Dores e Amores – “Apesar da Guerra”
Há um encanto em grandes histórias de amor, especialmente esses que tem vários obstáculos dolorosos, que eu nem sei explicar. Elas podem ser contadas muitas vezes e de diferentes formas, mas sempre serão emocionantes e “Apesar da Guerra” se encaixa nessa categoria.
Esta é a obra mais recente da escritora paulista Lya Galavote, já experiente em romances.
A história de “Apesar da Guerra” tem como pano de fundo a Guerra do Paraguai, ocorrida entre os anos de 1864 e 1870, envolvendo Brasil, Paraguai e Uruguai. Uma das cidades mais atingidas no Brasil foi Uruguaiana, local onde Manuela, a protagonista, vive com a família.
Manuela viu o irmão gêmeo, Joaquim, morrer em um ataque de bandidos paraguaios, enquanto isso não tinha notícias do pai, que estava na guerra. Ela vive agora só com a mãe e os irmãos, Fernanda e Miguel. Por ver tanto sofrimento, ela decidiu que nunca iria se casar.
Perto dali, em Alegrete, Bento também sofria. Ele também viu o pai ir para guerra e não recebeu mais notícias dele, agora ele via sua mãe morrer por causa da tuberculose. No leito de morte dela Bento prometeu que iria para guerra só para encontrar o pai e o trazer de volta para casa.
Depois de perder sua mãe, Bento engatou um romance com Rosa, filha da governanta, Mariana. Eles foram criados juntos, como irmãos, mas agora descobriram o amor. Quando Bento parte para a guerra Rosa lhe entrega uma carta, nela ela dizia que estava grávida dele, mas que não disse nada para ele não desistir de ir em busca do pai.
De fato, Bento passa quase 04 anos na guerra, mas nunca encontrou o pai. Quando voltou para casa ele conhece o filho, João, e tenta reerguer a fazendo, praticamente abandonada. Poucas semanas depois os bandidos paraguaios atacam o local e mantam sua família, deixando Bento devastado.
E é aí que a história de Manuela e Bento se cruzam.
Bento chega em Uruguaiana depois de seis meses de perder a família, tento afogado as mágoas na bebida. Ele cai do cavalo e em cima das roupas de Manuela, que tomava banho no riacho perto dali.
A partir daí Manuela começa a repensar sua promessa feita no leito de morte do irmão, percebendo que havia se apaixonado por Bento. Já Bento entra em conflito consigo mesmo, percebendo que finalmente sentia paz quando estava com Manuela, mas ainda se sentia culpado porque fazia poucos meses da morte de Rosa e de João.
Ah, Bento não conseguia dizer sobre a família perdida para Manuela, guardando esse segredo tão dolorido para ela, só que ela sentia que ele escondia algo e, por isso, estava receosa em dar esse passo.
Esse livro é digno de uma daquelas minisséries épicas da Globo, estilo “A Casa das Sete Mulheres”, que te prende até o último segundo, com muito drama e alguns clichês. Vocês sabem que eu amo um drama e um clichê, então para mim a história é linda e funciona.
A narração é bem fiel, dá para visualizar a cena mesmo, faz com que a pessoa se prenda à leitura e queira saber como é que a trama vai desenrolar, tanto por ter uma linha de raciocínio muito bem definida quanto por ter uma história bem escrita na maior parte do livro.
Um recurso usado é o revezamento do ponto de vista, ou seja, um capítulo é narrado por Manuela e o outro por Bento. Os capítulos de Manuela são sempre no presente, já os de Bento começam no passado, por isso primeiro vemos o encontro deles, depois entendemos como é que ele chegou até lá.
Embora para algumas pessoas esse recurso seja confuso, eu tenho gostado muito de ler livros que o utilizem, torna a história mais rica em detalhes e ajuda na missão de prender o leito na leitura. Você quer ver quando e como a narração de um vai encontrar a narração do outro, querendo sempre ler o próximo capítulo.
Falei há pouco que a história é bem escrita na maior parte do livro, isso quer dizer que tem alguns pontos que me incomodaram durante a leitura, nada que ofusque a beleza a história em si, mas que saltaram aos olhos.
Em alguns momentos de narração, nos capítulos de Manuela, tem um erro básico, troca de nome de personagem. Na história Manuela está acompanhada pela irmã, Fernanda, em muitos momentos, levando a ter que citar o nome da irmã dentro da narração. Só que em quase todas as vezes troca-se o nome de Fernanda por Manuela, deixando a escrita confusa.
Logicamente que o contexto ajuda a desfazer a confusão, sabemos quando está se referindo mesmo a Fernanda e quando era para ter usado o nome de Manuela, mas esses erros tira um pouco da concentração na hora de leitura.
A distração também vem com a repetição de frases que poderiam ser resumidas. O maior exemplo é “ataque de bandidos paraguaios”, que serve tanto para o momento da morte de Joaquim, irmão de Manuela, quanto para o primeiro momento de heroico de Bento com Manuela.
Acontece que a frase inteira é repetida quando ela lembra de um desses momentos, tipo “na tarde que ele me salvou do ataque dos bandidos paraguaios”, que poderia ser resumida por, talvez, “naquela triste tarde” ou “quando sofri aquele ataque”.
Para além, ainda houve um momento em que Bento passa por uma amnésia. A história já tinha se desenvolvido, estava quase chegando ao ápice, tem um elemento controverso, que ajuda a unir as pontas, daí acrescenta-se a amnésia, por isso senti que pode ter sido forçada naquele momento.
De toda forma, para quem gosta de um bom drama, com romances quase impossíveis, que te fazem sonhar em viver um grande amor, superando todas as dificuldades, tenho certeza que vai amar “Apesar da Guerra” como eu amei.
Sim, eu sonhei em viver um grande amor enquanto lia!
Até mais!