Um dos grandes clássicos dos musicais é “Mary Poppins”, lançado em 1964, retratando uma família que precisava de uma ajudinha para se descobrirem o precisavam para manter a união.
Em 2018 a babá perfeita volta para os cinemas, com “O Retorno de Mary Poppins”, dirigido por Rob Marshall e com o lendário Marc Shermain na direção musical. Disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video.
O que faria Mary Poppins para a Cherry Tree St.? Cuidar das crianças da família Banks, lógico.
Só que agora, por volta de 30 anos depois da história original (segundo meus cálculos, não se fala em datas), as crianças Banks são os filhos de Michael Banks, o filho mais velho do banqueiro George Banks e da memorável sufragista Winnifred Banks.
Michael mora na mesma casa onde cresceu, lá ele viveu com sua esposa e teve seus três filhos, Annabel, John e George. Embora seja um artista, ele trabalha como bancário no mesmo banco onde o pai era sócio, para poder manter a casa (e o emprego de Helen, a empregada).
Há um ano a esposa dele faleceu, a família vem enfrentando o luto de formas de diferentes. Annabel, por exemplo, quis amadurecer e tomar de conta dos irmãos, não quer ser vista como a criança que é. E as dívidas da família se acumulam, o que ameaça o bem estar, uma vez que podem perder a casa por isso.
Em meio a esse caos, Mary Poppins volta, majestosa e elegante, mas também misteriosa. Michael e a irmã, Jane, lembram dela, lógico, para na cabeça deles as aventuras com ela foram fantasias, histórias inventadas pela criatividade infantil. Michael tenta resistir à ajuda dela, mas Jane o convence. O grande desafio de Michael nesse momento é manter a casa, isso quer dizer encontrar um documento que comprova a existência das ações do pai no banco, assim ele conseguiria pagar a hipoteca e não seriam despejados. O problema é que ninguém sabe onde está e as crianças começam a procurar meios de ajudar o pai e a tia.
A presença de Mary Poppins faz com que as crianças sejam de fato crianças, mas consegue fazer com que os adultos se lembrem da magia nos pequenos detalhes. Só assim eles conseguiriam encontrar o tal documento, não antes de dançarem e cantarem e emocionarem.
Mais uma vez Mary Poppins protagoniza um musical que fica para a história, sendo um show completo, com mensagens lindas e passagens divertidíssimas. Ah, e mostra que “tudo é possível, até o impossível”.
No original Mary Poppins contava com a ajuda do amigo Bert, limpador de chaminés, estrelando a sequência emocionante de sapateado nos telhados de Londres, ao som de “Chim Chim Cher-Ee”. No retorno ela encontra Jack, acendedor de postes, ou Lume, que dança com seus colegas “A Luz Que Brilha”/”Trip a Little Light Fantastic”.
Tanto Bert como Jack, cada um em seu momento, é a ligação do mundo mágico de Mary Poppins com a realidade da família Banks. O mais interessante da relação dela com eles é que nunca houve interesse romântico, como seria óbvio para uma produção assim, eles são, de fato, apenas amigos.
Inclusive, no retorno, Mary Poppins tenta até ser cupido de Jack, tentando unir ele com Jane.
Nesse segundo filme fica bem claro as interpretações criativas, que também posso chamar de poéticas, especialmente na sequência do Royal Bolton (a tigela musical). Lá eles vêm o lobo e os comparsas querendo roubar a casa, representação perfeita do novo encarregado do banco (sobrinho do dono) e dos advogados que dão o anúncio de despejo.
As músicas são incríveis e fazem parte do contexto do filme. Detalhe, tem a versão original e tem a versão brasileira (acredito que tenha em outras línguas também), mas a qualidade não caí de forma alguma, algumas músicas conseguem até a serem mais sentidas (emocionantes) em português do que inglês, como “Conversation”/”Desabafo”.
A escolha da atriz para interpretar uma personagem tão icônica foi certeira. A inglesa Emily Blunt conseguiu trazer a mesma magia em 2018 que Julie Andrews trouxe em 1964, recebendo benção dela mesma.
Julie Andrews até foi convidada a aparecer no novo longa, mas, reza a lenda (não tenho fontes seguras dessa informação), ela falou que esse era o momento de Emily, não dela. E que momento!
Emily Blunt já havia feito um musical, “Caminhos da Floresta”, mas ela ficou conhecida por filmes como “O Diabo Veste Prada” (está no meu top 10 filmes preferidos), “O Clube de Leitura de Jane Austen”, “A Jovem Rainha Vitória”, “As Viagens de Gulliver”, “O Caçador e a Rainha do Gelo”, “Um Lugar Silencioso”.
Ela é uma das atrizes mais versáteis da atualidade, sabe fazer comédia, segura um musical ao nível de “O Retorno de Mary Poppins” e ainda está conseguindo agradar os amantes do terror (vou tomar coragem e assistir esse, só por causa dela).
