Você já parou para pensar como é que vive um autista? Como é que ele pensa e se desenvolve?
Tudo que sabemos do autismo é que a pessoa que o tem é diferente. A maioria dos estudos que existem é para descobrir a causa e a cura, aquela é incerta e esta não existe, é preciso saber lidar com as diferenças.
De forma nada piegas, o documentário “Em Um Mundo Interior”, de Flávio Frederico e Mariana Pamplona, acompanha o dia a dia de 07 autista de diferentes idades (de 03 a 18 anos), gêneros, níveis de autismo e regiões do Brasil: Enzo, Júlia, Igor, Roberto, Isabela, Mathias e Eric.
Nas entrevistas os pais, pedagogos e professores deles relembram quando foi feito o diagnóstico e, a partir daí, como se deu o tratamento para que cada um deles pudessem se desenvolver da melhor forma possível.
É interessante notar o quão é importante os estímulos que são dados desde pequenos, sendo necessária uma atenção especial de médicos e pais para não menosprezar os sintomas, que podem ser confundidos com outras doenças ou até mesmo birra de criança.
Quando o diagnóstico errado ou tardio pode prejudicar, como no caso de Júlia e Roberto. Ela foi diagnosticada como hiperativa e tida como criança mimada apenas, tendo um tratamento diferente em um primeiro momento, hoje já evoluiu muito apesar disso. Roberto foi diagnosticado depois dos 05 anos, tendo sérios problemas para socializar na escola.
Existem alguns sintomas que podem denunciar a condição autista (não é doença), mas tem outros que se manifestam em algumas crianças e outros não, podendo até interferir no desenvolvimento dessa pessoa. Destaco Isabela e Eric neste caso, que as famílias tiveram como os expor aos mais diversos estímulos.
Isabela tem problema de fala e alguns problemas motores, ela tem muita desenvoltura em mostrar o que quer e já consegue e realizar algumas atividades sozinhas. Eric não tem essas limitações, encontrando-se no teatro (que precisa muito da voz e das expressões) e no jiu-jitsu, além de ser bem articulado nas atividades diárias.
Uma curiosidade que também é exemplificada por Eric (sim, foi o que mais se destacou para mim, me emocionei muito com ele) é o fato de os autistas não entenderem a linguagem figurada, eles levam tudo ao pé da letra. O teatro é baseado na linguagem figurada e expõe a pessoa a uma plateia.
As imagens de Eric no palco e recitando poesia em um auditório lotado vão emocionar quem é considerado normal e não consegue falar um “Oi” na frente de ninguém!!!
As filmagens foram feitas de forma tradicionais, foram gravadas cenas nas casas e escolas de cada criança (Eric já tem 18, então já adulto), mas Flávio e Mariana quiseram que eles mostrassem o mundo da forma deles, deram uma câmera para cada um.
Os especialistas que acompanharam a produção avisaram que a câmera poderia não ser bem vinda entre eles, o que aconteceu de fato. Os únicos que aceitaram e registraram momentos únicos foi Júlia e Igor.
Júlia é vaidosa, em todas as cenas ela estava usando batom (tem por volta dos 7 anos), decidiu usar a câmera no dia em que se fantasiou de Elsa de “Frozen” na terapia. Igor é mais novinho, está se socializando bem na nova escola e decidiu fotografar a professora com os colegas.
É um documentário bem emocionante, ver os pequenos sucessos do dia a dia. Coisas que nós, os “normais” (nem tão normais assim), podemos nem perceber por ser algo natural, como o ato de ir ao banheiro sozinha, fazer um passeio de escola sem a mãe ou passar um dia tranquilo na escola.
A batalha dos pais também é bem demonstrado, nem tudo são flores, tem dias que eles se desesperam com alguma coisa, tem decisões difíceis a tomar e ainda podem ser julgados por quem não tem conhecimento sobre o autismo e suas complicações.
Algo que foi mostrado já no finalzinho do documentário foi um caso de um autista que não teve o tratamento desses 07 personagens. Sua família não tinha nem conhecimento nem condições de tratamento e o criaram em uma jaula (não tem outra palavra para aquilo).
Quem descobriu a situação foi a Associação Afeto, de Recife, Pernambuco. Por ter problemas de fala e nunca ter ido a fonoaudióloga, só emite sons que parecem gemido de animal, além de se automutilar (autistas têm menos sensibilidade a dor, se bater é forma de chamar atenção) e muitas outras complicações.
Depois que a Afeto descobriu e começou a tratar as evoluções foram vistas, conseguindo até o levar para ver a praia!
Eu nunca havia parado para pensar nesta condições, acho que sofro demais pelos outros e não imaginava as boas experiências que poderia ter ao ver tais situações.
Depois de assistir ao documentário desejo duas coisas, primeiro que todos possam ter condições de serem criados como Eric, Isabela, Igor, Júlia, Enzo, Mathias e Roberto, e segundo que exista uma associação como a Afeto para quem não tem para que nunca seja colocado em uma jaula.
Confira o trailer do documentário e entendam o pouco:
Beijinhos e até mais.