A relação entre pais e filhos pode ser complexa, o cinema tem mostrado várias formas de relações como essa, por vezes a alegria amarga de conhecer melhor o pai depois que ele morre. É isso que acontece em “A Partilha”.
O longa de 2020, distribuído pela A2 Filmes, é dirigido e roteirizado por Paul Riccio, no roteiro ele faz parceria com Jamie Effros, que também estrela o filme, como esse filho em luto pelo pai quase desconhecido. No elenco, além de Effros, estão nomes como: Norbert Leo Butz, Joanne Tucker, Louis Cancelmi, Cheri Oteri, Annapurna Sriram, Jaden Waldman, entre outros.
Martin volta à casa do pai para a triste missão de organizar o funeral dele e resolver sobre o destino da casa em si. Parece tudo muito simples, mas partilhas nunca são, especialmente quando a situação anterior guardava peculiaridades.
Anos antes, quando a mãe de Martin faleceu, o pai dele passou a morar sozinho na casa, fazendo amizade com aqueles que estavam a sua volta, um deles era Ted, com quem estabeleceu uma relação amorosa duradoura. Talvez por preconceito ou por não aguentar ver a memória da mãe deixada de lado, Martin se afasta deles, quase nunca entrando em contato com o pai e com amigos da comunidade, como Emma (dona do bar local e sua amiga de juventude).
Quando ele volta para aquela cidade, aquela casa, tudo parece ser diferente aos seus olhos. A descrição que as pessoas dão de seu pai é totalmente diferente do que ele lembrava, ele cresceu com o pai reservado, que não demonstrava sentimentos e era rígido em vários aspectos, mas esse mesmo homem passou a ser amoroso, acolhedor e tolerante. Isso tornou as coisas mais complexas para Martin.
Une-se a isso o fato de Ted ser a pessoa vulnerável na situação. Ele passou seis anos com o pai de Martin, mas eles nunca se casaram de fato, embora muito do que a casa havia se tornado havia sido por causa de Ted. A partilha entra nesse ponto, Ted não queria se fazer do local onde viveu momentos extremamente felizes, mas a propriedade é oficialmente de Martin, por ser herdeiro de seu pai.
Para que a partilha fosse resolvida era preciso que Ted e Martin se resolvessem entre si. Para ajudar estavam Emma e o marido, Terrence, que eram testemunhas da mudança do pai de Martin e do amor dele por Ted. Para atrapalhar estava Patty King, uma corretora de imóveis invasiva e inescrupulosa, que estava de olho no excelente negócio que poderia fazer com aquela casa.
O objetivo do filme é ser uma dramédia que abordasse a união homoafetiva e, talvez, as consequências da não oficialização em casamento, um assunto sério e largamente discutido no mundo. O aspecto dramático foi atingido com mais sucesso do que a comédia, mas a discussão ficou apenas no superficial, até mesmo sobre a relação familiar.
Há cenas bonitas de Martin descobrindo e se revoltando com essas novas informações de seu pai, há cenas interessantes de Ted, tentando se encaixar na visão do filho de seu falecido namorado (marido), há cenas de alívio cômico, especialmente com Patty e Terrence. Mas hora nenhuma a trama cresce o suficiente para ser de fato engraçado ou dramático, o equilíbrio, neste caso, tornou o filme mediano.
O que é uma pena, porque seria uma excelente forma de discutir o quão importante é legitimar a união homoafetiva, não desamparando o viúvo ou viúva em casos como o mostrado no filme.
Até mais!