Quer devagar comigo? – “Sim, Não, Quem Sabe”
Os tempos sombrios da política atual, seja aqui no Brasil seja nos EUA (que estão começando a ver luz), pode afastar os jovens que não votam, e que pouco se importam em conhecer o processo e as reais consequências para eles e para quem os rodeiam.
Detalhe, Becky Albertalli já é bem conhecida, ela escreveu o livro “Com Amor, Simon”, que ganhou a versão cinematográfica, estrelando Nick Robinson e Katherine Langford.
Mas vamos ao distrito de Atlanta onde mais se concentra adeptos aos Democratas, onde moram o desajeitado, estudioso da política estadunidense e judeu Jamie e a estudiosa, determinada e mulçumana descendente de paquistaneses Maya.
Jamie e Maya eram próximos na infância, quando as mães eram mais próximas e os levavam para brincar no mesmo lugar, mas aos 17 anos eles pouco se lembravam um do outro, até que a política os colocou juntos.
Jamie e sua família está intimamente ligada à campanha de Jordan Rossum ao senado estadual, isso porque seu primo, Gabe, é o chefe da campanha e sua avó, Ruth (vulgo InstaGramm), é a responsável pelas mídias sociais. Essa eleição é suplementar e segue a regra estadunidense, é opcional, por isso mesmo o grande trabalho é espalhar a notícia dela e alertar para o perigo do oponente (um republicano supremacista) ganhar a disputa.
Isso tudo acontece no verão, o que afasta ainda mais as pessoas do assunto, mas é a oportunidade perfeita de ocupar um adolescente de férias, ou vários deles, e Jamie está no meio. Embora ele saiba muito sobre política e entenda toda a importância desse momento, ele sofre de timidez crônica, com consequências sérias, isso o faz ser só um acessório na campanha, o garoto que compra os lanches.
Isso tudo muda quando Maya aparece.
Maya está um momento difícil, seus pais estão se separando e sua única amiga, Sarah, está indo para a faculdade (ela é um ano mais velha), isso é muito para quem não consegue lidar com mudanças. Uma das coisas que a ocuparia o verão era conseguir trabalhar de babá, mas, para isso, precisaria de um carro.
A família de Maya segue as tradições mulçumanas, eles estão comprimindo com o Ramadã, um dos eventos desse período reuniria todos os adeptos, o Iftar. A comunidade inter-religiosa entrou em acordo com a campanha de Rossum de ele aparecer nesse evento e fazer um discurso.
É aí que Maya e Jamie se encontram!
A mãe de Maya a coloca como voluntária para fazer campanha de porta em porta, a mãe e o primo de Jamie dão a ideia de eles dois trabalharem juntos, já que ele tem um carro e pode dar carona a ela. Ah, por parte de Maya tem a promessa de talvez ganhar um carro para ela depois da eleição.
O começo foi estranho, entre Jamie superar o medo de falar com garotas (com pessoas em geral) e Maya começar a realmente entender a importância da campanha e da vitória de Rossum. Aos poucos eles vão se tornando próximos, um ajudando o outro, mas demorou para assumirem que eram amigos e que poderia acontecer mais alguma coisa.
O que mais os uniu foi descobrir a Lei 28, uma lei racista e machista, que obrigaria as mulheres mulçumanas a não usarem o hijab (lenço que esconde os cabelos e tem significado religioso) por alegas questões de segurança. A vitória do oponente de Rossum significaria a aprovação da lei e a abertura para comportamentos preconceituosos para com mulçumanos, judeus e outras comunidades que não são bem-vistas pela supremacia branca.
Nesse meio tempo eles passaram a ouvir e ignorar indiretas de que eram um casal, primeiro porque eles precisavam de um amigo, um ombro amigo, naquele momento, depois por causas a diferença religiosa entre eles. Maya foi orientada a vida toda que não poderia namorar, nem mesmo beijar ela poderia, se não fosse pensando em se casar com aquela pessoa.
Mas, sabem como é o clichê amigos-amantes, eles se apaixonaram, o desafio seria como lidar com isso sem estragar a linda a amizade que construíram, foi ela que acalentou Maya quando ela sentiu medo das mudanças de sua vida, foi ela que fez Jamie superar sua timidez e começar a pensar seriamente em seguir uma carreira na política. Esse livro é despretensioso, você começa a ler pensando que é mais uma comédia romântica adolescente, o que não é mentira, tem muitos elementos do gênero que dão leveza à história, mas começam a aparecer assuntos extremamente sérios, debates que deveriam ser feitos com a maior seriedade dentro de vários ambientes.
A descriminação por motivo de religião parece uma coisa muito distante de nós, mas ao ler as comparações simples e dinâmicas do livro é possível perceber que estão muito mais próximas. Aliás, são alegorias que podem ser aplicadas para outros tipos de preconceitos. A discussão política se baseia no cenário dos EUA de pós-2016, com Donald Trump na presidência e uma ascensão supremacista branca em cada estado, um panorama assustador do que estava acontecendo e do que poderia acontecer.
Preciso compartilhar essa explicação, que Jaime usa Maria Bros. para tornar mais simples:
“Nos jogos do Mario Bros., tem um grande vilão … o Bowser, que é uqe megatartaruga do mal – diz Jaime, por fim – E também tem os Koopa Troopas, umas tartaruguinhas muito fofas, mas completamente malignas. Bowser se tornou presidente em 2016. Mas acho que que ainda não tinha entendido que não se trata apenas dele … Existem centenas de Koop Troopas em que precisamos ficar de olho também.”
Alguma semelhança com outro país, digamos, sei lá, o Brasil (falei e corri).
Outra coisa interessante é que o nome do presidente não foi citado hora nenhuma dentro da narrativa, assim como nenhum dos “koop troopas”, embora saibamos de quem ele está falando.
A parte leve, de comédia romântica adolescente, é muito bem colocada com referências da geração e a descrição de momentos constrangedores que todo ser humano já passou na adolescência … oh época estranha, misericórdia.
Alguns exemplos de referências são: Harry Potter, Maria Bros., The Office e Orgulho e Preconceito. Isso sem contar com os memes e a dinâmica dentro do Instagram, que auxilia em boa parte da trama.
Para finalizar sem soltar mais spoilers, a relação entre Jaime e a irmã mais nova, Sophie, não poderia ficar de fora. Eles têm aquela dinâmica clássica de irmãos, com farpas sendo trocadas diariamente, mas eles compartilham de momentos muito sentimentais sem exageros, são pequenos gestos aqui e acolá que, unindo tudo, mostram a força da aliança que eles têm entre si.
Ah, o “Quer devagar comigo?” faz referência a uma “pérola” de Jaime em um baile, quando ele tinha uns 13 anos, ele ia convidar uma menina que gostava para uma dança lenta, mas acabou trocando a ordem das palavras. A garfe se transformou em piada interna na escola.
Devido a situação com Maya, a pergunta passa a fazer sentido entre eles, tanto porque eles conversavam muito quanto porque eles precisarão ir com calma.
Tudo que peço é que a história se transforme em filme, mas dessa vez fiquei tão focada na história que nem imaginei um elenco … Talvez Logan Lerman como Jaime, mas sei que a idade não bate mais.
Este livro pode ser adquirido na Amazon!
Até mais!