Crítica | A Possessão de Mary

O gênero de horror no cinema, em sua história, conseguiu transformar qualquer cenário para provocar medo. Sobre terror em barcos podemos citar desde o clássico Tubarão (Jaws, 1975) e sua pequena embarcação aterrorizada pelo gigante tubarão branco de mandíbulas afiadas até o sinistro barco nazista que resgata náufragos no meio do oceano para fantasmas da Gestapo torturarem suas vítimas no interior dele, em Navio Fantasma (Death Ship, 1980) ou seu homônimo Ghost Ship (2002) onde exploradores ávidos por tesouros adentram em um sinistro transatlântico italiano sumido há décadas e que pouco a pouco são dominados por forças malignas da embarcação. Usando a premissa de uma velha embarcação possuída por uma estranha força que domina uma família e seus tripulantes em alto mar, Michael Goi dirige A Possessão de Mary (Mary, 2019).

David (Gary Oldman) é um capitão e pescador um tanto quanto falido, pai de duas meninas e com um casamento em crise. Um dia num leilão resolve comprar uma velha embarcação de nome Mary. Ele arrisca todas as suas economias em busca de mudar de vida e consegue reformar o barco. Mas na viagem de inauguração uma entidade maligna, que possui o barco, provoca eventos assustadores, que começam a aterrorizar a família e seus tripulantes transformando-a num terrível pesadelo.

A Possessão de Mary chega aos cinemas com a cara de que em breve será esquecido. O filme é um festival de clichês (crianças e seus amigos imaginários, família reunida que enfrenta o mal, um barco amaldiçoado no lugar de uma casa mal assombrada, um espirito de séculos atormentando o presente), sustos previsíveis, roteiro vazio (Anthony Jaswinsk), atuações sem graça e a trilha sonora, que podia ajudar ao dar uma atmosfera mais pesada à trama, é de péssimo gosto.

Surpreende que o oscarizado e talentosíssimo Gary Oldman tenha aceito participar dessa roubada. Aliás, a presença de um ator do quilate dele poderia representar um plus significativo no filme, mas vemos sua atuação vazia, sem graça e com muito pouca inspiração. Acho que a geladeira devia estar vazia na casa do Gary, talvez só um bom dinheiro poderia explicar sua participação nesse previsível filme. Emily Mortimer, como a sua esposa Sarah, é a que mais se esforça para passar um pouco de dignidade ao filme, interpretando bem a mãe desesperada com os sinistros acontecimentos que vão acabando com a família no barco Mary, e que desde o início já nos apresenta a história do filme, tendo ela sobrevivido à infernal viagem, resgatada e dando um depoimento à polícia contando o drama que passou. Até isso faz perder graça na história porque, no início, uma narração já nos explica o que aconteceu e quem sobreviveu ao evento sobrenatural.

O que poderia ser uma história bem conduzida, usando o ambiente claustrofóbico de um barco dominado por uma entidade do mal, A Possessão de Mary em nada surpreende, inclusive a história da possessão é muito mal explicada, cheia de lacunas no que poderia ser uma aterrorizante história se bem roteirizada e conduzida. Aliás, a tal entidade do barco é uma mistura de fantasma clássico (parecendo vestida por um lençol branco) com uma cara de a Freira de Invocação do Mal 2. Pode até parecer spoiler, mas desde cedo a fisionomia da tal entidade maligna é apresentada usando e abusando de pulos na tela muito mal dirigidos causando quase nenhuma surpresa.

Enfim, fica difícil levar a sério a pretensão do filme, fica a impressão de que é apenas mais um no rol dos filmes de terror, uma pena em uma época em que grandes e inovadoras produções andam aparecendo e renovando o gênero. A Possessão de Mary desperdiça uma possível potencial história de horror em uma hora e vinte e quatro minutos de muita previsibilidade e muito pouco medo.

Sinopse: Uma família que deseja iniciar um negócio de locação de barcos compra um veleiro que guarda terríveis segredos e serão revelados somente em alto mar.

Ficha Técnica

Diretor: Michael Goi

Roteirista: Anthony Jaswinski

Elenco: Gary Oldman, Emily Mortimer, Manuel Garcia-Rulfo, Stefanie Scott, Chloe Perrin, Douglas Urbanski, Claire Byrne, Jennifer Esposito, Owen Teague

Duração: 95 minutos

Classificação indicativa: 12 anos

Gênero: Terror

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