Animações raramente são tão bobinhas quanto aparentam, geralmente têm uma lição de moral por trás que faz marmanjo chorar mais do que grandes filmes de drama.
A DreamWorks acaba de lançar “Abominável”, que pode até não ser a mais filosófico das animações, mas tem suas belas lições e aprendizados, sem contar com uma delicadeza ao contar uma histórica mítica e com muitas referências orientais.
Yi é uma adolescente em meio ao centro urbano chinês, mas que tem passado por algumas dificuldades. Há poucos meses perdeu seu pai, de quem era muito próxima e quem lhe ensinou a arte do violino. Hoje vive em um apartamento só com a mãe e a avó, só que ela sempre está distante delas duas.
Também não se interessa em ter amigos em vida social, está sempre isolada. Ela cresceu ao lado do vizinho Jin, que hoje é um cara fútil e popular, mas que tem sob sua responsabilidade Peng, um garotinho de uns 10 anos, animado e que sonha em ser um grande jogador de basquete.
Um certo dia Yi encontra algo estranho em seu terraço, que é onde guarda as lembranças de seu pai, como o violino, algumas fotos e postais dos lugares que iria visitar com ele. Essa “coisa” estranha está sendo perseguida por helicópteros e ela ver que precisa ajudar.
Depois do susto inicial, Yi percebe que o está ali na sua frente é um Yeti, ou Abominável Homem das Neves, só que assustado e querendo ir para casa, o Everest. Eles têm certa conexão, por isso Yi entende que é ela quem deve o levar para casa, mas isso acontece sem nenhum planejamento.
Na noite seguinte os vizinhos Jin e Peng vêm Everest (ela passa a o chamar assim) com Yi e acham que ela está em perigo, por isso seguem os dois na fuga. Mesmo com muita resistência de Jin, os dois amigos pulam na aventura com a amiga e a criatura.
Essa criatura foi capturada por Burnish, que escalou o Everest e precisa provar a existência de yetis, ele conta com a ajuda de Dra. Zara, zoóloga. Só que eles deixam que esse yeti escape do laboratório e agora precisam o capturar de volta.
Na aventura de Yi, Everest, Peng e Jin algumas coisas são descobertas: Everest é só uma criança, que só quer voltar para os pais; ele tem poderes que se conectam com a natureza; Yi ainda sofre com a perda do pai, mas só sabe se afastar de tudo e de todos; Jin ainda lembra de como é ser um ser humano normal, que se importa com a amiga e com o primo … Ah, ele não quer ser médico, é só vaidade.
Em encontros e desencontros, lições aprendidas e perseguição em andamento, Everest mostra a Yi algo impressionante, eles estiveram em todos os lugares que ela havia planejado ir com o pai, faltando apenas o Grande Budha, onde estavam chegando. Lá em cima daquela impressionante estátua natural ela toca seu violino, que agora tem cordas de pelo de yeti, e sente a presença do pai.
Deixando alguns detalhes mais emocionantes para que vocês possam ver nos cinemas, posso adiantar que eles conseguiram chegar ao topo do Everest e deixar o Everest com a família. Depois disso a vida voltou ao normal, só que agora com Yi mais próxima da família, convivendo mais com os amigos e com menos peso no coração.
Como disse antes, não é a animação mais reflexiva que existe, mas é muito lindinha, ensina, mais uma vez, o valor da família e da vida real (Jin era o louco do Instagram antes da aventura), além de ter muitos elementos muito bonitos ao longo do filme.
E digo bonito não só no sentido figurado, mas também no sentido prático da coisa. A animação é perfeita, dá para perceber as nuances dos pelos de Everest, quase dá para sentir a maciez dele, assim como a perfeição das flores e frutas na floresta. Tem uma cena que eles vêm as carpas subindo rio, é quando eles falam de resiliência, a água desse rio parece que foi filmada em um rio de verdade e a carpas também estão perfeitas.
Essa cena serve de referência no final. Quando eles chegam perto do Everest a equipe da zoóloga, que se mostra ser a vilã, tenta impedir a passagem deles, entre uma briga e outra os meninos vencem, mas ainda precisam chegar ao topo. Nessa hora Everest faz sua mágica, transformando nuvens geladas em carpas, que os levam para o topo, só que outras nuvens servem como o rio. Ou seja, eles foram resilientes e conseguiram cumprir a promessa feita.
Tem outros detalhes bem interessantes, como o contraste da vida urbana e a vida rural da China. Quando eles estão na cidade grande tem tudo aquilo que conhecemos da cultura pop, especialmente da juventude chinesa e japonesa, mas quando eles vão para o interior e passam por vilarejos, por exemplo, é possível notar que ainda tem resquícios de uma vida simples ali.
Entender o Sr. Burnish é essencial, você começa o filme odiando o velhinho, a ambição dele, a vontade dele de expor essa criatura rara, em especial quando se mostra que se trata de uma criança. Daí você vai percebendo os motivos e as influências dele.
Ele foi desacredita pela comunidade científica quando era jovem porque disse que conheceu os yetis, mas nunca provou. Daí ele passou a vida inteira tentando superar esse sentimento de fracasso, o que poderia ser revertido por boas companhias, mas ele encontra no caminho Dra. Zara, que passa a imagem de inofensiva, mas tudo que quer é vender a criatura para ter algum lucro.
No final, ela que quer prejudicar e ele aprender que os meninos e com Everest que não deve provar nada a ninguém!
A trilha sonora é de tirar o fôlego! “Beautiful Life”, de Bebe Rexha, e “Dreams”, de Phil Beaudreu, foram escritas e gravadas especialmente para o filme, já “Girl’s Gotta”, de Danger Twins, e Fix You, de Cold Play, receberem versões especiais.
Sério, galera, melhor versão de “Fix You” que você escutará!!!
Tem ainda as músicas que Yi toca no violino, que foram compostas somente para o filme, são muito lindas e sensíveis. Quem gosta de música clássica nada careta vai gostar, em especial o dueto dela com Everest. Pesquise no Spotify “Abominable” (o nome em inglês) que todas as músicas estão lá.
Até a próxima.