A mão que escreve – “Colette”

A história nos ensina que as mulheres sempre souberam escrever obras memoráveis, mas que tiveram que esconder por trás de homens (ou pseudônimos) para que essas histórias pudessem serem conhecidas.

A história de Cabrielle Colette é parecida, mas conta com algumas nuances únicas, mostradas no filme biográfico “Colette”, de 2018. Dirigido por Wash Westmoreland, que também assinou o roteiro, junto a Richard Glatzer e Rebecca Lenkiewicz. O longa está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.

Colette cresceu numa cidade do interior da França, mas, ainda menor de idade, casou-se com Willy e foi morar em Paris. Ele era um escritor e crítico literário, conhecido por gastar dinheiro em mulheres e jogos e, nos bastidores, por não escrever as próprias obras.

Ele pagava autores desconhecidos para escrever e ele assinava as obras. Prometia o mundo, fazia mil planos fantásticos, não se importava com os custos, acreditava que tudo correria conforme ele planejava. Por isso mesmo estava cheio de dívidas.

Quando ele não conseguiu mais pagar os tais autores ele fez com que Colette escrevesse para ele, baseando-se nas histórias da infância dela, que ela costumava contar. Ele sabia que ela sabia contar histórias e usou isso para ganhar dinheiro às custas dela.

Era o nome dele que estava estampado no livro mais conhecido da França (da época), “Claudine”, que logo ganhou outras edições, novas histórias, novas aventuras. A personagem saiu das páginas do livro e ganhou coleções de moda inspiradas nela, eram chapéus, vestidos, sapatos e até perfumes.

Enquanto Claudine se tornava famosa, Colette se sentia cada vez mais presa a Willy, ela queria ter sucesso por aquilo que ela escrevia, queria ter o mínimo de controle da sua personagem. O que já era impossível, porque ele já tinha vendido os direitos para a editora.

Na vida pessoal Colette também se descobria. Embora o casamento fosse quase uma prisão no quesito trabalho, Willy acreditava que a criatividade da esposa seria aflorada com aventuras “românticas”, que aconteceriam nos bastidores da sociedade parisiense. Ele não via como traição caso ela se relacionasse com outras mulheres e que isso ajudaria na hora de ela escrever as obras.

Com essa “liberdade” conjugal, Gabrielle Colette teve casos com algumas mulheres, sendo apenas aventuras. Exceto por Missy, que abriu os olhos da amante quanto a possibilidade do sucesso por ela mesma, foi a partir daí que ela começou a pensar em se separar de Willy e conquistar o sucesso sozinha.

Na verdade, por algum tempo ela não conseguia mais escrever, talvez por causa da situação com Willy ou porque não poderia falar da personagem que criou (porque não era mais sua). Ela passou esse tempo explorando seus talentos de dançarina, em turnê pela França (junto com Missy), chocando a sociedade que a conhecia por causa do marido (na época já era ex marido).

É uma história de como uma mulher que enfrentou os padrões e as “normas de gênero”, tão rígidas entre o fim do século XIX e início do século XX, mesmo na tão liberal Paris. Ela não foi perfeita, mas foi alguém que inspirou a luta de tantas mulheres que queriam ter suas próprias conquistas.

Uma frase bem conhecida e que é falada no filme algumas vezes é: “A mão que escreve a história”. Essa é ela, escrevendo a própria história.

Embora seja uma história forte, o longa tem uma estranha sensação de leveza em boa parte dele, até nas reviravoltas, quando ela começa a se descobrir de fato. Tem cenas mais chocantes, mas na medida que a trama pede, em momentos certos, sem exageros.

Acredito que essa sensação de leveza é, em parte, mostrada por meio das cenas em que Colette escreve por ela mesma (sem a pressão). É possível ver a caligrafia dela, o gosto que ela tinha em colocar aquelas lembranças no papel, a leveza com que lembrava da infância sem preocupações.

Além das belas sequências mostrando paisagens campestres do interior da França, sempre ensolaradas e esperançosas. Em contraste com as noites em Paris, nas festas ou mesmo no apartamento de Willy.

Eu não sabia quem era Colette, assisti o filme por causa da atriz que a interpreta, Keira Knightley, uma das minhas atrizes preferidas, com toda certeza.

Ela sempre será lembrada pela franquia “Piratas do Caribe”, mas já provou seu talento em vários outros trabalhos, que conquistaram essa colunista de verdade, como “Simplesmente Amor” (vocês sabem que eu amo uma filme em mosaico), “Orgulho e Preconceito”, “Desejo e Reparação”, “A Duquesa”, “Anna Karenina”, “O Jogo da Imitação” e “Mesmo Se Nada Der Certo”.

Ok, talvez eu goste de filmes de drama de época e ela seja simplesmente perfeita neles, como ela foi em “Colette”. Um com ela que ainda não assisti, mas quero muito assistir é “The Edge of Love”.

Willy também é interpretado por alguém conhecido, Dominic West. Ele é lembrado por “Chicago” (Fred Casely), “O Sorriso de Monalisa”, “300”, “John Carter” e “O Mestre dos Gênios”. Ele deu vida a Jean Valjean na série “Les Misérables” de 2018.

Missy é vivida por Denise Gough, ainda pouco conhecida pelo grande público, talvez mais conhecidas pelos gamers fãs de “The Witcher” (o jogo, não a série), ela faz a voz da poderosa Yennefer nas edições mais recentes.

Até mais!

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