Dadi e Vinícius Cantuária convidam Paolo Andriolo e Jesse Harris – Espaço 373, Porto Alegre
Sexta-feira passada Porto Alegre ferveu. Tivemos mais um dos seus dias de calor intensos de janeiro na capital dos gaúchos. Mas Porto Alegre ferve cultura neste tórrido verão. Em mais um dia do Porto Verão Alegre, a cidade está tomada por espetáculos e expressões artísticas que fica difícil escolher tamanhas opções. O NoSet escolheu ir ao aconchegante Espaço 373, no bairro Floresta, para prestigiar dois ícones da música brasileira. Falo de Dadi Carvalho, um dos maiores baixistas do Brasil, que tocou com Jorge Ben Jor, Novos Baianos, Moraes Moreira e A Cor do Som, Caetano Veloso, Marisa Monte, Barão Vermelho, entre outros, que juntamente com Vinícius Cantuária, que pertenceu A Outra Banda da Terra, do Caetano Veloso, como baterista, e ainda teve seu tempo de popstar na década de 1980 com sucessos populares. A dupla convidou o baixista italiano Paolo Andriolo e o amigo deles, Jesse Harris, cantor e compositor estadunidense, conhecido por parcerias de sucesso com Norah Jones, para esse espetáculo.
O local é uma aconchegante espaço encravado no bairro Floresta, onde pouco mais de 100 sortudos tiveram o privilégio de ouvir e apreciar uma inesquecível noite de boa e intimista música executada pelo quarteto. Palco apertado, som ambiente e belas canções, por volta das 21 horas os amigos subiram no palco. Para abrir o show, Vinícius com violão, Dadi na guitarra e Paolo no baixo, tocaram Elefante Branco, sucesso do efêmero supergrupo Tigres de Bengala, que Dadi e Vinícius integraram nos anos 1990, junto com nomes como Richie, Billy Forghieri, Claudio Zoli e Mu Carvalho, começando o show num clima intimista, com Vinícius com vocais ao estilo João Gilberto para plaetaia contemplativa. Jesse assume os vocais com a sua It’s Okay. Dadi mostrando ser um ótimo guitarrista também pega o microfone e canta Dois Perdidos, composição sua com Arnaldo Antunes. Rocking Chairs segue o baile na voz de Jesse Harris, com certeza o melhor cantor do grupo. Enquanto Jesse vai para o vocal, Vinícius assume a bateria e quando Vinícius canta e toca violão, Jesse toma as baquetas e a seguinte música é com Vinícius, a belíssima Coisa Linda, da sua fase de cantor popular. Vinícius segue com uma canção dele e de Caetano e conta que o baiano fez ao conhecer o Rio Negro no Amazonas, terra natal de Cantuária. Música homônima com o nome do rio, com uma poesia de exaltação soberba.
Dadi anima o local com a pulsante Abri a Porta, da sua antiga banda A Cor do Som e a plateia começou a se soltar mais. O show era quase uma dança das cadeiras, com os três dividindo os vocais. Jesse canta sua música Charles de Gaulle e Vinícius segue o baile encantando o povo com a linda Lua e Estrela, que ficou imortalizada na voz de Caetano e cantada junto pela plateia.
Dadi então só com voz e guitarra canta Menino Deus, mais uma do Caetano, que fez ao se defrontar com uma placa no bairro de mesmo nome em Porto Alegre. E em uma época difícil como foi o 2024 dos porto-alegrenses é um bálsamo de paz, na delicada interpretação do Dadi. Jesse então pega novamente o microfone e canta Fools Paradise, sua e de Petra Haden, emendando com a bela Rose du Ciel, explicando que iria cantar em francês.
Vinícius apresenta a próxima canção, em parceria dele com Chico Buarque, a lindíssima Ludo Real. Só de o cara ter feito uma música com Chico já e motivo de zerar a vida. Em dos momentos mais esperados da noite, Jesse Harris entoa seu sucesso, que fez o mundo cantar na voz de Norah Jones, Don’t Know Why, soltando sua bela voz. Dadi chama todos para contemplar o mestre Jorge Benjor, com Umbabarauma, com Vinícius soltando a mão na bateria e fazendo o Espaço 373 se soltar. Para fechar o show, Cantuária volta aos vocais e canta seu maior sucesso, que brilhou nos anos 1990 na voz do Fábio Jr., Só Você, mais uma cantada por todo mundo. Com um pedido de bis a banda resolve encerrar o show com uma homenagem ao mestre João Gilberto com a magistral Este Seu Olhar, fechando com chave de ouro uma noite de boa música intimista e de altíssima qualidade.
Dadi, Cantuária, Harris e o ótimo baixista Paolo Andriolo se conhecem faz tempos e nas folgas dos músicos se reúnem e apresentam esse delicioso projeto, que ainda teria mais uma noite, no sábado, em Porto Alegre, mostrando que boa música tem aos montes nesse Brasil afora. E essa junção de Brasil, Estados Unidos e Itália deu um tempero sutil, mas adorável nesses sucessos todos. No meu caso, ainda tive o privilégio de conhecer Dadi Carvalho (e só depois outros músicos também talentos e simpáticos) pessoalmente, um dos caras que me fez apaixonar pelas quatro cordas e fiquei mais feliz de saber que ele é uma grande pessoa também. Boa música não tem nacionalidade e está aí em grandes ou pequenos palcos, basta sabermos procurar.