Close
CRÍTICAS FILMES

A vida floresce de diferentes formas – “Uma Beleza Fantástica”

A vida floresce de diferentes formas – “Uma Beleza Fantástica”
  • Publicado em: agosto 12, 2020

O mundo precisa de filmes mais bonitos, mais poéticos, que inspirem mais as pessoas. A produção de 2016, “Uma Beleza Fantástica” é um desses filmes.

Bella Brown é uma menina que cresceu em um orfanato no interior da Inglaterra, nunca conheceu os pais e desenvolveu um comportamento “esquisito”, uma eterna mania de organização. Tinha amor pelos livros, mas aversão às plantas.

Ela sonha em ser escritora, tem tentado escrever um livro infantil, e, enquanto não consegue, trabalha como bibliotecária. Bella vive sozinha em uma casa extremamente organizada e limpa, contrastando com o caos que é seu jardim. Não tem amigos, é reservada e tímida.

O vizinho dela, Alfie, é um senhor de idade ranzinza e mal patrão para a enfermeira, Millie, e para o cozinheiro irlandês, Vernon. Por outro lado, ele tem um amor aparentemente inexplicável pelas flores, seu jardim é impecável. Aflie não suporta ver o jardim morto e bagunçado de Bella.

Bella gosta do trabalho, mas, apesar de toda a organização, sempre chega atrasada e tem que lidar com uma patroa nada simpática. Um dia surgiu um atrativo a mais por, lá jovem designer/inventor, William “Billy” Tranter.

Billy era o exato oposto de Bella, bagunceiro que só ele, espalhava o material de pesquisa para todo lado e ainda levava lanche, mesmo sabendo que não poderia comer dentro da biblioteca. Bella começa a notar os desenhos nos cadernos dele e isso a inspira para seu livro, deixa-a curiosa sobre o que ele faz.

Em casa ele enfrenta um conflito com Alfie, ganhando como amigo e aliado Vernon. E foi necessário esse apoio, porque Bella recebe a notícia que seria despejada caso não arrumasse o jardim. Aos poucos ela se aproxima de Alfie, superando o medo das flores, descobrindo sua beleza.

Em poucas semanas ela ganha a amizade de Alfie, de Vernon (e das filhas dele) e se permite se apaixonar por Billy e suas invenções, que, à propósito, torna-se personagem principal do livro dela. Era Luna, um pássaro automatizado.

Bella escreve o livro usando Luna como uma alegoria dela mesma, aprendendo a voar com suas experiências.

A beleza desse filme não é só no nome, é em todo o conjunto da obra, o texto, a fotografia, o elenco, o contexto. É deslumbrante como a história vai sendo conduzida, como Bella vai se abrindo para o mundo com a delicadeza dela, os aprendizados que Alfie tem para oferecer, apesar dos pesares.

A relação entre Alfie, Vernon e Bella tem muita lição escondida. Alfie e Vernon viviam brigando, mas no fundo um precisava e se importava com o outro, e depois passaram a cuidar e se preocuparem com Bella. Não há segundas intenções em momento algum, são relações de pura amizade e humanidade.

Vernon é um personagem bem importante para o desfecho total. Ele foi o primeiro que “invadiu” o mundinho de Bella, em uma das cenas mais loucas do filme, mas foi se tornando essencial para que ela visse o mundo de forma diferente, aceitasse aquela amizade. A confusão dele a ajudou a sair do casulo dela.

Billy também traz o elemento da confusão, mas no caso dele são as experiências de vida que ela precisava ter ou se lembrar para poder registrar em um livro. Além de ser o par imperfeitamente perfeito para ele, o oposto que faz sentido.

Bella passou a vida se protegendo de tudo que poderia a machucar, mas foi quando ela enfrentou seus medos, deixou que as pessoas e os riscos se aproximarem dela que ela começou a viver de fato.

É uma história emocionante, ganhou uma vaguinha no meu top 10 de filmes preferidos (ainda não sei o que eu tiraria) e me fez lembrar de outro queridinho, que é “O Fabuloso Destino de Amelie Poulin”.

Por que lembrei de Amelie? Porque tem aquela mesma atmosfera poética, com um narrador que conta a história da personagem logo no começo, além de serem personagem peculiares e do uso de símbolos para passar belas lições de vida.

Não tem Crème Brûlée com casquinha para quebrar, mas tem um cookie com a receita especial de Vernon e muita beleza envolvida.

O elenco é pequeno, o que combina com a narrativa, mas cativante.

Belle é vivida por duas atrizes, uma na infância e outra adulta. Bella criança é Mia Farkasovska, que só tem “Uma Beleza Fantástica” em seu currículo, já a Bella adulta coleciona bons trabalhos e deveria ser mais conhecida, ela é Jessica Brown Findlay.

Jessica ficou famosa por sua Lady Sybil, em “Downton Abbey”, mas antes já tinha passado por “Black Mirror”. Depois ela apareceu em produções como “Victor Frankenstein”, “A Sociedade Literária e a Torta de Casca de Batata” (já é bem a terceira vez que eu cito esse filme, talvez seja a hora de eu trazer a resenha dele), “Hamlet” e, atualmente, está em “Castlevania” e “Brave New World”.

Eu vim saber quem era Jessica Brown Findlay por causa de “Downton Abbey”, porque Lady Sybil é um dos meus personagens preferidos, mas aos poucos fui descobrindo o tanto que eu já a tinha visto e revi “Uma Beleza Fantástica” por causa disso. Virei fã, o olhar dela é de uma delicadeza inacreditável, contrastando com a intensidade de algumas de suas personagens.

Alfie é vivido por um veterano, Tom Wilkinson, conhecido por filmes como “A Garota com o Brinco de Pérola”, “Batman Begins”, “Shakespeare Apaixonado” e “O Patriota”. Wilkinson ainda empresta a voz para a narração da vida de Bella.

O simpático, neurótico, dramático e necessário (acho que ele é canceriano) Vernon é interpretado por Andrew Scott, cuja carreira está em ascensão, especialmente por sua participação dele em “Fleabag”, “Modern Love” e “1917”.

Adrew Scott e Jessica Brown Findlay trabalharam juntos em “Victos Frankenstein” e “Hamlet”.

Billy, o inventor/designer desengonçadamente charmoso, é vivido por Jeremy Irvine, conhecido por “Cavalo de Guerra”, “A Mulher de Preto 2: O Anjo da Morte”, “Uma Longa Viagem” e, lógico, como o jovem Sam Carmichael em “Mamma Mia! Here We Go Again”.

O elenco ainda conta com Anna Chancellor (“Tudo que uma garota quer”, “Quatro Casamentos e Um Funeral), como a patroa de Bella na biblioteca, e Eileen Davis (“A Teoria de Tudo”, “No Topo do Poder”), como a enfermeira de Alfie, Milly.

Infelizmente, “Uma Beleza Fantástica” acaba de sair do catálogo da Netflix, fica a esperança de voltar ou de entrar no catálogo dos outros streamings.

Vale a pena sonhar e aprender com Bella Brown.

Até mais!

Written By
Nivia Xaxa

Advogada, focada no Direito da Moda (Fashion Law), bailarina amadora (clássico e jazz) e apaixonada por cultura pop. Amo escrever, ainda mais quando se trata de livros, filmes e séries.