A batalha que se tornou guerra – “Midway”

Os teatros das grandes guerras mundiais esconderam histórias reais que, aos poucos, vão sendo conhecidas e publicadas, dentre elas está uma batalha entre estadunidenses e japoneses, logo após o famoso ataque a Pearl Harbor, ocorrida em Midway.

Recebendo o mesmo nome do palco dessa batalha, “Midway”, de direção de Roland Emmerich e roteiro de Wes Tooke, foi lançado em 2019 e está disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video.

Houve um momento dentro da II Guerra Mundial que os EUA estavam em paz com o Japão, havia inúmeros oficiais da aeronáutica estadunidense locados na costa japonesa, junto de suas famílias. Mas não era uma paz plena, como nunca o é em meio a uma guerra.

Os EUA entenderam essa fragilidade quando uma de suas bases mais confiáveis, Pearl Harbor, foi atacada pela força aérea japonesa. Nesse momento se iniciou uma batalha entre os dois países, representados por aqueles presentes ali, especialmente os aviadores estadunidenses.

A batalha acontecia em alto mar e no ar, os japoneses tinham um arsenal maior e mais moderno que o dos EUA, já os homens dos EUA lutavam para vingar o que havia acontecido por Pearl Harbor.

Todos os passos dos oficiais eram ordenados pelos oficiais, guiados por toda e qualquer informação vinda da inteligência. Foi um dos momentos em que se confirmou a importância desse departamento de guerra, sem eles provavelmente os EUA não teria tido sucesso algum.

O comando estava nas mãos de Chester W. Nimitz, que recebia as informações da inteligência de Edwin Layton. Nos navios o comando era de William “Bull” Halsey, quem colocou Wade McClusky e o impulsivo Dick Best no comando dos aviadores. Para encarar a tecnologia japonesa eles só contavam com a experiência e a confiança em seus aviões e mentes, e foi o suficiente para salvar muitos colegas.

Embora tenha momentos memoráveis e alguns bons personagens, mas tem um começo lento e, na minha humilde opinião, desperdiça o talento de grandes nomes que constam no elenco.

Gosto muito da temática guerra, mas existem tantos do gênero, baseados em histórias reais, que é preciso ter cuidado para futuras comparações. Eu mesmo passei o filme todo lembrando de “Dunkirk” e eu só fui assistir esse filme alguns dias depois de assistir “Midway” (daqui a pouco volto ao assunto).

Como falei, tem algumas cenas memoráveis, a que se destacou para mim foi a que Layton leva Nimitz para o prédio da inteligência. Nimitz tinha carreira militar, estava acostumado com as informações e direções exatas, além de certa formalidade em assuntos burocráticos, ele se chocou quando encontrou o chefe do departamento de pantufas no escritório e o fato de boa parte daqueles funcionários serem músicos.

O choque foi maior ainda quando a informação importante que tinham para ele não era tão exata, eles não tinham certeza onde os japoneses iriam atacar, mas haviam interceptado algumas correspondências deles com informações circunstanciais. Em outras palavras, podiam supor com segurança, mas não podiam dizer que era certeza.

Nimitz não queria aceitar agir conforme àquelas, então o chefe do departamento fez uma comparação bem interessante, algo como: “pense que a batalha é um casamento que você não recebeu o convite, você não sabe quando será nem onde, mas sabe qual serviço de bufê, para onde vão as flores e o bolo, você pode não ter certeza, mas pode supor onde será o casamento… é assim que a Inteligência funciona”.

Essa foi uma das lições do filme, mostrar como é o trabalho dos bastidores, como funcionários que ninguém sabe quem é trabalham e como esse trabalho pode ser valioso. A cena é muito bem feita e é um dos momentos que realmente prendem atenção de quem assiste.

Do lado japonês tem alguns momentos interessantes também (talvez até mais), mas, com certeza, a última deles merece destaque. Quando eles percebem que os aviadores dos EUA conseguiram os derrotar, o comandante do único navio japonês sobrevivente decide o afundar para não cair nas mãos dos inimigos e, depois de um curto discurso emocionado, decide se afundar com ele. Isso mostra o patriotismo e o comprometimento desses oficiais pelo trabalho, mesmo que os superiores não enxerguem isso.

