Sabe aqueles filmes que todos indicam, mas, por alguma razão (que nunca lembramos), deixamos sempre para assistir depois? Um dos que estavam na minha lista era “As Vantagens de Ser Invisível”.
Ao assistir a minha primeira grande reação foi: por que demorei tanto para assistir esse filme?
Esse longa é uma adaptação cinematográfica do livro homônimo de Stephen Chbosky, que também assina o roteiro e a direção. Está disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video.
Charlie não teve uma vida muito fácil até seus 16 anos (mais ou menos), tem uma histórica dramática relacionada à tia (que só entendemos no final), o único amigo dele cometeu suicídio e ele sofre com depressão (e talvez outras disfunções mentais).
Enfrentar o ensino médio já é bem difícil, mas com esse histórico de Charlie parecia algo de outro mundo. O primeiro dia é uma grande batalha, a grande sorte do dia é o professor de literatura, que percebe o quão Charlie gosta do assunto, ele o ajuda na empreitada dele para ser escritor.
Para fazer amigos Charlie teria que se abrir um pouco para o mundo, enquanto isso ele escrevia cartas para o amigo que havia falecido, porque era com quem ele conseguia conversar. Mas, lógico, que ele queria se enturmar, então viu em Patrick, o “palhaço da turma”, um amigo em potencial.
E ele estava certo, Patrick aparentava não levar nada a sério, mas era só fachada, ele não só sabia agregar amizades de verdade como ele mesmo precisava de um amigo como Charlie. Junto com Patrick veio sua turma, que incluía a “irmã” (filha da madrasta dele), Sam.
Desculpe-me a comparação piegas (e brega, talvez), mas, Patrick e Sam pareciam ser o arco-íris depois das tempestades na vida de Charlie. Abrigaram o moço e o apresentaram ao mundo real.
O que era bom e ruim ao mesmo tempo. Bom porque Charlie viu o que ele poderia viver se superasse seus medos e barreiras, ruim porque algumas coisas poderiam ser gatilhos mentais para seus problemas de uma vida inteira (acarretando recaídas).
Primeiro ele experimentou o lado bom, as festas, as músicas, os projetos de teatro, as conversas bestas de fim de noite, os momentos de paquera … Ele se apaixonou por Sam, mas achou que ela não queria, então não falou nada, eles acabaram se envolvendo com outras pessoas.
No momento em que Charlie mostrou seus sentimentos reais ele experimentou o lado ruim. Teve que se afastar daquele grupo, de Sam e de Patrick, voltou a passar os dias na escola fazendo os projetos individuais de literatura.
Patrick e Sam também travavam lutas pessoais. Patrick não podia assumir o relacionamento com Brad, que precisava ser o “hétero top” por causa do pai. Sam já tinha passado por seus relacionamentos complicados e “má fama”, agora queria provar para ela e para todos que valia mais do que seu passado.
Charlie volta a vida dos irmãos quando Patrick mais precisou, aproveitando para ser sincero com Sam.
Quando pensamos em filmes adolescentes sempre vem à mente narrações rasas, o que nem sempre é ruim, mas torna o gênero estereotipado. Talvez por isso eu não tenha dado o valor correto a esse filme, demorando para assistir.
Eu até gosto dos filmes adolescentes, mas nunca dou o valor devido, isso ajuda a me surpreender.
Em menos de 2h de filme esses três personagens fazem com que você faça uma análise complexa dos problemas sociais como a homofobia, a violência, os relacionamentos abusivos e os problemas psicológicos, cada vez mais recorrentes em adolescentes.
A cena mais conhecida do filme é a do túnel, a que Sam sobre no carro e sente o vento, ao som de uma música que acaba de conhecer, e que foi replicada por Charlie no final do filme. Todo o conjunto das duas cenas passa a sensação de liberdade, de emoção, mas ainda não é a minha cena preferida.
Eu gosto das cenas em que Charlie conversa com o professor de literatura, Bill Anderson. São poucas falas, cenas rápidas, mas esse professor de fato o enxerga e, sem precisar conhecer os detalhes, sabe que ele precisa dessa ajuda. Foi numa dessas que surgiu a frase mais reflexiva: “Aceitamos o amor que achamos que merecemos”.
Será que o que nós achamos que merecemos é de fato o que merecemos? Algumas vezes nós nos subjugamos, não nos vemos de verdade, e é aí que aceitamos menos do que merecemos!
