A Sensibilidade da Vovó Ritinha – “Dr. Alex”

Estamos todos acostumados a pensar em Rita Lee como uma grande cantora, rebelde e genial, um dos símbolos daqueles que lutavam contra a Ditadura Militar. Desde essa época sabe-se da sua genialidade para escrever também, já tendo livros publicados e de grande sucesso.

Em 2019 a Globinho, braço infantil da Globo Livros, tem publicado livros infantis escritos pela artista, que gosta de se chamar de Vovó Ritinha nas sinopses. Ah, tudo é premiado com belas ilustrações de Guilhermo Francini.

“Dr. Alex” é o primeiro desses livros. É história de um cientista alemão, chamado Alex Chucrutz, que vem ao Brasil fazer algumas pesquisas. Chegando ao Centro Biológico, local que poderá dar continuidade a tais pesquisas, dá de cara com ratinhos enjaulados, que servirão de cobaia.

Só que Sr. Alex não apoia os testes em animais e decide fazer uma declaração de independência do o Reino Animal. Antes mesmo de conseguir divulgar a declaração o Dr. Alex é sequestrado pelo Bando Sinistro, que visa a destruição da terra.

Sabe quem salva o Dr. Alex? O ratinho! Sim, porque os ratinhos de laboratório tinham suas próprias convenções e pesquisas, eles viram que Dr. Alex realmente queria os ajudar e que estava com problemas. Por isso eles deram ao amigo humano uma fórmula para que ele se transformasse em rato e conseguisse fugir.

Confesso que fiquei surpresa ao ver um livro infantil escrito por Rita Lee, não imaginava que ela quisesse atingir esse público, mas, como sempre, ela se mostra genial.

O livro tem todo o capricho que se pode esperar, detalhes que fazem a diferença, como o sotaque alemão impresso da escrita (ela acrescenta algumas letras e erra a concordância de propósito).

A moral da história é simples, precisamos repensar a forma como lidamos com os animais, eles também têm sentimento e são inteligentes. Lógico que não existe uma convenção de ratos de laboratórios, mas eles sentem os maus tratos, assim como diversos outros animais.

Quando ela acrescenta o Bando Sinistro a história ela expande o universo do laboratório, mostrando que não é somente neste ambiente que existem maus tratos, citando circos, zoológicos e “esportes” (que não tem nada a ver com esporte) como a vaquejada.

É uma fórmula inteligente de ensinar as crianças essa relação e quanto os animais sofrem, podendo assim crescer uma geração mais consciente de seus atos.

Um detalhe que mostra o comprometimento com a história é a forma como a sinopse e a descrição da autora estão escritas. Na maioria dos livros, mesmo os infantis, são nestes espaços que descolamos um pouco do universo lúdico para a vida real, quebrando um pouco a magia.

Em “Dr. Alex” é diferente, na sinopse ela se chama de vovó Ritinha e ainda diz que a história não é dela, mas sim de um ratinho que ela adotou e que falo tudo para ela. Na descrição dela não há grande currículo, a preocupação é dizer que ela ama animais e que conversa muito com eles.

Em outras palavras, houve a preocupação de ter um momento lúdico por toda a obra, sendo acessível para as crianças, que podem se identificar com a autora e se interessar ainda mais pela leitura.

Que Rita Lee continue nos brindando com obras literárias, tanto para crianças quanto para adultos!

 

Até mais.

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