Angra – Cycles of Pain Tour no Bar Opinião
Manter-se uma banda de qualquer estilo por alguns anos no Brasil já é uma tarefa hercúlea, imagina manter há mais de 30 anos uma banda de metal. Nesse quesito, tiro o chapéu pro Rafael Bittencourt, que com diversas formações desde 1991, ainda mantém viva a chama do Angra, umas das maiores bandas da história do heavy metal nacional. E produzindo, o que é ótimo, e nesse ano, lançaram pro mundo o bom disco Cycles of Pain, que está em tour pelo Brasil afora e teve Porto Alegre recebendo o seu show domingo passado. E que por muito pouco não saiu. A banda teve problemas em Joinville, o avião que os traria pra cá teve que cancelar o voo, obrigando a banda a ir até Campinas, pegar outro avião para Porto Alegre, atrasando o show em mais de três horas. E em um domingo à noite, isso é bem complicado. Mas a galera foi, entendeu, o Opinião recebeu um ótimo público para prestigiar a banda e o NoSet estava lá conferindo o novo show do Angra.
Sou da teoria que, devido ao atraso, o show de abertura poderia ter sido cancelado, até porque Luiz Toffoli nem atração local era e veio com a banda como convidado, enfim, o exímio guitarrista fez seu show, mostrando uma técnica apurada, um prog metal de qualidade, um excelente vocalista, mas com canções meio repetitivas e sem muito norte, mas funcionou bem, apesar da ávida espera da plateia pelo show do Angra e seu justificável, mas cansativo atraso.
Era mais de 23h30min (o show estava marcado para às 20h), então Rafael Bittencourt, Fabio Lione, Bruno Valverde, Felipe Andreoli e Marcelo Barbosa, sobem ao palco e quase levam o Opinião abaixo com Nothing To Say. Com a plateia ganhando, a banda seguiu o set com Final Light, do álbum Secret Garden, de 2014. Mas como o show era para apresentar pra galera o disco novo, eles tocam Tide of Changes parte um e dois, essa conhecida pela intro do baixista Andreoli. Galera delirando, principalmente os novos fãs. Eu como um dos fãs desde o principio da banda, tenho minhas restrições ao Angra recente, acho o Lione exagerado e com uma voz pouco suave e agradável, o que era tradição dos vocais da banda, Andreoli acho um baixista fantástico, mas suas linhas de baixo, de tão complexas, muitas vezes se tornam insuportáveis na execução, enfim falei… Mas segue o baile, e aí eles tocam uma das antigas, Angels Cry, o que faz os novos e velhos fãs cantarem junto o clássico do homônimo disco de estreia.
Depois a banda segue com a obra-prima Vida Seca, do novo disco, com Rafael dividindo os vocais com Lione, seguida da irregular Dead Man On Display, do Cycle of Pain. Mas o povo vibra mesmo é com Rebirth, onde canta junto e se emociona com Lione no clássico de 2001. Um dos grandes destaques da banda hoje é o exímio Marcelo Barbosa, cada vez tocando melhor, e é claro Rafael, esbanjando simpatia, conversando, cantando e solto no palco. Lione também me surpreendeu e está cantando bem, principalmente as canções do novo disco. Morning Star, de 2014, segue o set, para depois atacarem com mais duas do novo disco, as boas Here In The Now e Ride Into The Storm.
Chega o momento acústico, com Rafael sentado com violão em punho, tocando e cantando a lindíssima Lullaby For Lucifer, emocionando caras como eu, que estavam em 1997 no mesmo Opinião, no show do lendário Holy Land e depois seguem com a também marcante Gentle Change do Fireworks, essa numa bela interpretação de Fabio Lione, com a plateia cantando o nome do André Matos no fim, numa bela homenagem ao inesquecível maestro.
Passado o momento violão, banquinho e chorumela, a banda resolveu emendar petardo atrás de petardo. Começa com Cycle of Pain, mostrando que a intenção e com razão, era apresentar ao vivo as novas composições para os porto-alegrenses, vindo depois com a poderosa Silence Inside, do meio apagado disco OMNI, seguida por Bleeding Here, do álbum Hunters and Pray e encerrando esse bloco com Waiting Silence, de 2004. Nesse momento, a plateia cansada, assiste a banda sair do palco depois de ser ovacionada, mas logicamente faltava alguma coisa, né? Então os cinco retornam ao palco e tocam os dois maiores clássicos da banda, mas estranhamente tocados como se fosse um medley. Carry On, clássico supremo do metal mundial e Nova Era, talvez a segunda no ranking dos fãs, fecharam com estilo o novo show da banda.
Podem estranhar que não falei do baterista, o excelente Bruno Valverde, mas como sempre afirmo, apesar de ser um gênio das baquetas, pouco emociona, é genérico, da nova geração de bateristas hiper técnicos, só que com pouca identidade, mas repito, ótimo músico. Voltando ao Angra, apesar do perrengue e tanto que passou, veio para cá e apresentou um bom show, com muita vontade, profissionalismo, mostrando aos porto-alegrenses que a banda está muito firme, com um trabalho digno que é o novo disco na praça, praticamente tocando músicas de todos os seus discos, não esquecendo do passado, mostrando o poderio do seu repertório de mais de 30 anos, provando o porquê é umas das maiores bandas de heavy metal de todos os tempos. Mérito para Rafael, que carrega com louvor o nome e o legado da banda, mesmo que do velho Angra pouca coisa tenha sobrado…