Na União Soviética dos anos de 1960 aconteceram muitas coisas, mas era uma época de transição de poder, o que mudou um pouco os ideais do governo, por isso muita coisa foi enterrada. Muitos eventos só foram descobertos depois que a União se dissolveu, voltando a ser Rússia.
Um desses eventos foi a Revolução de Novocherkassk, datado de 1962, mas só descoberto em 1992. A partir dos arquivos da investigação deste surgiu o longa “Cara Camaradas! Trabalhadores em Luta”, dirigido por Andrey Konchalovskiy, quem também assina o roteiro, ao lado de Elena Kiseleva, que chegou ao Brasil no último dia 29 de julho, graças a A2 Filmes.
No elenco principal estão Yuliya Vysotskaya, Vladislav Komarov, Andrey Gusev, Yuliya Burova, Sergei Erlish, Alexander Maskelyne, Goga Pipinashvili.
Na pequena cidade de Novocherkassk de 1962 as coisas estão difíceis, há racionamento de comida e outros suplementos, rumores estranhos sobre o governo, mas o Comitê da Cidade e seus membros tentavam manter as coisas na máxima normalidade, especialmente Lyudmila, que lutou bravamente na revolução liderada por Stalin (que acabara de falecer na época).
Lyudmila é extremamente fiel aos seus ideais, acreditava de verdade que os tais rumores de endurecimento do governo não durariam, lutava bravamente no Comitê para que o regime e os ideais “conquistados” por Stalin fossem mantidos. O que ela não entendia era que a filha dela, Svetka, havia herdado esse espírito de baralha dela, só que atualizado para sua geração.
Svetka já tinha 18 anos e trabalhava na fábrica local, então ela entendia os desafios diários dos trabalhadores, especialmente com os cortes nos salários. Por isso ela defendia a nova revolução do proletariado, decidindo lutar pelos seus direitos. Isso causou um choque de gerações dentro de casa, mas suas consequências foram sentidas do lado de fora.
No dia 1º de junho de 1962 Novocherkassk presencia um dos maiores banhos de sangue provocados pelo governo. O exército e os oficiais do KGB ficam sabendo das greves e movimentos de luta dos trabalhadores daquela pequena cidade, logo chegam para “ajudar” o governo local a acalmar tais movimentos. No citado dia as coisas pioram, os trabalhadores se reúnem na frente da sede do governo local, protestando por seus direitos, a maioria sem atos violentos. A resposta do exército e do KGB é abrir fogo contra aqueles trabalhadores.
Lyudmila sabia que Svetka estava no meio daquela multidão, por isso ela procurou a filha por todos os lugares possíveis, tentando equilibrar sua mente pragmática e programada pelo regime em que vivia e o amor de mãe. Ela acaba descobrindo que havia muitas coisas erradas por debaixo dos panos do governo e que o KGB era responsável por muitos deles.
O mais interessante é que Lyudmila não duvida de seus ideais hora nenhuma, ela continua acreditando naquilo tudo que aprendeu quando ela mesma lutava, no que o governo de Stalin e “camaradas” pregava, preferia pensar que havia errado na educação de Svetka, para ela ter se tornado quem se tornou.
Essa estória de Lyudmila é a parte fictícia do filme, mas muitas mães devem ter buscado seus filhos naquele dia, muitos sofreram perdas naquele dia, muitos sequer puderam se despedir das pessoas amadas, porque seus corpos foram “confiscados” pelo governo (para manipular números, diminuir a tragédia em documentos oficiais, etc).
Até Mais!