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MÚSICA

Armandinho apresenta seu show no Araújo Vianna

Armandinho apresenta seu show no Araújo Vianna
  • Publicado em: dezembro 10, 2024

Quem nunca acordou querendo ver o mar, mas olhou pela janela e teve que se conformar que mora numa cidade grande, sem mar? No caso, com um rio, que até maio deste ano era apenas cenário de um pôr do sol lindo e não uma assustadora piscina que tomou Porto Alegre nas enchentes. Armandinho não só sonhou em pegar onda no Guaíba, como abandonou essa selva de pedra e faz muito tempo é morador do litoral de Santa Catarina. Ele, um Dorival Caymmi moderno, canta o mar, o amor, a preguiça e uma vida leve e idealizada, tendo como cenário as maravilhas da praia, e esse discurso combina com o ideal de grande parte dos gaúchos, viciados no litoral, no balanço do da rede ou do mar. Armandinho, com seu reggae e baladas românticas, sábado passado superlotou o Araújo Vianna e por duas horas fez seu povo cantar, dançar e se emocionar. O NoSet acompanhou pela primeira vez nosso querido regueiro pop star.

Como já disse antes, um abarrotado Araújo, num clima pré-verão, mesclando jovens com gente que acompanha desde 2001, ou como eu, até antes, esperava  o cantor, que passando das 21h30min, junto com sua ótima banda pisa no sagrado palco do Araújo para uma celebração de alegria, regada a reggae music e romantismo. O show começa com A Ilha, de 2013, e olhando para trás não se via mais ninguém sentado, todos no balanço do groove de Armandinho. Vestindo uma camisa branca e um chapéu, com seu visual de profeta de Jah, o cantor esbanjava vitalidade, dançando e cantando numa sinergia única entre público e artista. Com Rosa Norte volta para 2002, ao cantar seu paraíso catarinense. Com Eu Sou do Mar, de 2016, segue a toada praia, sol, surf, que Armando Antônio sabe fazer como poucos.

A energia e animação segue com o Reggae das Tramanda, aquela da selva de pedra e pegar onda no Guaíba, um dos primeiros sucessos que fez Armandinho decolar nas rádios e paradas gaúchas de 2001 a 2002. Eu Juro, de 2006, segue o baile do Armandinho, mas é com Ursinho de Dormir, canção romântica que o fez ultrapassar o Mampituba para brilhar nacionalmente, que a galera canta alto. Digo cantar mais alto, o público sabia todas e berrava junto com o cantor a cada sucesso.

Um medley juntando aquilo que Armandinho tende a cantar melhor, o mar, o amor e a natureza, contando com três sucessos do disco Casinha, dá aquele momento mais leve pro show, juntando a música que dá nome ao disco, mais Pescador e Analua, com Armandinho pasmo com as reações da galera. Vale citar o Dream Team que é a banda dele. João Coiote fazendo a mão nos backing e violão, Lúcio Dorfmann nos teclados, Luciano Granja na guitarra play, Pedro Porto Ultramen na baixaria dos graves,Vini Bondan detonando na batera e Renato Batista esmerilhando nos sopros. Um time de primeira escolhido a dedo para acompanhar o cantor.

Segue com seu maior sucesso nacional Desenho de Deus, aquela que diz que Deus tava namorando ao desenhar a sua amada, cantada a pleno pulmões e segue com duas não menos cantadas, mas menos cotadas, Lua Cheia e Outra Vida, naquele mesmo esquema, sol, luar, mar e namorar. Segue com talvez sua música mais madura, da época em que sua amizade com Charles Master o fez ser um TNT, a ótima Outra Noite que se Vai, só que no caso, aqui ele coloca o Marley na viola ao invés dos Beatles. Arranjo de primeira em um clássico do rock gaúcho.

O show segue com Tarde de Sol e depois eles tocam uma música mais recente, Minha Mina, composição da época da pandemia, que naturalmente é uma das menos ovacionadas por um público, que independente do artista, é ávido pelos sucessos e têm dificuldade de se relacionar com o novo. Segue com mais uma mais nova, Amor Vem Cá, e aproveita, como tem muitas músicas parecidas, emenda mais um medley com sucessos antigos, como Mãe Natureza, Star Fix e Amor de Primavera. Sol Loiro vem em seguida, e na seguinte, ele volta ao tempo onde tudo começou, em 2001, com a hoje infanto-juvenil, mas ainda hilária Folha de Bananeira, um sucesso local que faz o Araújo cantar o Cabrobó em alto e bom som. Emenda com a canção Paulinha, em que prudentemente troca a letra dizendo que depois dos 20 menina vira mulher, já que aos 15 como era original, pode dar cadeia.

O Araújo vai abaixo de novo com Toca uma Regguera aí, mostra que o Armandinho do reggae pegado e animado, ao menos para mim, funciona mais que nas canções de amor  juvenis. Baladas que são representadas logo depois com ele sentado no praticável da bateria, regendo as vozes do auditório e contando com as luzes dos celulares nas canções Casa do Sol e Sentimento, num momento tocante do show.

Mas a emoção pega forte quando anuncia a música Semente. Armandinho indignado, compara o descaso das autoridade que só mentem e pouco fizeram para evitar as tragédias do Sul e numa vibrante interpretação chega a ir no meio da galera, pega uma bandeira do Rio Grande do Sul, em um daqueles momentos que ficam pra sempre no corações e mentes de quem presenciou e quer ver um Rio Grande reerguido, forte e seguro. Sem muita cerimônia e com a bandeira do seu estado no palco, termina com Pela Cor do teu Olho, se despedindo de uma noite inesquecível em um dos maiores públicos do Araújo do ano.

Armandinho é simplicidade. Canta de forma direta as coisas do seu meio, suas paixões, amores, tanto em reggaes robustos como canções boas pra se tocar no violão (instrumento  que cada vez  menos toca no show). E essa maneira de ser quase brejeira, cria uma conexão com seu público, nos remete às coisas simples da vida e Armandinho é um poeta que sem rebuscamentos e enrolação fala a linguagem da galera, que às vezes só queria estar numa beira do mar e ter uma companhia pra dizer eu te amo.

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

Written By
Lauro Roth