Muita gente tem medo de palhaço, particularmente, esses arlequins que teriam apenas como intuito provocar o riso e a alegria, despertam em grande parte da população medo e repugnância. O cinema, é claro, ajudou a criar essa aura. Como não esquecer o palhaço de brinquedo de Poltergeist – o Fenômeno, que puxava os pés do menino debaixo da cama, ou o palhaço It, imortalizado nos cinemas em alguns bons filmes ou até o trash e divertido Palhaços Assassinos, onde bozos do espaço tocavam o terror nos terráqueos. Recentemente, um palhaço tem feito muito barulho e provocado muito medo nos cinemas, falo de Art The Clown, um bizarro assassino maquiado, que toca o terror em uma cidade pequena numa noite de Halloween, e já está no seu segundo filme, Aterrorizante 2 (Terrifier 2, 2022), de Damien Leone, que enfim estreia nas telonas brasileiras.
Um ano após os acontecimentos do primeiro filme, onde Art fez uma chacina em que só restou uma sobrevivente terrivelmente mutilada, o palhaço acaba ressuscitando e junto com uma entidade na forma de uma menina com roupa de palhaço, partem novamente para aterrorizar uma noite de Halloween. Os irmãos Siena e Jonathan, que recentemente perderam o pai, se preparam para mais uma noite do Dia das Bruxas. A menina pretende ir à festa numa roupa estilizada por ela mesmo, como uma guerreira, e o garoto, como Art o palhaço, já que é obcecado pela história de um ano atrás, para desespero da família, que não quer o filho metido nisso. O que se passa depois é uma matança desenfreada do sinistro clown, que tem como objetivo alcançar os irmãos e que num parque de diversões abandonado, acabam tendo que enfrentar a maléfica figura maquiada.
Muito barulho por quase nada? Também não vou ser tão cruel com o filme, mas os relatos de sessões nos Estados Unidos, onde gente saiu em ambulância, vomitou horrores, fugia do cinema, tamanha a nojeira gore do filme, realmente acho um exagero. O filme, claro, tem cenas de extremo mau gosto, mas que nada que o cinema italiano dos anos 70 e 80 não tenha feito, Abel Ferrara já não tenha ousado, alguns slashers dos anos 1980 ou o genial pioneiro Herschell Gordon Lewis, o pai da sanguinolência, não tenha apertado as tripas nas telonas. Lógico que Terrifier 2 (vou me referir ao filme com seu nome original, esse Aterrorizante ficou meio forçado) tem seus méritos. Em primeiro lugar, o palhaço Art já pode entrar no clã dos grandes vilões dos filmes de terror, com sua cara sinistra, às vezes engraçada, abusando de mímica e sem falar uma palavra no filme inteiro, consegue condensar todo nosso medo de palhaços num sádico, impiedoso e cruel assassino. Mas o filme é um amontoado de clichês de vários filmes recentes, como o próprio Halloween, Pânico, com referências a filmes como Pague para Entrar, Reze pra Sair e até pitadas de A Hora do Pesadelo, além de uma heroína a lá Mulher Maravilha, com a diferença que temos um banquete de sangue poucas vezes vistas no cinema comercial, muitos olhos saltados, braços arrebentados, cortes sem fim, escalpos, marretadas, ácido, enfim quando o filme pega no tranco, realmente pode provocar certo asco.
Confesso que tem uma morte que abusa dos limites da crueldade, e pelo jeito explícito que é mostrada, talvez seja o tal clímax de violência do filme. Voltando ao filme, ele tem intermináveis duas horas e 17 minutos, é muita enrolação para algo que poderia ser resolvido em 90 minutos. Tem uma história mal encaixada dos traumas dos irmãos, uma personagem sem sentido que é a menina palhaça, e ao invés de ter um ritmo frenético de assassinatos, o espaçamento entre eles chega a aborrecer, um roteiro muito mal trabalhado, desperdiçando uma continuação. Entre esse e o primeiro filme, fico com a certeza que o original, que era mais cru, direito, divertido e para quem gosta de sangue, é tão ou mais forte que esse. Outra coisa que aborrece é a aura meio Jason ou Michael Myers de Art. O personagem, que é bem divertido, é quase imparável, toma pancadas de todos os jeitos, marteladas, tiros, facadas e sempre volta com aquele sorriso debochado, como se nada tivesse acontecido. Outro detalhe é a música insuportável do palhaço e o sonho de Siena com um programa de TV, que poderia perfeitamente ser limado do filme que não faria falta alguma, mas o filme é do Leone e somos meros espectadores. Ponto positivo, mais uma vez os efeitos de maquiagem estão exemplares, provocando um realismo tenebroso nas intensas cenas de extrema violência.
Enfim, Terrifier 2 tem tudo para se tonar uma série mais prolongada, já que o palhaço sempre dará um jeito de voltar (atentem a cena pós-creditos, de uma bizarrice extrema e dando sinais de continuação) e fazer mais sucesso, quem sabe tendo a franquia comprada (e estragada) por um grande estúdio. E para quem gosta de um terror bem sanguinolento, mortes tenebrosas e um personagem bem acabado (mérito pra interpretação de David Howard Thornton com seus olhares e caras e bocas macabros) é uma bela pedida. Não aconselho para quem tem medo de palhaços ou estômago fraco, mas pode dispensar a ambulância que vai ser difícil ter um colapso com um filme mais marqueteiro que pesado, e que às vezes provoca sono de tão longo. Serve como curiosidade e quem é fã de terror vai sair feliz.