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MÚSICA

Diogo Nogueira no Araújo Vianna em Porto Alegre

Diogo Nogueira no Araújo Vianna em Porto Alegre
  • Publicado em: dezembro 13, 2023

Diogo Nogueira é a prova viva que talento vem de sangue. Muito mais que apenas o filho do grande João Nogueira, o cantor também é um grande divulgador do samba, e com o programa Samba na Gamboa, prestou um serviço e tanto para a história do gênero. E Diogo também canta. Longe de ser apenas um rosto bonito, tem uma carreira de 15 anos, gravando canções e percorrendo o Brasil em shows. O mais recente é o de divulgação de seu novo trabalho: Disco Sagrado Vol 1. Esse show bateu ponto em Porto Alegre, sábado passado, no Araújo Vianna, o NoSet conferiu e conta nas linhas de baixo o que o Diogo apresentou para os gaúchos.

Com um bom público presente, mas longe de casa cheia, Diogo Nogueira subiu ao palco com bastante atraso, o que já provocou justa impaciência da plateia. Por volta das 21h40min, o cantor, com uma afiada banda de apoio e um grupo de dançarinos, começou o show com o antigo sucesso Fé em Deus, para delírio da plateia. O cantor, com um macacão azul claro e com muito ouro, segue o baile com Clareou e Porta Voz da Alegria, ambas de 2015. Com a plateia se animando, embica mais uma das antigas, Lua de um Poeta, do início da carreira. Fica claro que Diogo faz do início do show um revival dos sucessos que costuraram sua carreira no início, como Alma Boêmia, do disco Porta Voz da Alegria. A próxima canção é Pureza da Flor, belíssima composição de Arlindo Cruz, e nesse momento, Porto Alegre já está dominada pelo artista. Aliás, a capital dos gaúchos tem um quê de especial pro Diogo, que morou por aqui por dois anos quando era mais guri e tentou ser jogador de futebol, chegando a atuar pelo Cruzeiro de Porto Alegre, então como ele mesmo falou, estava em casa.

Mas como Diogo queria apresentar também seu novo trabalho, convida a plateia a prestigiar Herança Nacional, música nova. E com direito a folheto da letra dela colocado nas poltronas do Araújo para a galera cantar junto. Emenda a Boa do Samba, também do novo disco, mas é com Andança, clássico imortalizado pela voz de Beth Carvalho, que Diogo levanta de novo a plateia, em uma interpretação muito pessoal e com um belo arranjo da banda.

Chega o momento que o cantor faz uma homenagem ao gigante Arlindo Cruz, com direito a projeção no telão do cantor fazendo o que fazia melhor, tocando e cantando, e quase em dueto, ele canta a belíssima O Bem e emenda com o mega sucesso Meu Lugar, sucesso consagrado do Arlindo, em momento de pura magia do show.

Com Sou Eu, abre a pista de salão do show, e com os dançarinos, faz do palco uma grande gafieira, para delírio da plateia. O bloco ainda tem a canção Cabide, Trilha do Amor e Ouro da Mina, de 2021, e Brilho no Olhar. Nesse momento Diogo mostra todo seu samba no pé, dançando, brincando com a plateia e sensualizando, mostrando porque é um sex symbol da música popular brasileira, para suspiros dos fãs presentes.

Diogo avisa que irá prestigiar seu novo repertório, apresentando algumas novas canções. Ou seja, como todo mundo sabe, a deixa perfeita para sentar, ir ao banheiro ou buscar um chopp. Não que as músicas não sejam boas, mas é uma máxima de show a pouca aceitação de músicas novas. Enfim, sobre as músicas novas, elas são Ciência na Paz e Festa no Gueto, dois bons sambas, mas com pouco potencial de serem marcantes para o futuro. Uma coisa é preciso falar do Diogo, ele tem carisma, é um cara de beleza privilegiada, e faz, como já disse, um serviço sem igual para a memória do samba. Mas como artista solo, por mais que tenha uma banda competente, suas músicas que interpreta, são canções simples, sambas com letras muitas vezes banais e extremamente popularescas. Posso afirmar com autoridade que se ele não fosse tão respeitoso com o passado de bamba que carrega no sangue e na vida, seria um cantor como Ferrugem e Thiaguinho, sem demérito algum aos dois, mas enfim, cantor de sambas descartáveis, modernos e com relevância cultural menor. Concluindo, Diogo por muito pouco não entra no lugar comum do estilo. E foge muito por momentos como o próximo do show, onde senta numa cadeira, e com um arranjo original, canta aquela canção que marcou a carreira do pai e serve como legado para ele, Espelho, com direito a um trombone em destaque e uma emocionada interpretação do Diogo.

Depois disso, o show vira uma grande festa de referências e homenagem a boa música, começando com um medley homenageando a Bahia, com clássicos como Toda Menina Baiana, Moinho da Bahia, Samba da Minha Terra, Chuá Chuá, Tia Nastácia e Marinheiro Só, mostrando pra gauchada o tempero forte da Bahia na voz de um carioca que ama os gaúchos.

Diogo mostra todo seu talento vocal interpretando na sequência três clássicos do cancioneiro de Zeca Pagodinho, começando com Verdade, passando por Samba das Moças e encerrando com Vai Vadiar, tudo isso tocado com estilo pela brilhante banda Malandragem, que acompanha o artista. Com direito a cavaco, violão, banjo, bateria, três percussionistas, baixo, sopro e backing vocals. E mais um pot-pourri, dessa vez exaltando o Rio de Janeiro, ataca com Aquele Abraço, passeia pelo Cacique de Ramos com Vai Lá Vai Lá e encerra com o já clássico Tá Escrito, sucesso do Revelação. Obviamente que chega a hora de seu maior sucesso solo, Pé na Areia, de 2016, e como desde o início, com o auditório de pé cantando o hit número um da carreira do Diogo.

Para encerrar a festa, o cantor evoca um grande carnaval no Araújo Vianna, começando  com uma batucada versão de Descobridor dos Sete Mares, do Tim Maia, e depois com sua afiada bateria, uma homenagem a grandes sambas enredo, como É Hoje, Peguei um Ita no Norte ou clássicos como Exaltação à Mangueira e Foi um Rio que Passou em Minha Vida, transformando o auditório por alguns minutos numa mini Marquês do Sapucaí, com direito aos dançarinos vestidos com adereços populares como garis, vendedores de água, garçons, enfim, quem movimenta a avenida. Para encerrar, Diogo tem seu momento Roberto Carlos, e com todo seu charme, distribui rosas para as calorosas fãs, que aos gritos de lindo, gostoso e outros não tão publicáveis adjetivos, se deliciam com o artista ofertando as flores.

Diogo Nogueira, repito, se não tem uma voz marcante e um repertório próprio tão empolgante (eu disse samba), o que o faz ser apenas mais um cantor de samba popularesco, ao invés do que tenta vender com sua imagem de sambista raiz, nos apresenta um show competente, mesclando grandes sambas, homenageia seus ídolos, tenta apresentar suas novas (e apenas medianas canções), tem a companhia de uma robusta banda, um dedicado balé e apresenta o que o povo quer. Um grande espetáculo e com um artista que esbanja sua simpatia e carisma, apresentando o que os fãs querem e como todo fã é pouco exigente, ele cumpriu muito bem o seu objetivo para sua tão amada Porto Alegre. E como diria o pai dele, o medo do espelho se quebrar é grande, mas nesse caso está com seu legado, ao menos nos palcos, apenas rachado.

Crédito das fotos: Vívian Carravetta

Written By
Lauro Roth