Algo que notei foi o foco real nesse trio, mesmo o elenco contando com grandes nomes tanto entre os adolescentes quanto entre os adultos.
Os pais de Charlie são interpretados por Dylan McDermott e Kate Walsh. Ele ainda não era muito conhecido na época (o filme é de 2012), agora é que tem ganhado destaque, especialmente por causa de “Hollywood”, mas ela já era muito conhecida por “Grey’s Anatomy” e “Private Practice”.
O professor Bill Anderson é vivido por Paul Rudd, sendo, possivelmente, um dos primeiros personagens sérios dele, depois de muitas comédias, começando por “Patricinhas de Beverly Hills”, “Friends” e participações em programas de humor.
Ao ver a relação desse professor com esse aluno eu me lembrei dos professores do meu ensino médio, com quem fiz amizade e aprendi muito além de matemática, biologia, história ou o que iria cair no ENEM (fiz o primeiro do formato atual, aquele que foi roubado).
Ainda teve a participação de Joan Cusack, como a psiquiatra de Charlie, só aparecendo em duas cenas. Joan é famosa é emprestar sua voz para Jessie na franquia de “Toy Story”, muitas participações em “Saturday Night Light” e em filmes como “Sonhos do Gelo” e “Delírios de Becky Bloom”.
O trio Charlie, Patrick e Sam é formado por três nomes que fazem toda a diferença.
Charlie é interpretado por Logan Lerman, conseguindo passar para o público toda a confusão mental do personagem, assim como a sua bondade, amizade e pureza dele. Charlie não julga nenhuma atitude errada dos amigos, ele se preocupa genuinamente com a forma que a irmã é tratada pelo namorado e não espera nada de ninguém. O único que ele mostra um pouco de rancor é Brad, porque ele não teve a decência de defender Patrick em público.
Obs.: tenho opinião controversa, eu gosto de Percy Jackson, dos dois filmes. Nunca li os livros, talvez seja por isso, mas também porque me apeguei ao elenco.
Ah, Logan Lerman já tem mostrado seu valor como ator em filmes como “Os Três Mosqueteiros” e na série “Hunters”.
Patrick, por sua vez, é vivido por Ezra Miller. Confesso que só o conhecia das notícias da “Liga da Justiça”, porque ele vive o Flash dos filmes da DC, lembro das polêmicas por terem o escolhido, nunca assisti “Precisamos Falar Sobre o Kevin”, que é um dos pontos altos da carreira dele.
Mas ao o ver em “As Vantagens de Ser Invisível” eu vi um ator muito interessante, desses que podem fazer comédia e drama com a mesma facilidade. Ele tem um quê artístico que caiu perfeitamente em Patrick, com aquele tom levemente ácido, sempre bem vestido e bem humorado, mesmo com os dramas pessoais… aquela pessoa que dá vontade ser amiga.
Sam é vivida por Emma Watson e eu não precisaria falar mais nada sobre ela, porque sua fama a precede, a eterna Hermione da saga de Harry Potter e a Bella do live-action de “A Bela e a Fera”, também esteve em “Adoráveis Mulheres” (versão 2019).
Eu nunca fui fã de Harry Potter, mas sempre me inspirei em Emma Watson, em seus discursos e envolvimento com questões ambientais e, mais recentemente, sua atuação nos bastidores da moda.
Como atriz eu tenho aprendido a gostar desde Bella, mas eu deveria ter assistido “As Vantagens de Ser Invisível” antes, eu teria me interessado mais nela. Detalhe importante, nesse filme ela interpreta uma adolescente estadunidense e ela consegue fazer o sotaque correto, nem de perto lembra o britânico.
Outras quatro atrizes que fazem aparição no filme e merecem menção aqui são:
– Nina Dobrev, Elena/Katherine de “Diários de um Vampiro”, sendo a irmã de Charlie, Candace;
– Melanie Lynskey, Rose de “Two and a Half Man”, como a tia de Charlie (aparece me flashbacks quando ele encontra alguns gatilhos);
– Mae Whitman interepreta Mary Elizabeth, com quem Charlie namora brevemente. Mae fez filmes como “The DUFF” e “Scott Pilgrim Contra o Mundo”, mas um dos primeiros trabalhos dela foi sendo filha de George Clooney em “Um Dia Especial”;
– Julia Garner, de “Ozark” e “Modern Love”, ela era umas amigas de Candace.
Sejam diferentes de mim e não percam mais tempo para assistir “As Vantagens de Ser Invisível”.
Até Mais!