Crescer entre dificuldades, seja qual for a dimensão destas, faz com que as pessoas aprendem a sobreviver sozinhas e nem sempre aceitam ajuda quando as circunstâncias exigem isso. É isso que Amber aprende em “Quase uma Rockstar”.
Esse longa foi uma das estreias da Netflix do mês de setembro de 2020, cujo nome original é “All Together Now”. Trata-se da adaptação do livro “Sorta Like a Rockstar” (ou “Quase uma Rockstar”), de Matthew Quick, que também assina o roteiro do filme, ao lado de Marc Basch e Brett Haley, quem assina a direção.
Amber Appleton parece ser uma adolescente normal, é bem ativa na escola, sempre envolvida na organização dos eventos do departamento de arte, com boas amizades e boa perspectiva de entrar uma faculdade do gênero. Ela sonha em ser cantora. Ela também tem um crush nada secreto, Ty.
Contudo, o que poucas pessoas percebem é que ela trabalha em três diferentes lugares, guardando cada centavo para ajudar a mãe, Becky. Elas estão há alguns meses sem teto, dormindo escondidas no ônibus que Becky dirige (ônibus escolar), durante o dia Amber se vira como pode, esforçando-se para não perder a positividade e não entregar sua atual situação.
O pai de Amber faleceu anos antes, ele também tinha talento para a música, o que inspirou a garota a seguir o caminho. A vida dessa família era boa, mas depois da morte dele as coisas começaram a desandar, Becky foi se perdendo aos poucos, começando a se entregar ao alcoolismo. Nos últimos anos estava em um relacionamento abusivo, com várias idas e vindas, não ajudando em nada em sua fase sóbria.
Amber era contra esse relacionamento, lógico, ela sofria por ela e pela mãe. Quando ela percebe que Becky quer, mais uma vez, voltar para ele, mais por necessidade do que por amor, elas brigam sério e Amber se recusa a ficar com a mãe.
O timer não poderia ser pior, a audição (requisito para entrar na faculdade dos sonhos) é em poucas semanas, Amber tem que se preparar e ainda tem que lidar com as custas do transporte e hospedagem, já que será em outra cidade. Ela encontra em Ty uma grande ajuda, ele a abriga por um final de semana na casa de campo da família, onde revela seus dotes ao piano, ajudando-a a aprimorar a música que escreveu inspirada no pai, canção que escolheu para cantar na audição.
Ao voltarem para a cidade Amber conversa com Donna, mãe de seu melhor amigo, Ricky, para a abrigar enquanto a mãe não aceita ajuda nem sai do relacionamento. Assim ela poderia se concentrar em problemas adolescentes “normais”.
Como nada vem fácil, ela tem que enfrentar outros problemas sérios. Primeiro vem a notícia que a mãe se envolveu em um acidente e não sobrevivera, o que é muito para lidar, mas ela tinha Donna e Ricky ao seu lado. Eles não a deixaram desistir dos e, por isso, da audição.
Daí vem o segundo problema, o cachorrinho dela, que ela tem como membro da família (era de seu pai), adoece seriamente, no dia que ela tinha que viajar para a audição. Essa é a gota d’água para ela, o resto de sua positividade de esvai e, junto com ela, o pouco de dinheiro que tinha para ir fazer a audição, já que tem que pagar pelo procedimento veterinário (que nem cobre tudo).
Ela abandona o colégio e se dedica a trabalhar, preocupando todos em volta dela.
Amber sabe se virar sozinha, é uma lutadora nata, por isso não aceita ajuda dos outros, não se sente que merece isso, não gosta de ser o centro das atenções, mas ela faz tudo por todos.
Pensando nisso, Ty e Ricky, com ajuda do professor de artes (mentor de Amber) e outros colegas mudam o foco do evento anual de artes, agora todo o valor arrecadado é voltado para o que Amber pague a cirurgia do cachorrinho e deixe suas economias para ir fazer a audição dela.
