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CRÍTICAS FILMES

“Cinderella”, só que diferente

“Cinderella”, só que diferente
  • Publicado em: setembro 25, 2021

Mexer com clássicos é uma aventura em Hollywood, pode se tornar algo magnífico, sobressaindo ao original, ou pode ser um desastre. Quando essa “mexida” envolve princesa os riscos dobram.

A atual aventura vem da Amazon Prime Video, ao fazer mais uma versão de uma das mais clássicas princesas, “Cinderella”. A produção é escrita e dirigida por Kay Canon, chegou ao catálogo da Prime Video com muitas expectativas, mas talvez não tenha atingido tudo isso.

O primeiro passo dessa aventura foi ter mudado 90% da história, dando a entender que a história original só serviu como o ponto de partida de tudo isso. Antes de falar mais disso, vou apresentar a nova história.

Aqui Ella, ou Cinderella, tem um sonho bem incomum para a época, ser estilista e ter seu próprio atelier. E a moça tem talento, do pouco que tem consegue desenhar e costurar vestidos bonitos, mas não tem muitas chances de ter seu sonho realizado.

A madrasta, um pouco menos cruel do que a clássica história, deseja casar as suas filhas e Cinderella com rapazes de posses, que possam auxiliar no sustento familiar. Somente Cinderella tem um real pretendente, que ela evita, mas parece ser a única saída dela.

Na família real o problema é semelhante, o príncipe Robert não tem planos pessoais nem para se casar nem para assumir o trono, não tem ambições maiores do que as da juventude: diversão. Isso preocupa o pai super controlador (e rei) e a mãe cuidadosa, mas que não tem a voz ouvida.

Outra pessoa da realeza que não tem a voz ouvida é a princesa Gwen, irmã mais nova de Robert. Ela sim tem planos para o reino e para assumir o trono, é apaixonada pelos assuntos políticos e sempre tenta apresentar suas ideias, mas, por ser uma mulher, não é nem cogitada para a sucessão ao trono.

Robert ver Cinderella pela primeira vez quando ela chama atenção em um evento da realeza para a plebe, momentos depois de o pai dele o informar que daria um baile para que ele encontrasse uma esposa. Robert só pensava naquela plebeia baixinha e atrevida, então convenceu o pai a abrir o baile para todas as moças solteiras do reino, incluindo as plebeias.

Cinderella não acredita muito no baile e só vai porque é convencida por Robert, que, disfarçado de plebeu, compra o vestido que ela produziu, prometendo que na festa ela veria muitos vestidos bonitos e talvez tivesse chance de fazer “networking” (ao estilo medieval, mas ainda networking).

Ela quase não vai, afinal ainda era Cinderella no fundo de tudo, mas nessa versão seu impedimento é porque a madrasta já a havia prometido em casamento com um comerciante local e, por estar noiva, ela não poderia se expor daquela maneira. A garota tentou persuadir, falando de seu sonho de ser estilista, o que foi pior, porque a madrasta a desencoraja a fazer aquilo.

Se estamos falando de Cinderella tem Fada Madrinha, certo? E teve, com todo o glamour esperado, permitindo que Cinderella fosse e ainda conhecesse uma rainha que a queria como estilista pessoal em uma viagem oficial.

Lógico que teve reviravolta amorosa, quando ela descobre que Robert era o príncipe e que ele só se casaria se fosse com ela. Mas dessa vez o clássico não se aplica, essa Cinderella não se contentaria em ser uma princesa ou uma rainha, ela queria investir na carreira dela, embora soubesse o quanto gostasse desse príncipe.

O desfecho é que Cinderella e Robert ficam juntos, mas sem se casar, e ele não se torna rei. Um final um tanto quanto raso para uma história baseada em um clássico, não tendo resolvido alguns conflitos que surgiram ao longo da trama.

Esse filme foi classificado por muitos como esquecível e eu, com meu espírito rebelde, não tinha aceitado o rótulo até assistir a produção. Mas, realmente, em um mar de releituras e re-interpretações, essa é a versão menos contagiante e a mais esquecível, é até divertido de ver em alguns momentos, mas ele tem a pegada daqueles filmes de Sessão da Tarde, sem muito a ser explorado, não precisa pensar muito para assistir.

Muitas foram as mudanças dentro dessa estória, a principal foi a motivação de Cinderella. Nessa versão ela quer ser estilista e ter seu próprio ateliê, investindo em uma profissão em uma época que mulheres não poderiam ser donas do próprio negócio, a única forma de renda era o casamento.

A ideia de colocar a mocinha como uma jovem empreendedora até é legal, mas não dentro do contexto, porque a colocaram na época “original” (por volta do século XV). Talvez tivesse feito mais sentido se tivesse colocado em uma época mais moderna, o que também teria espaço e público para apreciar.

Ah, essa é uma versão musical, algumas das músicas foram criadas para a produção, com assinatura de Camila Cabello, que interpretou a Cinderella, mas outras já são conhecidas do grande público, tende recebido uma versão para o filme, como foi o caso de “Material Girl”, “Perfect” e “Somebody to Love”.

Mais uma vez, parece que não fizeram o encaixe certo e tudo ficou muito caricato, parecendo mais uma paródia do que uma releitura. Um grande exemplo é o uso da música “Somebody to Love”, clássico do Queen, mas que também integra a trilha do filme “Uma Garota Encantada”, de 2004, estrelado por Anne Hathaway e Hugh Dancy.

Esse filme, “Uma Garota Encantada”, é baseado no livro “Ella Encantada”, que tem forte inspiração na estória original da Cinderella, mas tem essa pegada de humor de Sessão da Tarde, mas ganha de fácil da versão 2021 de “Cinderella”.

A primeira coisa que me veio à cabeça quando a cena em “Cinderella” começou foi Anne Hathaway cantando em um casamento de gigantes, sendo “Uma Garota Encantada”. Se tivessem usado certo a música essa referência só seria lembrada depois, minha atenção estaria voltada no desenrolar do filme que eu estava assistindo.

Para todos os efeitos, não é a melhor versão da princesa do sapatinho de cristal, o que é uma pena, porque o elenco tem nomes de peso, como Pierce Brosnan (o 007 e um dos pai de Sophie em “Mamma Mia”) e Minnie Driver como o rei e a rainha, Idina Menzel (a voz de Elsa, de “Frozen”) como a madrasta da Cinderella e Billy Potter (de “Pose”) como a Fada Madrinha.

Curiosidade: Minnie Driver também está no elenco de “Uma Garota Encantada”.

Além desses nomes citados, ainda tem uma participação basicamente bizarra de James Corden, que também produz o filme, e Camila Cabello fazendo sua estreia como atriz, que foi o mote do marketing desse filme, a primeira Cinderella Latina.

Ela até que atua direitinho, mas o conjunto não ajudou em nada, tendo atrapalhado quem está há anos na estrada.

Até Mais!

Written By
Nivia Xaxa

Advogada, focada no Direito da Moda (Fashion Law), bailarina amadora (clássico e jazz) e apaixonada por cultura pop. Amo escrever, ainda mais quando se trata de livros, filmes e séries.