O fator humano é o elemento que move (ou deveria mover) os profissionais da saúde em qualquer lugar do mundo, também é o que faz as pessoas se entenderem entre si, mesmo que não pareça possível em algum momento.
Essa é parte da mensagem do filme russo “Arritmia”, lançado em 2017, mas que chega ao circuito brasileiro de cinema por meio do Festival de Cinema Russo. O longa é dirigido por Boris Khlebnikov, que também assina o roteiro, ao lado de Nataliya Meshchaninova, e é estrelado por Aleksandr Yasenko e Irina Gorbacheva.
A trama tem como foco o casal Oleg e Katya, casados há mais ou menos 05 anos. Oleg é paramédico e, embora talentoso e inteligente, tem a tendência de ser grosso e desenvolveu um problema com bebida. Katya é uma médica muito dedicada e com futuro promissor.
A relação deles parece estar em um caminho sem saída, a forma como Oleg tem lidado com a bebida e com os problemas no trabalho tem irritado Katya, fazendo-a questionar o seu amor pelo marido. Ela chega ao seu limite e começa a falar em se divorciar.
Enquanto isso, o trabalho de Oleg tem o pressionado ainda mais com a mudança do chefe da emergência, alguém mais rígido, que não aceitará as atitudes dele e fechar os olhos para as advertências que ele tem recebido.
Logo na primeira reunião com todos os paramédicos é possível perceber o quão rígido e injusto esse novo chefe é, mudando as regras práticas de atendimento de cada unidade. Isso irrita todos, ainda mais Oleg, que nunca nem se importou com regras em geral.
Ele fica a ponto de perder o emprego quando desafia uma dessas novas regras, a que cada atendimento só pode durar 20min, isso porque a paciente não apresenta melhora dentro desse tempo. Contudo, em outra ocorrência, a paciente vem a falecer por falta de atendimento.
É vendo essa relativização do fato humano que Oleg se mostra mais vulnerável a Katya, momento em que eles conseguem chegar a um acordo silencioso de que ainda se amam e não devem se divorciar.
Esse foi o primeiro filme russo que assisti e achei um tanto quanto estranho, começando, obviamente pelo idioma. É engraçado como os diálogos parecem ser agressivos só por causa da pronúncia das palavras em russo, foi difícil me concentrar na história e até de entender o gênero do filme por causa disso.
Quanto à trama, o lado profissional me chamou mais atenção do que a relação do casal. É revoltante ver o quão tirano esse novo chefe vai se tornando, falando de pessoas doentes como se fossem números ou coisas, descartando a experiência e o conhecimento de quem trabalha em campo, pensando só em lucros.
Isso não inocenta Oleg, ele começa como um paramédico relapso e impaciente, que constantemente aparecia para trabalhar de ressaca. Ao longo do filme, talvez compensando o clima pesado de dentro de casa e refletindo suas escolhas pessoas, ele se mostra mais proativo e interessado em exercer a profissão, arriscando-se pelo bem dos pacientes e não pelo dele próprio.
Detalhe, a sinopse do filme informa que ele é um paramédico devotado aos pacientes, o que, como podem supor, eu discordo. Ele passou a ser devotado, ao começar a entender a importância de seu trabalho, mas isso não interfere muito na sua relação com Katya, pelo menos não em uma análise rasa.
A sensação geral do filme é de frieza, mesmo nos momentos mais relaxados, mas acredito que isso seja um choque cultural, o temperamento brasileiro é bem diferente do russo, isso é demonstrado claramente tanto na produção quanto na minha reação ao assistir.
Até mais!