Marina Sena – Tour Coisas Naturais – Bar Opinião
Quando uma cantora com cinco anos de carreira (solo, antes fazia parte de uma banda), que surgiu no interior de Minas Gerais, na gloriosa Taiobeiras, consegue esgotar a lotação do Bar Opinião, com 3200 pagantes de público, em duas noites seguidas, é um fenômeno a ser analisado. Marina Sena, a mineira que cada vez mais conquista adeptos pelo Brasil, esbanjando sensualidade, com letras que falam de amor, sexo e relacionamentos, apresentou para o povo gaúcho seu novo álbum Coisas Naturais com a tour de mesmo nome. E como sempre digo que cada show é uma experiência e sair da zona de conforto dos gostos pessoais é preciso, estive lá para tentar entender o tal furacão do Norte de Minas Gerais.
Uma sexta-feira fria no inverno gaúcho não abalou um público sedento por Marina Sena. Com uma faixa etária entre 18 e 30 anos, uma multidão se apinhava no bar mais famoso da José do Patrocínio. A casa abriu por volta das 23h, mas o show, em ritmo de balada (expressão de velho), estava marcado para 01 da manhã. Um DJ aquecia o povo com sucessos do momento, em um tempo em que cada vez mais somos nichados. Em suma, mesmo com todo esse hype em cima da Marina, muita gente como eu, conhecia pouco ou nada do trabalho da nova musa, comparada erroneamente com Gal Costa. Então, no horário marcado, a banda sobe ao palco, com vários integrantes, e começam os acordes de Coisas Naturais, que dá título ao último trabalho dela. Marina surge com pouca roupa e um adereço carnavalesco, e no fundo do palco, hipnotiza aquelas 1600 vozes enlouquecidas com a jovem de 28 anos. Segue com Numa Ilha, do mesmo disco (outra coisa de velho) e a toada da primeira vai se repetindo, com a simetria entre plateia delirante e cantora entregando o que quer pra ela. Me Toca, seu primeiro grande sucesso lá no “longínquo” 2021 (que virou trilha de novela), mantém o mesmo esquema, só que agora ela vai pra frente do palco, com o microfone na mão, cantando e dançando, para delírio dos seus seguidores. Musa do Tik Tok, onde divulga trechos de suas músicas, Marina é um produto desse tempo. Com músicas curtas, batidas simples mas contagiantes e com letras fáceis de cantar, sex appeal no palco e ainda é ajudada por declarações honestas sobre sua vida sexual, ela entrega com louvor o que o povo quer.




Emenda canções como Que Tal, Pelejei e Sem Lei, essa mais recente. Fica difícil analisar suas canções. A banda que a acompanha é excelente, mas os arranjos são simples, um feijão com arroz temperado para fazer sucesso. Sua voz, enfim, Marina canta praticamente todas as músicas com a mesma intensidade, ou seja, uma voz repetitiva, fraquinha e nada encantadora. Tem sorte que não desafina, mas não duvido que não tenha playback em algumas canções, tamanha a parafernália de palco do espetáculo, com um voluptuoso telão ao fundo mostrando o tempo inteiro Marina por inteiro. Em suma, sua voz de gato miando não tem nada demais, mas vamos perguntar às 1600 pessoas que lotaram o Opinião se elas se importam com isso…
O show segue com aquele apanhado de sua carreira de três álbuns, com canções como Tudo pra Amar Você, Combo da Sorte, Por Supuesto, Mágico, Doçura e Lua Cheia. Títulos curtos, talvez reflexo de uma geração que quer mais praticidade, até pra buscar ou digitar a música nas redes sociais. Ou outras com a grafia em maiúsculo como TOKITO e SENSEI. Econômica com as palavras também é a cantora. Ela manda ver quase sem parar seu show, com pouco discurso, muita música e muito gestual corporal, com seu figurino de pouca roupa, apenas um sutiã e um shorts negros combinando com suas botas da mesma cor.





A cada música a plateia vibra mais, casais se abraçam, amigos cantam junto, dançam e rebolam ao som de canções como Desmistificar, Carnaval e principalmente Dando uma Sarrada, onde pode se ver várias pelo ambiente. Pra Ficar Comigo é a última dessa leva quase sem interrupções, mas aí chega o momento que Marina e o seu guitarrista sentam num praticável ao fundo do palco. Ele (fico devendo o nome) pega o violão e os dois cantam duas baladas, Voltei pra Mim (título justificado para essa geração individualista e não estou levando isso como uma crítica) e a bonita Manda um Sinal. Talvez o momento mais interessante do show, em que Marina sorri mais, se solta e tenta cantar e não se preocupar apenas em ser a musa do palco. Como um relógio cronometrando (o show tem uma hora e trinta minutos), ela fecha o seu baile com Anjo e seu mais novo sucesso enfiado goela abaixo nas redes, Ouro de Tolo (não confundam com a música do Raul Seixas, outa coisa de velho). Marina então se despede e lembra que amanhã terá mais.



Na saída seu público se dispersa, com alguns pais buscando, outros dividindo seus carros de aplicativos, e alguns, ainda em êxtase, pareciam catatônicos no meio da José do Patrocínio. Ouvi de mais de uma pessoa que quase desmaiou, ou chorou muito quando ela cantou tal canção. Por 90 minutos Marina hipnotizou os seus, com um show competente e bem produzido, apenas com composições próprias (isso eu tiro o chapéu pra essa nova MPB, eles sustentam um show só com suas músicas). Se fica devendo na voz suave e tão fraquinha, com seu corpo e letras alimenta os sonhos de sua massa de seguidores, uma geração que muda de ídolos como troca um story do Instagram e ela parece aproveitar bem toda essa fama, com muito profissionalismo e magnetismo, vivendo e surfando o momento intensamente e abalando o Bar Opinião no ano de 2025.


