A forma como encaramos a vida é resultado direito das nossas relações em família, o que pode ser extremamente positivo, mas também pode ser uma bagunça total.
O filme francês “Uma Doce Mentira”, de 2010, dirigido e escrito por Pierre Salcadori e Benoît Graffin (roteiro), mostra bem isso. Está disponível no catálogo nacional da Amazon Prime Video.
Émilie é bem prática, direta ao ponto, o que é bom para os negócios (ela e a sócia possuem um salão de beleza), mas não ajuda muito nas relações pessoais. Ela não puxou em nada a veia dramática da mãe, Maddy, que vem enfrentando as próprias inseguranças.
Anos antes o pai de Émilie abandonou a família e Maddy ainda não superou esse término traumático. Ela costumava ser uma mulher ativa e vaidosa, agora mal saia de casa para almoçar com a filha, sonhando com o dia de o marido voltar para casa e ela ter sua vida de volta.
Cansada de ver a mãe se perdendo daquele jeito, Émilie procura uma forma de ajudar. Na mesma semana ela tinha recebido uma carta de amor sem remetente, um admirador secreto, o que ela achou extremamente estranho e descartou. O que ela fez? Pegou a tal carta, muito bem escrita, transcreveu trocando o nome dela pelo da mãe e enviou para ela.
Ao ler aquelas palavras Maddy refloresceu, mas não por muito tempo. Émilie não percebeu, mas uma só carta não adiantaria, porque Maddy era romântica, ela estava esperando por outras cartas e queria saber quem havia “perdido” tempo de lhe admirar e escrever aquilo tudo para ela.
A ausência de outras cartas foi deixando Maddy triste novamente e, para manter com o progresso emocional da mãe, Émilie resolve escrever ela mesma outras cartas. Logicamente que não deu muito certo, porque ela não tinha a emoção certa para passar por meio de palavras.
Ao mesmo tempo que tentava ajudar a mãe, Émilie enfrentava outros problemas no trabalho. Ela descobriu com o responsável pela manutenção do prédio, Jean, era muito mais do havia falado quando foi contratado. Jean trabalhava como tradutor na UNESCO, mas teve uma crise depressiva e se demitiu, buscando um trabalho menos estressante e longe daquilo que conhecia.
Ela passou a ter receio dele, porque ela mesma não tinha estudo superior, tinha medo que ela a julgasse por isso. Mal sabia que ele era apaixonado por ela e que tinha sido ele o escritor da tal carta que ela adaptou para a mãe.
Um dia ela tenta fugir dele e o manda entregar as correspondências do salão, incluindo uma das cartas que ela escreveu para mãe (se passando pelo admirador). Ele acaba indo entregar na cada de Maddy e, sem querer (e nem perceber a situação), foi visto por ela. A partir daí ela jura que seu admirador é Jean e não sossega até ter “certeza”.
Émilie explica a Jean, pedindo a ele que ele saísse com Maddy, ele tenta fugir, mas sente que precisa ajudar (ou quer impressionar). Esse bizarro triângulo amoroso se forma, causando confusão entre mãe e filha e no trabalho. Somente depois de meses, quando Jean se afasta e Maddy recupera a confiança própria é que tudo se resolve.
O humor europeu, especificamente francês, nesse caso, é o elemento perfeito para uma comédia romântica despretensiosa, que fala muito mais sobre olhar para as próprias ações do que romances de fato.
O que Maddy e Émilie precisavam era aprender uma com a outra. Émilie precisava ser mais sensível ao mundo, aos sentimentos dos outros, às vontades daqueles que a rodeia, ouvir mais e tentar controlar menos. Maddy precisava lembrar a sua força, de que ela não precisava de ninguém a achasse bonita ou qualquer outra coisa, ela já sabia.
Embora a trama toda começa por causa das belas palavras de Jean, ele foi só a ponte que elas precisavam para se aproximarem (depois de se afastarem).
Algumas características de Jean são deixadas de lado, mas servem fomentar a história e as inseguranças de Émilie, o que fica claro nas cenas em que ela fica na dúvida se está usando a gramática correta do francês. Além de serem divertidas, são boas para quem está aprendendo o idioma (como eu mesma).
A dupla de mãe e filha, Maddy e Émilie, é vivida por dois grandes nomes do cinema francês, mas também muito conhecidas mundialmente, Nathalie Baye e Audrey Tautou.
Audrey Tautou é a eterna Amelie de “O Fabuloso Destino de Amelie Poulain”, mas também é conhecida por trabalhos como “Coco Antes de Chanel” e “O Código Da Vinci”. É impossível não gostar do jeitinho de Audrey, mesmo Émilie sendo fria boa parte do filme.
Nathalie Baye figura em muitos títulos famosos, mas o destaque vai para “Prenda-me se For Capaz”, ela é a mãe de Frank Wiliam Abagnale Junior. Ela está bem de filho, Leonardo DiCarprio em 2002 e Audrey Tautou em 2010!
Jean é interpretado por Sami Bouajila, ator e diretor cujo principais trabalho são “Nova York Sitiada”, “A Família de Felix”, “Dias de Glória” e “A Terra e o Sangue”.
Uma excelente opção de filme para relaxar e ainda aprender um pouquinho de francês.
Até Mais!