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Crítica: Robô Selvagem

Crítica: Robô Selvagem
  • Publishedsetembro 17, 2024

Fica difícil crer que algo que tem o dedo mágico de Chris Sanders pode dar errado. Desde seus primeiros roteiros em animações como A Bela e a Fera, Aladdin e O Rei Leão, suas criações originais como Lilo & Stitch, o excelente Croods e Como Treinar seu Dragão, o roteirista e diretor apresenta sua marca com filmes repletos de boas mensagens, divertidos e com um requinte visual fantástico. Adaptando uma série de livros sobre um robô alimentado por inteligência artificial convivendo numa floresta, Chris Sanders nos apresenta uma das melhores animações do ano. Robô Selvagem (Wild Robot, 2024), aguardada estreia da semana nos cinemas.

No planeta Terra do futuro, uma nave com cargas de robôs acaba caindo em uma inóspita ilha. Dos robôs só se mantém intacto Rozzum. Fazendo um auto ajuste nas suas coordenadas, Roz (ele abreviou o nome) se auto programa para enfrentar sua nova realidade. É uma floresta cercada de animais, rios, árvores e perigos típicos de uma vida selvagem. Inclusive, dominando a linguagem dos animais, o robô acaba acidentalmente salvando um ovo que uma raposa iria comer e na sua mão choca um ganso. Chamando o filhote de ganso de Bico Vivo, Roz é aconselhado pelos outros animais para criar a ave até ao menos ter autonomia de poder migrar sozinha com seu bando em estações como o inverno. Surge ali um vínculo materno entre o futurista robô e o pequeno pássaro, que tem que aprender tudo com o robô, fato que acaba também despertando um senso de coletividade inesperado na fauna dos animais da floresta.

Em ano de Divertida Mente 2, Robô Selvagem chega junto para acrescentar qualidade no quesito animação, tanto em prêmios quanto no entretenimento da molecada de todas as idades. Chris Sanders toca com sensibilidade suprema essa adaptação dos livros homônimos de Peter Brown, em uma das adaptações mais chocantes dos últimos anos. Animação impecável da Dreamworks, realista, com detalhes incríveis e mesmo com um certo fanatismo exagerado, tenta dentro do possível, puxar o freio e explorar as belas caracterizações de todos os personagens. Robô Selvagem é uma fábula sobre pertencimento, adaptação, fraternidade e espírito de coletividade. Em tempos tão bicudos, onde às vezes é difícil falar assim, é quase uma alegoria socialista, em que uma comunidade se vê na obrigação de mudar com a chegada de um estranho que literalmente mudou para melhor a vida deles.

Mas como certeza o que toca mais nosso coração é a mensagem da maternidade. Aquela máxima que mãe ou pai é quem cria, é ilustrada com tintas marcantes no relacionamento de Roz com o pequeno ganso. Quase que como uma missão espiritual, o robô se vê na obrigação de não apenas criar a ave, mas educá-la e prepará-la para o mundo. Para voar, nadar e principalmente, nos mostrar que amor de mãe é para sempre, e que mesmo com toda a criação e vitórias pessoais do rebento, a preocupação é eterna e os sacrifícios para o bem estar de um filho jamais terão limites. Não podemos também deixar de falar de Astuto, a sagaz raposa, que aos trancos e barrancos, acaba criando um laço humano e realista com o inicialmente frio e calculista robô, mas que o ensina que na vida precisamos saber usar os atalhos e enfrentar percalços, coisas que a robótica quadrada tende a ter problemas. Em suma, malandragem, amor e coração tem que andar juntos sempre para enfrentarmos a vida.

Tudo funciona bem, desde a trilha sonora no ponto para emocionar, com uma bela e piegas canção original com cara de premiação de Oscar e a dublagem, no caso aqui vi a versão nacional, dá mais um show, mostrando que o Brasil é gigante nesse quesito, com profissionais brilhantes na área.

Robô Selvagem tem todos os elementos para fazer o sucesso merecido, um diretor e roteirista consagrado e humanista, um projeto visual deslumbrante, apesar de pecar no excesso de perseguições e rapidez das imagens, que por vezes acabam borrando a beleza gráfica do filme, sabe usar muito bem o humor com personagens divertidos como a raposa e situações que provocam belas risadas no espectador. Um filme memorável, onde a junção de dois mundos tão distantes, ao menos no filme, nos provam que basta o respeito, a reflexão das atitudes, o senso de coletividade, o diálogo e amor podem ser a solução (ah se fosse fácil assim, na vida real), mas também nos dá uma lição que maternidade não tem fronteira nem sanguínea ou cultural, precisa é sim ter muita doação e bom coração para enfrentar essa missão tão nobre.

Written By
Lauro Roth