Do lado dos EUA é possível ver isso algumas cenas antes, quando uma dupla de aviadores perde o controle do avião e caem no mar. Eles são resgatados por esse navio japonês, mas são interrogados, exigem que eles contem informações privilegiadas, isso atadas a âncoras. Eles preferiram morrerem afogados do que falarem qualquer coisa.

Outro ponto positivo é o fato de o filme não endeusar nenhum dos lados ou tornar o inimigo um eterno vilão. Era uma guerra, não havia lados certo ou errado, os homens nos aviões e nos navios estavam lutando pelos respectivos países, isso não os tornavam criaturas demoníacas ou santos, e o filme consegue passar isso, embora seja a perspectiva estadunidense.

Chegamos ao ponto polêmico: não se soube aproveitar os talentos envolvidos.

O elenco conta com muitos nomes bons, dentre eles: Ed Skrein (“Deadpool”, “Alita”, “Malévola: Dona do Mal”), Patrick Wilson (“Invocação do Mal”, “A Freira”, “Aquaman”), Woody Harrelson (“Jogos Vorazes”, “Venom”, “Zumbiland”), Luke Evans (“A Bela e Fera”, “Anna”, “O Hobbit”), Mandy Moore (“This Is Us”, “Curtindo a Liberdade”, “Um Amor Para Recordar”), Dennis Quaid (“O Dia Depois de Amanhã”, “Os Seus, os Meus e os Nossos”), Aaron Eckahart (“Sully”, “Batman: O Cavaleiro das Trevas”, “Frankenstein: Entre Anjos e Demônios), Darren Criss (“Glee”, “Hollywood”) e Nick Jonas (“Samsh”, “Jumanji”).

Os que se destacaram foram Patrick Wilson e Woody Harrelson porque deram vida a dupla Layton e Nimitz, mas me decepcionei de verdade com a forma que conduziram os outros. Darren Criss também pode ser um exemplo positivo, o personagem era estranho, mas foi bom o ver em alguma produção fora do universo de Ryan Murphy.

O protagonista entre os aviadores era Dick Best, vivido por Ed Skrein, e é um personagem interessante, tinha uma veia cômica, por causa da personalidade rebelde, mas senti que ficou um pouco de lado em alguns momentos.

Minhas decepções foram Aaron Eckahart e Nick Jonas, não por eles em si, mas pelos personagens. O primeiro teve 5min de participação ao todo, que era para ser o ponto alto, mas não teve a ênfase esperada, mesmo com uma apresentação bem feita.

Já o segundo, Nick Jonas, me doeu ver a participação dele. Antes de mais nada, gosto de Nick desde a Disney e sei que ele é um bom ator para além dos filmes adolescentes, por isso que doeu o ver nesse filme. Eu tive duas impressões, primeiro que ele era para ser o alívio cômico e segundo que ele era para ter sido o que Harry Styles foi em “Dunkirk”.

O alívio cômico não teria sentido, uma vez que o personagem principal já tinha a veia cômica, então o personagem ficou forçado, o único momento bom foi quando ele foi capturado pelos japoneses, na cena descrita há pouco.

A segunda impressão, a comparação do “cantor-ator” do elenco, é impossível de não ser feita, são dois ídolos de gerações diferentes dentro de filmes de guerra. Contudo, o nível de atuação não foi a mesma, não sei se foi a direção ou a escolha de personagem, mas Harry Styles superou Nick Jonas dessa vez.

Falando em comparação com “Dunkirk” … São dois filmes com a Segunda Guerra Mundial ao fundo, mas são baralhas diferentes, em momentos diferentes da guerra e em frentes diferentes. Em “Midway” falamos de EUA x Japão, em “Dunkirk” falamos de Inglaterra x Alemanha.

Na produção inglesa de Christopher Nolan dois dos nomes mais famosos aparecem pouco, Cilian Murphy e Tom Hard, mas a condução da história mostra lógica no posicionamento deles. No caso da produção estadunidense, a participação de Aaron Eckhart parece perdida.

Uma terceira impressão que fica, por causa da comparação, é que em “Midway” houve uma tentativa de tornar a produção aclamada por causa dos nomes em seu elenco, mas não souberam usar esse elemento. Enquanto em “Dunkirk”, apesar de ter nomes valiosos, o foco vai para os jovens atores e para a história em si.

No geral é uma história boa que merecia uma produção mais atenciosa e usar melhor seus talentos.

Até mais.

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