A Verdade Importa – “The Report”

O mundo mudou depois do atentado que os EUA sofreram no fatídico 11 de setembro de 2001, o próprio país passou a ser ainda mais precavido, para não dizer paranoico, e isso pode ter tido resultados devastadores que poucos conhecem.

No longa “The Report”, de Scott Burns, disponível no catálogo nacional do Amazon Prime Video, um desses resultados é mostrado, o tratamento desumano que os estadunidenses tiveram para com os muçulmanos.

Daniel Jones é um membro da equipe da senadora Diane Feinstein, idealista e motivado a fazer a diferença de dentro, ele é recrutado por ela para fazer um relatório sobre um projeto que o governo dos EUA criou para investigar possíveis novos ataques terroristas.

O relatório exigia extremo sigilo e cuidado, Daniel e sua equipe iria descobrir fatos que as autoridades passaram meses tentando esconder (e que muitos ainda tentam negar até hoje), não era um trabalho para qualquer um.

Foram 05 anos (entre 2007 e 2012, mais ou menos) dentro de uma sala supersecreta, páginas e páginas detalhando um projeto que validava e justificava o uso da tortura em presos muçulmanos, mesmo que não houvesse relação clara com Saddam Hussein, Al Qaeda ou Osama Bin Ladem.

O tal projeto de investigação consistia em interrogar esses muçulmanos detidos pelo exército estadunidense, contudo, eles sabiam que não seria fácil. Eles estavam enfrentando a barreira do idioma e da cultura, não estacam preparados para lidar e tratarem como serem humanos.

Foi aí que surgiu uma dupla de psicólogos oferecendo uma pesquisa que validava meios físicos de interrogatório. A forma explicada foi rebuscada, elegante até, mas não passava de meios de tortura, desde privação de sono até humilhação e tentativa de assassinato. Quando um método falhava a justificativa era que eles precisavam aumentar as ameaças e as dores físicas, assim eles falariam.

Enquanto isso, nos palanques as autoridades diziam que o país era contra tortura. Há a possibilidade que os parlamentares e o próprio presidente da época do relatório não soubesse de todos os eventos, porque era filtrado pelos agentes da CIA e da equipe de segurança e inteligência da Casa Branca.

Ainda assim, o país seria enfraquecido com uma notícia dessas.

Daniel queria que o relatório viesse à tona, porque era a verdade que todos deveriam conhecer. Esses “interrogatórios” motivaram toda a guerra contra o Afeganistão e muitos outros conflitos que assistimos na primeira década dos anos 2000.

A título de esclarecimento: o programa de detenção e interrogatório foi criado e executado na gestão de Bush, o relatório foi elaborado e conhecido na gestão de Obama. Embora tenha licenças poéticas, o filme é fiel ao documento real.

Esse não é um filme fácil de se assistir, é até considerado um thriller, isso porque os métodos de tortura não são só citados, são mostrados. É simplesmente agonizante, mas, possivelmente, não é nem metade do realmente aconteceu.

Todo o conjunto de informações é chocante, começando pelo fato de terem sido avisados que os muçulmanos não iriam falar da forma mais difícil. Um agente do FBI, que sabia falar o idioma dos detidos e conhecia sua cultura, tentou e estava conseguindo informações conversando, usando os “soft skills”.

Contudo, esse método não mostrava o poder do país nem parecia ser rápido o suficiente, não como as agências de segurança queriam, por isso preferiram escutar a dupla de psicólogos.

Tem um detalhe interessante, na cena em que há a descrição dos métodos, os agentes perguntam se há alguma comprovação científica, se há exemplos de que funcionariam. Nesse momento é citado o uso deles na América do Sul entre os anos de 1970 e 1980.

Esse é exatamente o recorte temporal das ditaduras realizadas por aqui, incluindo a civil militar ocorrida no Brasil. Infelizmente, eles acabaram por usar os mesmos tratamentos desumanos dos executores brasileiros, o que torna o filme ainda mais chocante, pelo menos para mim.

É muito triste pensar que informações como essas geralmente nem vêm a luz do dia, são enterradas para proteger a imagem do país. Não dá para não pensar que existem profissionais determinados, como Daniel Jones, no Brasil, tentando fazer com que todos conheçam as atrocidades dos bastidores.

É bom deixar claro: sobre o tal relatório dos EUA, eu só conheço o que vi no filme, não sei o que recebeu licença poética ou não.

Um filme pesado precisa de um elenco competente, e a lista é encabeçada por nada mais, nada menos, que Adam Driver.

Mais uma vez, Adam Driver nos mostra uma realidade difícil de engolir, como em “Infiltrado na Klan” ou, com detalhes mais intimistas, em “História de um Casamento”. Ele sempre está em filmes que exigem essa carga emocional muito forte, mas, de alguma forma, por ser ele, é possível assistir. Ele sabe dosar informação e drama.

Ele também ficou conhecido por ser Kalo Ren nos filmes mais recentes da franquia “Star Wars”. Não sou fã do gênero, mas deu vontade de assistir, para ver esse lado mais comercial dele. Aliás, tem um filme cômico com ele, “Roubo em Família”!

Do lado de Driver, estão Annette Bening, como a senadora Diane Feinstein, e Linda Powell, como o braço direito dela, Marcy Morris.

Annette Bening é famosa por “Beleza Americana”, mas recentemente tem sido reconhecida por filmes como “Mulheres do Século 20” (recomendação pessoal), “The Seagull” e “Capitã Marvel”. As participações mais recentes de Linda Powell são em séries, tais como “Elementary”, “Blindspot”, “Mozart in Jungle”, “House of Cards” e “Madame Secretary”.

John Hamm aparece como o chefe da segurança da Casa Branca, Dennis McDonough. Ele é conhecido pelas interpretações cômicas, como em “Saturday Night Live” e em “Umbreakable Kimmy Schmidt”, e em filmes como “Baby Driver”, mas o papel que o tornou famoso e premiado foi o de Don Draper de “Mad Man”.

Interpretando a agente da CIA a frente dos interrogatórios, Bernadette, está Laura Tierney, famosa por seu longo período em “ER” e “Good Wife”, também é lembrada por “O Mentiroso” e, mais recentemente, “Querido Menino”.

Outro membro da equipe da CIA era Thomas Eastman, interpretado por Michal C. Hall, famoso por seu emblemático personagem que carregava o nome da série “Dexter”.

Dois outros atores famosos que aprecem nesse filme, mas com uma participação menor:

– Tim Blake Nelson, vivendo um assistente médico que presenciou os “interrogatórios” – ele é conhecido por “O Incrível Hulk”, “Lincoln” e (também) “Umbreakable Kimmy Schmidt”;

– Ben McKenzie, um agente da FBI – ele é conhecido por duas grandes séries, “The OC” e “Gotham”, dentre outros trabalhos;

– Jennifer Morinson, interpretando Caroline Krass, advogada que lidera a defesa dos EUA quando relatório vem à tona – ela é conhecida por séries como “How I Met Your Mother”, “House”, “Once Upon a Time” (minha eterna Emma) e “This Is Us”.

No fim, a verdade é que importa.

Até mais!

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