público, com uma nova roupagem e orçamento limitado. O lucro é, praticamente, garantido. Não há aqui, propriamente, uma crítica. Não se pode esquecer que a palavra “indústria” vem antes de “cinematográfica”.

O filme original, que recebeu no Brasil o nome de Linha Mortal, é de 1990. Tinha um excelente elenco, com Julia Roberts, Kiefer Sutherland, William Baldwin, Kevin Bacon e Oliver Platt. A direção foi de Joel Schumacher, de O Primeiro Ano do Resto de Nossas Vidas, Um Dia de Fúria, Os Garotos Perdidos, Ninguém é Perfeito, entre outros bons filmes. Uma combinação que dificilmente daria errado.

O novo filme tem a volta de Kiefer Sutherland, desta vez como o médico Nelson Wright. Aqui, o primeiro deslize. O personagem não tem qualquer papel na trama. Há um desperdício de talento e a impressão de que inicialmente se pensou em utilizá-lo como uma espécie de “guia” ou mestre para os demais personagens. Depois, a ideia foi abandonada. É sintomático que o próprio Sutherland deu entrevistas durante as filmagens, sugerindo que Além da Morte seria não uma refilmagem, mas sim uma continuação do primeiro filme e que ele viveria o mesmo personagem, anos mais velho. Nada disso é trabalhado no novo filme, contudo.

      O restante do elenco traz uma estrela consolidada, Ellen Page, indicada com melhor atriz para o Oscar por seu papel em Juno, e com participação em outros sucessos, como a franquia X-Men. Tem uma estrela em ascensão, Diego Luna, de Rogue One: Uma História Star Wars e Elysium. Os demais atores, Nina Dobrev, James Norton e Kiersey Clemons, tentam o seu lugar ao sol, depois de pequenos papéis em filmes e seriados. A direção ficou a cargo do dinamarquês Niels Arden Oplev, do muito bom Os Homens que Não Amavam as Mulheres e que, aqui, faz um trabalho sem o mesmo brilho, embora não possa ser qualificado como ruim.

Na trama, a estudante de medicina Courtney Holmes (Ellen Page) tem fixação na ideia de vida depois da morte. Com alguma resistência, convence outros estudantes que realizam sua residência no mesmo hospital a participarem de uma experiência: provocar nela uma parada cardiorrespiratória, monitorar e gravar em diversos aparelhos, como um tomógrafo, o que ocorre em seu cérebro durante o período no qual permanece morta e, por fim, reanimá-la.

O experimento, inicialmente, funciona. Courtney retorna da morte com maios disposição e com acréscimo na sua capacidade de memória. Os resultados estimulam os demais a se submeterem ao experimento, com períodos de “morte” cada vez maiores.

Em determinado momento, todos os que participaram começam a sofrer visões ligadas a algum fato do seu próprio passado, que lhes cause remorso ou embaraço. O filme, então, resvala para o horror, sem que o público consiga identificar se as visões são reais ou se são apenas fruto de uma alucinação dos personagens.

É muito difícil realizar a crítica de Além da Morte, sem estabelecer a comparação com Linha Mortal. Neste, há uma maior profundidade na construção dos personagens, incluindo os traumas que voltam para os assombrar. O suspense é mais refinado. A câmera detém-se mais em closes nos atores, que entregam uma atuação consistente. Já na refilmagem, o ritmo da história é mais ágil, com prejuízo para a construção do passado dos protagonistas. Alguns dos dramas explorados são frágeis e pouco convincentes. Surpreendentemente, mesmo com esta fragilidade no roteiro, as atuações são boas. Há química entre os personagens, o que considero o ponto alto de Além da Morte.

Em conclusão, a refilmagem, em seu conjunto, é inferior ao original. Se quiser optar por um deles, veja o de 1990. Mesmo assim, a refilmagem é um bom suspense, que agradará, principalmente, aqueles que gostam do gênero.

 

 

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