A Broadway tem alguns musicais que se tornaram emblemáticos, icônicos até, que atraem a atenção do público mesmo em suas releituras, remakes e versões cinematográficas. Um desses musicais é “Cats”, um grande sucesso vindo da Inglaterra, com canções escritas por Andrew Lloyd Webber e roteiro adaptado da obra de T.S. Eliot, que perdurou na Broadway e ganhou a versão cinematográfica em 2019, com direção de Tom Hooper, que também adaptou o roteiro, ao lado de Lee Hall.
A versão do cinema surgiu com muita expectativa, desde sua história até o elenco escolhido a dedo, mas parece que as expectativas foram dolorosamente quebradas. Desde sua estreia nos cinemas, o “Cats” de 2019 vem recebendo duras críticas, que nem a presença do tal elenco estrelado pode salvar.
Agora o filme chegou no catálogo nacional da Amazon Prime Video e eu pude, finalmente, assistir à produção. Resolvi assistir por duas razões: Amo musicais e tenho a tendência de ser do contra (gostar daquilo que a crítica odeia).
Então, será que “Cats” é tão ruim assim?
Antes de responder, vou contar um pouco da trama. Eu mesma nunca havia assistido o musical inteiro, em nenhuma das versões, embora já conhecesse um pouco da história e da trilha. Imagine-se que os gatos de rua são organizados em bandos, cada gato com sua história, mas se unem pela sobrevivência. O principal bando das ruas de Londres é o Jellicle, que se reúnem uma vez ao ano, para o baile anual, momento em que um gato é escolhido para ter uma segunda chance de vida, ou seja, renascer para seguir um caminho melhor (em teoria).
Essa escolha é feita pela Old Deutoronomy e é baseada em um número musical, que cada candidato deverá apresentar durante o baile. Embora os próprios Jellicle competissem entre si, a maior ameaça vinha de fora, do gato Macavity, com truques de mágica e o poder de desvirtuar o caminho dos demais gatos, como vez com Grizabella, uma gata que tinha tudo para ser a estrela do próximo baile.
É na noite desse baile que mais uma gata é abandonada na área dos Jellicle, Victoria, que vinha de uma das partes mais ricas da cidade. O bando tem a missão de mostrar que era a vida Jellicle para ela e ainda destacar a importância do baile e os perigos ao redor. Victoria se deslumbra muito com cada detalhe, envolvendo-se, positiva e negativamente, com cada nuance daquela vida. Foi ela que conseguiu mostrar ao bando que Grizabella merecia ser ouvida.
A estória é boa, é uma longa noite de musical, com muitas aventuras para os felinos. A trilha sonora também é boa, praticamente não tiveram modificações do original, com direito a “Memory” (a música mais emblemática) sendo performada impecavelmente por Jennifer Hudson e Taylor Swift cantando e performando “Macavity”.
Maaaas … O filme realmente não se salva!
Mirou-se em uma grande produção, ambiciosa, ao nível de outros musicais que estão ganhando versões em filme, mas acertaram em um filme bem Sessão da Tarde, especialmente os efeitos especiais.
A ideia, pelo o que entendi, era usar a mesma técnica de figurino dos palcos, então os atores estão vestidos e caracterizados com as vestes de um felino, cada um com suas características e adereços diferentes. Talvez o efeito era tentar mostrar que eram gatos por trás, como dá para entender ao ver o figurino da Old Deuteronomy, mas pecam nos detalhes.
A Old Deuteronomy parecia um leão de frente e um gato velho de trás, sem contar com detalhes dos pés. Tinha “gato” com pés humanos à vista, outros com sapato para dançar sapateado e outros ainda de tênis. Em alguns dava para perceber que era uma roupa, não a pele.
A atuação também ficou confusa, pareceu presa aos palcos mesmo, com direção que não pensou na tela de cinema. As cenas musicais foram coreografadas para que o elenco parecesse com gatos mesmo, trejeitos e movimentos, mas ficou tudo muito caricato e, novamente, confuso.
A primeira impressão passada foi que essa movimentação parecia mais com o balé contemporâneo, com alguns detalhes do clássico, porque o gato (animal) tem uma elegância natural (sem zoação, pode prestar atenção na postura dos gatos). Mas misturaram tudo, sem uma lógica certa, colocaram uma bailarina profissional (linda) para ser Victoria, aí, do nada, ela estava saltando ou piruetando, como se fosse o Lago dos Cisnes.
Enfim, não fez muito sentido para mim e isso me distraiu muito.
Isso sem contar com o cenário, que era para dar a impressão que era tudo muito grande, já que o filme se passa sob a visão dos gatos. As escalas de tamanho variam de acordo com o ângulo, mas não do jeito certo, “quebrando” a magia do efeito visual.
Como não assisti o original, não sei dizer se o roteiro sofreu diferença, mas se for o do filme, não prende a atenção hora nenhuma, tem muita coisa fora de sentido, até para um musical sobre um bando de gatos.
Quando eu ouvi as primeiras críticas não conseguia acreditar, porque, para mim, o elenco realmente parecia que poderia dar o brilho que estava faltando, mas a impressão que ficou foi: Como Judi Dench e Ian McKellen aceitaram fazer esse filme?
Vou compartilhar os nomes do elenco com vocês, para dividir a indignação: Judi Dench, como Old Deuteronomy; Ian McKellen, como Gus, o gato de Teatro; Idris Elba, como Macavity; Rebel Wilson, como Jennyanydots (uma das candidatas no baile); Jason Derulo, como Rum Tum Tugger (outro candidato); James Corden, como Bustopher Jones (candidato mais estranho); Jennifer Hudson, como Grizabella; entre outros.
A bailarina que deu vida a Victoria é Francesca Hayward, e “Cats” foi sua estreia no cinema. Ela é, sem dúvidas, uma bela bailarina, interpretou e cantou bem também, vale a atenção para ela em outras produções, porque essa não a ajudou muito.
De todos do elenco, parece que as únicas que foram favorecidas foram Taylor Swift, porque basicamente aparece só na cena que faz a performance dela (assiti como se fosse um dos videoclipes dela, não tem erro), e Jennifer Hudson, por causa da interpretação de “Memory”.
Ainda assim, o elenco merecia muito mais da produção, pelo talento individual e em conjunto deles.
Respondendo à pergunta: é ruim sim, infelizmente.
Até Mais!