Embora esse filme tenha sido divulgado quase como uma comédia romântica adolescente, trata-se muito mais de um drama bem estruturado envolto por alguns pequenos clichês inevitáveis, tipo “ela não é como as outras garotas da sua idade”. O fato de a história se passar mais fora da escola talvez ajude a afastar de outros clichês adolescentes.
Outra suposição feita sobre o filme é que ele é um musical. Amber de fato canta, Ty de fato toca e realmente há uma sequência de cenas em um palco, mas não é um musical propriamente dito. A música é como se fosse o fio da meada para a história, contribuindo para a dinâmica, mas está junto com outros muitos elementos, como relacionamento mãe e filha, amizade, altruísmo e humildade.
‘Humildade’ é, possivelmente, a melhor forma de descrever a trama. Amber é o tipo de pessoa extremamente humilde e modesta, tanto que ele sequer pensa nisso, mas ela peca quando não percebe que também precisa de ajuda. Faz parte da humildade saber reconhecer que precisa de ajuda.
A menção de Amber ao pai, aos sonhos dele, e sua dura rotina de trabalho me fizeram lembrar de uma das melhores princesas da Disney, Tiana, de “A Princesa e o Sapo”. São trabalhadoras e altruístas, sonham com um futuro melhor e passam por sérios obstáculos.
Lógico que Amber não precisa beijar um sapo nem Ty lembra Naveen, a história de amor nem é central, mas as semelhanças estão ali.
O que é engraçado, porque Amber é interpretada por Aui’i Cravalho, que ficou famosa por emprestar a voz para outra princesa da Disney, também presente no ranking das melhores, Moana.
Lembro de ter a visto cantando a música tema de “Moana – Um Mar de Aventuras” no palco do Oscar de 2017, sendo apresentada por Lin-Manuel Miranda e encantando a todos com sua delicadeza e poderosa voz. Me arrepio só de lembrar do momento.
Embora Auli’i Cravalho já tenha feito outros trabalhos depois de Moana, como “Rise” “Acting for a Cause” e o especial para a TV “The Little Mermaid Live!” (ela foi a Ariel na ocasião), “Quase uma Rockstar” é o primeiro filme de grande divulgação que podemos a conhecer de verdade e é um bom cartão de visita.
Assim como na apresentação do Oscar de 2017, o sorriso dela cativa qualquer um, mas no filme ele ajuda a mostrar o jeitinho fofo, animado e otimista de Amber.
Outros nomes famosos fazem o elenco adulto.
A mãe de Amber, Becky, e a mãe de Ricky, Donna, são vividas por, respectivamente, Justina Machado e Judy Reyes, são colegas de elenco da série “One Day At Time”. Talvez vocês, como eu, lembrem de Judy Reyes de “Scrubs”.
O professor de artes, o Sr. Franks, é interpretado por Fred Armisen, veterano do cômico “Saturday Night Light” e está no elenco de “Unbreakable Kimmy Schmidt”. Joan, uma das senhoras que Amber cuidava em um dos seus trabalhos, é vivida por Carol Burnett, famosa por “All My Children” e “Mad About You”.
O elenco adolescente é constituído por:
– Rhenzy Feliz, vivendo Ty – seus trabalhos mais conhecidos são “Teen Wolf” e “Runaways”;
– Anthony Jacques, como Ricky – ele faz sua estreia em filmes com “Quase uma Rockstar”, como ator já participou da série “Atypical”;
– Taylor Richardson, como Meredith (faz parte do grupo de artes) – conhecida por “Rise” e “Slender Man”;
– Gerald Isaac Waters, como Chad (também do grupo de artes) – também faz sua estreia em filmes com “Quase uma Rockstar”.
Ah, embora o filme tenha uma carga dramática considerável, é de curta duração, 1h32min. É o tempo suficiente para entender a trajetória e se envolver na história, mas sem sofrer muito.
Até mais!