Jack é interpretado por Lin-Manuel Miranda. Não sabe quem é? Já assistiu “Moana” no áudio original? Então você conhece a voz dele, por causa da música “We Know The Way”, que em português é interpretada por Fernando Mendonça e recebe o nome de “Para Ir Além”.
E não é só isso, Lin-Manuel Miranda é responsável pela composição, letras e produção de muitos títulos, já trabalhou muito no chamado “Off-Brodway” e por trás das câmeras, mas agora ele vem surgindo como ator também.
Como produtor ele ganhou o Globo de Ouro pela série Fosse/Vernon, como ator e compositor ele tem feito sucesso com “Hamilton” e já tem projetos para o live-action de “A Pequena Sereia” e para a versão cinematográfica de “In The Hights”.
No caso, o personagem Jack é uma alusão do que Bert foi, não foi intensão ser a mesma pessoa, logo houve como encaixar uma participação muito especial, Dick Van Dyke. Foi ele que deu vida ao lendário Bert, mas na produção de 2018 ele foi o dono do banco. No auge dos seus 92 anos (na época da gravação) ele ainda brinda o público com alguns passos de sapateado em cima de uma mesa.
Michael Banks, artista de alma, é vivido por Ben Whishaw, cuja voz já é relativamente conhecida na Inglaterra, por meio de “Paddington”, mas também esteve produções como “Skyfall” e “No Coração do Mar”. Ele conseguiu ser a descrição visual da ansiedade e da aflição, o que caiu bem no personagem.
Jane Banks, que eu tenho um carinho especial (conto já a razão), é vivida por Emily Mortimer, conhecida por filmes como “A Ilha do Medo”, “Rio, I Love You” e “A Livraria”. Ela é a animação em pessoa, mesmo nos momentos mais difíceis, a positividade dela contrapõe a negatividade de Michael.
Pixie Davies emprestou seu talento para a Annabel Banks. Pixie já era conhecida pelo público por causa do longa “O Orfanato da Senhora Peregrino para Crianças Peculiares” (ela é Brownye, a que tem a boa de tubarão na nuca). O irmão do meio, John, é vivido por Nathanael Saleh, que fez participação em “Game of Thrones” e, mais recentemente, esteve na série “Carta ao Rei”. O caçula dos Banks, George, é vivido pelo estreante (e cativante) Joel Dawson.
Outro ponto que ligou a produção de 1964 a de 2018, junto com a casa, foi a empregada Helen. Ela não teve papel relevante, mas a presença dela tornou a história mais interessante, trouxe o elemento nostálgico. Helen é vivida pela dama (título real, concedido pela rainha a ela) Julie Walters, minha eterna Rose, de “Mamma Mia!”, mas ela também esteve em produções como “Paddington” e “Brooklyn”.
Continuando na cota “Mamma Mia!”, quem também aparece são Colin Firth e Meryl Streep, ele como o bancário/lobo Wilkinks (é de partir o coração ver Colin como vilão, mas ele é impecável) e ela como Topsy, prima de Mary Poppins e que promete fazer qualquer concerto.
Dois detalhes interessantes:
1º – “O Retorno de Mary Poppins” foi lançado menos de seus meses depois de “Mamma Mia – Here We Go Again”, esses três grandes nomes estavam dançando e cantando no cinema em dose dupla!
2º – Meryl Streep também esteve em “Caminhos da Floresta” e, lógico, “O Diabo Veste Prada”. É bom demais ver Emily Blunt e ela juntas, alternando o holofote.
Voltando a participações especiais, outra figura lendária, mas dessa vez da Disney mesmo, fez uma aparição, Angela Lansbury. Ela é a voz original de “A Bela e a Fera”, a animação, entre tantos outros trabalhos que tornou sua voz conhecidíssima.
Chegou a hora de eu dizer o porquê de Jane Banks ser tão especial para mim!
Talvez alguns aqui não saibam, mas eu sou bailarina amadora, todo ano participo de algumas apresentações pontuais da escola de ballet (e jazz) que frequento. E todo ano tem espetáculo com todos os alunos, geralmente uma releitura de musicais, em 2019 apresentamos “Mary Poppins”, inspirado só nesse musical na produção de 2018 (é possível separar os dois, ainda fará sentido).
Já faz alguns anos participo, mas “só” dançando, fazendo corpo de baile, no ano passado eu fui convidada a fazer meu primeiro personagem, Jane Banks. Foi uma emoção indescritível, superei alguns obstáculos pessoais e me conectei de verdade com a personagem.
Além disso, devido às longas horas de ensaio (cinco dias por semana, à propósito), aprendi quase todas as músicas, lembro de falas, consegui entender cada passagem, interpretar detalhes. Enfim, o filme em si ativa memórias afetivas que são capazes de me emocionar (o que é difícil de fazer).
Lembrei como é ser criativa como uma criança e que nós podemos ser criativos mesmo quando crescemos!
Até mais.