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Crítica: Caminhos da Memória

Crítica: Caminhos da Memória
  • Publicado em: agosto 19, 2021

Talvez uma das coisas mais saborosas da vida são nossas reminiscências. Quantas vezes não paramos para lembrar daqueles momentos únicos que fizeram parte de nossa história e buscamos na memória como uma saída para a dura realidade do presente. E o melhor, estas recordações são exclusivas nossas e podemos buscá-las em qualquer lugar sem depender de nada, apenas de nosso cérebro. E se essas memorias tão boas, intimas e inesquecíveis pudessem ser revividas e guardadas em programas para assistirmos a hora que quisermos em casa? Lisa Joy, na sua estreia na direção no cinema e assinando também o roteiro, apresenta Caminhos da Memória (Reminiscence, 2021), que usa como argumento uma máquina que humanos pagam para reviver e levar suas mais importantes. O filme estreia essa semana nos cinemas.

O planeta Terra vive uma realidade dura. Guerras recentes marcaram a humanidade, grandes cidades estão quase submersas devido ao caos climático e a sociedade está em colapso devido a divisão das terras secas, que ficaram com magnatas, e a parte submersa e devastada, que ficou com grande parte da população pobre. Em uma Miami que lembra uma Veneza, Nic Bannister, veterano de guerra, vive de relembrar memórias dos outros. Ele tem uma empresa que ajuda as pessoas a reviver momentos marcantes de suas vidas. Ele conta com a ajuda de Watts, também veterana de guerra, que o ajuda a administrar o negócio na alagada Miami. A dupla também presta serviços para a lei, ajudando a polícia, através da máquina, a extrair da memória dos suspeitos de crimes, sua culpa neles. Um belo dia, uma misteriosa mulher aparece com a banal desculpa que precisa achar suas chaves e precisa buscar na sua cuca onde deixou o chaveiro. Nick acaba se apaixonando por ela e vai descobrindo que aquela mulher fatal está envolta em algo muito mais sombrio que um molho de chaves perdido.

A cocriadora da série Westeworld, Lisa Joy, debutando na tela grande, estreia com um filme que tinha tudo para ser uma ficção distópica original, mas que infelizmente acaba descambando para uma história de amor exagerada ao extremo. A atmosfera do filme ajuda bastante, com um clima noir futurista e semi-apocalíptico, com todos os elementos de uma obra do gênero, um cara amargurado que age sozinho, uma mulher fatal envolvida em segredos, uma parceira que tenta dar a real e uma história envolvendo o submundo e os poderosos. Só que ao invés de vielas escuras e cidades barulhentas, temos barcos, prédios inundados e uma devastação social. Lisa consegue misturar o melhor dos filmes noir dos anos 1940 e 1950, mistura um Chinatown com Blade Runner, uma pitada de Waterworld, A Origem, mas acaba descambando para o amor impossível de Em Algum Lugar do Passado. Não que o filme não agrade. A fotografia de Paul Cameron é sombria na medida certa para as cenas noturnas e abusa de planos abertos mostrando como ficaram as cidades quase submersas, o roteiro é bem desenvolvido, bem amarradinho e de fácil compreensão, não precisa pensar muito para entender, mas abusa demais de frases prontas sobre tempo, memória, aproveitar a vida, soando falso e cansativo. E quando o filme parecia que teria uma reviravolta que justificasse tudo, terminando por cima, ele se afunila para um romance obsessivo, às vezes até irracional, desperdiçando uma bela ideia e mudando o rumo da película. Hugh Jackman está muito bem, nosso eterno Wolverine na pele de Nick, cientista e ex-combatente, expert em xeretar a memória alheia, mostra que está em forma nas ótimas cenas de ação e principalmente, por mais piegas que possa ser, convence muito como um atormentando e apaixonado Nick. Rebecca Fergunson também está bem como a femme fatalle típica dos filmes do gênero, encantadora como Mae. A química do casal funciona bem, despertando até uma certa torcida da plateia pelos dois, apesar da pouca plausibilidade da relação. Fechando a trinca dos atores principais, Thandiwe Newton como Watts, assistente de Nick, também assombrada por um passado nebuloso que tenta esquecer no álcool, talvez seja a que está mais a vontade da trama, uma digna atuação fazendo um contraponto realista ao insano relacionamento do casal e sempre tentando dar um norte à desesperada busca de Nick  por Mae.

Mas, apesar dos pesares, Caminhos da Mente ainda agrada, é um filme bem formado, com cenas de ação muito bem realizadas, não abusando demais de efeitos especiais, mesmo se passando num futuro em que a tecnologia é um pouco mais avançada, tem atuações dignas e uma história que prende. Talvez poderia ter menos tempo de duração, cansa um pouco a metragem, tudo poderia ser resolvido com meia hora a menos, porém o que realmente decepciona é que, um filme com todo o ar de originalidade que se pintava e expectativa da já consagrada nas series Lisa Joy e tendo como argumento central a tentadora ideia de mexer com os segredos mais desejados da nossa mente, acaba virando uma história de amor insensato, clichê e pouco crível e um final, digamos, sem dar spoiler, um pouco absurdo. Pois já vimos personagens morrer de amor, mas se “embriagar” de memórias é um pouco forçado.

Sobre o filme: A diretora, roteirista e produtora Lisa Joy apresenta Caminhos da Memória, thriller de ação da Warner Bros. Pictures estrelado por Hugh Jackman, Rebecca Ferguson e Thandiwe Newton.

Nick Bannister (Hugh Jackman), um investigador particular da mente, navega pelo mundo obscuro e fascinante do passado, ajudando seus clientes a acessar memórias perdidas. Vivendo às margens da costa submersa de Miami, sua vida muda para sempre quando ele decide atender uma nova cliente, Mae (Rebecca Ferguson). Um simples caso de “achados e perdidos” torna-se uma perigosa obsessão. Enquanto Bannister luta para descobrir a verdade sobre o desaparecimento de Mae, ele descobre uma violenta conspiração, o que o leva a ter que responder à inevitável pergunta: “até onde você iria para proteger aqueles a quem você ama?”.

Ao lado do ator indicado ao Oscar, Hugh Jackman (“Os Miseráveis”, “O Rei do Show”), de Rebecca Ferguson (o aguardado “Dune”, a franquia “Missão: Impossível”) e Thandiwe Newton, (“Han Solo: Uma História Star Wars”), estrelam o filme Cliff Curtis (“Megatubarão”, “Velozes & Furiosos: Hobbs & Shaw”), Marina de Tavira (“Roma”), atriz indicada ao Oscar, Daniel Wu (série “Into the Badlands”, “Warcraft: O Primeiro Encontro de Dois Mundos”), Mojean Aria (séries “See” e “Dead Lucky”), Brett Cullen (“Coringa”), Natalie Martinez (séries “The Stand” e “The Fugitive”), Angela Sarafyan (série “Westworld”) e Nico Parker (“Dumbo”).

Lisa Joy (série “Westworld”) faz sua estreia no cinema com Caminhos da Memória, assumindo a tripla função de diretora, roteirista e produtora. Além de Lisa Joy, o filme tem como produtores Jonathan Nolan, Michael De Luca e Aaron Ryder. Os produtores executivos são Athena Wickham, Elishia Holmes e Scott Lumpkin.

Para a equipe de produção, Lisa Joy trouxe vários de seus colaboradores de “Westworld”, como o diretor de fotografia Paul Cameron, o designer de produção Howard Cummings, o editor Mark Yoshikawa e o compositor Ramin Djawadi, ao lado da figurinista Jennifer Starzyk (“Bill & Ted: Encare a Música”).

Written By
Lauro Roth