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CRÍTICAS FILMES

Crítica: O Peso do Talento

Crítica: O Peso do Talento
  • Publicado em: maio 12, 2022

Nicolas Kim Coppola, ou melhor, Nicholas Cage, ou melhor ainda, Nicky Cage, no alto dos seus 58 anos de vida e 40 anos de carreira, pode se orgulhar de ser um dos atores de maior sucesso da indústria do cinema, e ao mesmo tempo ter no cartel uma grande lista de abacaxis sem noção equilibrando a sua saga cinematográfica. Gênio para uns, péssimo ator para outros, confesso que realmente é difícil classificar, por causa dessa montanha russa de obras muito boas e outras nem tanto, quem é realmente Nicholas Cage. Mas uma coisa podemos dizer do ator: ele sempre arrisca, e por mais canastrão que possa ser, seu nome está sempre nas telas. Nicholas Cage é tão Nicholas Cage que resolveu participar de um filme em que ele interpreta quem? Nicholas Cage! Falo de O Peso do Talento (The Unbearable Weight of Massive Talent, 2022), comédia de ação, com direção de Tom Gormican, estreia essa semana nos cinemas.

Nicholas Cage está arrasado, com dificuldades de conseguir qualquer papel e emplacar roteiros, tem problemas também com a ex-esposa e a filha adolescente, que sofre com a negligência do ator, e está a um passo de declarar falência. A solução parece cair do céu, quando seu agente consegue um convite de um fã espanhol que quer pagar um milhão de dólares para que Nicky viaje para a Espanha e passe o aniversário com ele. Nicholas, sem titubear muito, aceita o convite e passa a ficar amigo do anfitrião, Javi, um fã apaixonado por ele. Mas Javi é um procurado filho de um criminoso que a C.I.A. anda observando há anos, e Nicholas é obrigado pelos agentes a cooperar na prisão do novo amigo, que acaba levando a aventura como se fosse um dos seus filmes de ação.

Confesso que ao assistir O Peso do Talento achava que iria perder tempo em mais um grande abacaxi qualquer. Mas para minha gratíssima surpresa, saí muito feliz da sessão. Fazia tempo que não me divertia tanto despretensiosamente. O filme é uma bela tirada de sarro com o Nicholas Cage, que brilhantemente entra de cabeça no papel dele mesmo, com uma atuação muito boa, coisa rara na recente filmografia de Cage. O ator dá uma aula de egocentrismo, presunção, passa a maior parte do filme bebendo e curtindo a vida ao lado de seu novo amigo. Tudo isso pontuado por auto ironia, nonsense, piadas ótimas (brincando com filmes como O Gabinete do Dr. Caligari e As Aventuras de Paddington 2), referências divertidíssimas a diversos clássicos do astro como Despedida em Las Vegas, Con Air, A Rocha, 60 Segundos, A Outra Face, entre outros, além grandes cenas de ação. Mesmo puxando pra comédia, o filme tem grandes cenas de explosões, tiroteios, perseguições, suspense, caprichando propositalmente nos clichês do gênero, dando um ar de grande produção à galhofa do filme. O filme usa bem a metalinguagem, homenageia o cinema e é um prato cheio para a egolatria de Cage. Diferente de Quero Ser John Malkovich, comédia de 1999, com uma história intrincada, que o ator também entrou na brincadeira e permitiu os fãs viveram o seu eu John Mallkovich, O Peso do Talento não chega a ter o roteiro mirabolante e classudo do filme de 199,9 e nos dá um divertido e direto filme, com o melhor e o pior do Nicholas Cage, com a permissão dele mesmo.

Pedro Pascal, como o milionário contraventor Javi, está ótimo no filme, aliás, muito do que funciona no filme é a incrível química de Cage com Pascal, os dois atores se fecharam muito bem, tanto nas cenas de idolatria de Javi, quanto nas eletrizantes perseguições e treinamentos para o tal filme do espanhol. Tiffany Haddish também está bem como a agente Vivian, da C.I.A., na quase impossível missão de domar Cage para cooperar com eles, e Sharon Horgan também está ótima como Olivia Henson, ex-esposa de Cage, em sua missão de controlar o egocêntrico e infantil ex-marido. Nota positiva também para Nicky Cage, o alter ego jovem do Cage atual, que aparece em certos momentos do filme para dar conselhos infalíveis para o ator, em um papo impagável de Nicky para Nicholas.

 

O Peso do Talento é uma despretensiosa comédia bem movimentada, com ótimas piadas e tiradas de sarro na medida. Nicholas Cage está excelente como ele mesmo, um ator tentando brigar com seu egocentrismo, sua imaturidade e falta de objetivos e prioridades na sua vida, tudo isso muito bem conduzido num filme, que por incrível que pareça, tem tudo para no futuro ser um divertido cult movie. Assista sem medo de que a diversão é garantida, gostando ou não de Nicholas Cage.

Written By
Lauro Roth