Ter esperança e positividade parece uma tarefa fácil quando se tem privilégios na vida, mas é um desafio quando tudo parece contribuir para a desesperança. Essa é uma das lições que Amber Appleton ensina no livro “Quase uma Rockstar”.
Essa obra é de autoria de Matthew Quick, lançado originalmente em 2010, mas ganhou uma adaptação no cinema em 2020 (tem resenha do filme por aqui), logo o livro passou a ser (ou voltar a ser) sucesso de vendas da Intrínseca.
A estória de Amber não é nada feliz, ela fora abandonada pelo pai quando ainda tinha 02 aninhos e desde então, com 17 anos, ela vê a mãe trocar de namorado ruim e se afundando no alcoolismo. Ela não sabe o que fazer, por isso sofrem junto com ela. O último, Oliver, deixou-as sem teto, vivendo escondidas no ônibus escolar que a mãe dirigia.
Apesar disso, Amber é conhecida por sua positividade, esperança e sorriso fácil. Ela se voluntaria para passar tempo com os idosos da casa de asilo da cidade, para trocar cartas com um veterano de guerra solitário, para ensinar inglês para um grupo de católicas coreanas e para ajudar nos eventos escolares, junto com os amigos mais próximos: Ricky, Ty, Jared e Chad.
Por isso se pode dizer que ela é quase uma rockstar.
Ela tenta separar sua vida cheia de tragédias pessoais dessa vida social/comunitária, não quer que ninguém tenha pena dela ou julgue sua mãe pelos atos passados. Ela só fica vulnerável quando está sozinha, com seu cachorrinho, Bobby Big Boy (Triplo B), e tem sua conversa diária com Deus – ela é bem religiosa, não de jeito conservador, mas como algo que pode a manter de pé.
Por muito tempo ela conseguiu fazer essa dupla jornada, engolindo os próprios sentimentos e ajudando o próximo sem pensar duas vezes, mas a realidade chega em algum momento. Ela sofre uma perda irreparável, mais uma tragédia em sua vida, que a força a mostrar a todos suas vulnerabilidades.
É nesse momento que todos que estavam ao seu redor, beneficiando-se de sua criatividade e positividade, vêm-se na obrigação de ajudar, embora muitos ainda não saibam como. O problema é que Amber ainda não sabe estar do outro lado, de quem recebe carinho e atenção, não de quem doa, e isso é a chave que ela precisa virar para continuar com sua vida, reencontrar sua esperança.
A sensação ao ler o livro é que essa é uma Pollyana moderna, com seu jogo do contente sem rótulos, sempre apontando o lado positivo de cada passo na vida. A vida de Amber é um pouco mais difícil que a de Pollyana, mas essa essência é parecida.
Falando em essência, a do livro foi mantida na adaptação para o cinema, embora a estória tenha tido grandes motivações. A estória é bem mais trágica nas páginas do livro do nas cenas do filme, assim como os interesses de Amber, mas ela continua sendo a princesa da esperança (como alguns a chamam no livro).
No livro ela admira Donna, mãe de Ricky, seu melhor amigo, por ser uma mulher independente e uma advogada inspiradora, tanto que Amber sonha em ser advogada também. No filme Donna não é advogada e, embora elas tenham a mesma relação próxima e Amber continue a admirando, a adolescente tem outros planos de vida. Ela quer ser cantora, porque o pai dela (que não a abandonou nessa versão) era músico.
Uma outra diferença interessante é o detalhe da religião. No filme não se fala muito nisso, embora apareça o grupo de católicas coreanas, já no livro isso é destacado. Amber teria todas as razões para não acreditar em nada, mas a única lembrança positiva do pai são livros de Jesus Rockstar, uma coletânea infantil antiga que contra as história bíblicas de um jeito lúdico.
Isso é Amber sendo Amber na sua mais pura forma, enaltecendo aquela essência comentada anteriormente. Ela tem o símbolo que poderia trazer profunda tristeza para ela e o transforma no incentivo para ter esperança na vida, porque foi por meio desses livrinhos religiosos que ela encontrou um Deus que a acolhe todas as noites, mesmo depois dos piores dias, mesmo depois de ela ter duvidado de sua fé.
Esse detalhe poderia tornar a estória um pouco conservadora aos olhos de alguns, poderia ter tornado o livro em uma obra gospel – o que não agradaria muitos -, mas não é o que acontece. Isso porque, embora seja um destaque da protagonista, não é explorado de forma tradicional.
Até Mais!