O primeiro filme da franquia Terminator é uma achado da ficção científica. As limitações visuais são gritantes, principalmente se levarmos em conta os efeitos visuais da atualidade, mas o filme serve para comprovar que uma boa história se sustenta independentemente das limitações impostas pela tecnologia de sua época. Para comprovar o que foi dito, basta lembrar que filmes como Simbad e o Olho do Tigre, Tron e De Volta para o Futuro, só para exemplificar, ainda têm seu charme e apelo, mesmo com os poucos recursos de suas épocas.
Terminator é um filme distópico sobre o medo que toma as mentes de todos que maximizam o potencial das máquinas e da inteligência por trás delas. A trama mostra um futuro sombrio onde as máquinas dominaram nosso mundo e caçam os últimos humanos remanescentes. Elas temem uma derrota e, para evitar isso, enviam para o passado um Exterminador para se infiltrar entre os humanos e matar o único ser vivo que pode destruir o reinado das máquinas.
O ano para o qual essas sinistras máquinas enviaram seu executor é 1984. Com uma nítida inteligência por trás de seus atos, elas recobrem esse emissário com pele sintética igual à de um humano, o que lhe confere uma aparência normal e o possibilita transitar sem problemas entre nós. O Exterminador tem uma missão e pretende cumpri-la a qualquer custo.
Mas o que seria inimaginável era o envio de um humano para deter essa aberração tecnológica. Apesar da fragilidade que o corpo humano apresenta, o conhecimento sobre a chegada do Exterminador dá vantagem ao ser humano enviado.
Ritmo narrativo.
Ainda que as fragilidades visuais sejam incômodas hoje em dia, Terminator tem atributos que prendem o espectador à tela: um bom ritmo de narração, um roteiro inovador (à época) e que foi capaz de inspirar outros numerosos filmes, um elenco muito bom (destaque para Linda Hamilton) e a impecável direção de James Cameron.
Sonorização e trilha sonora.
A músicas, a trilha sonora e os efeitos sonoros dão maior credibilidade à história e também servem para criar os climas necessários em várias ocasiões. As aparições de Arnold Schwarzenegger (o Exterminador T-800) são sempre seguidas de uma música que cria um clima tenso e soturno.
Datado.
Verdade seja dita, o Exterminador do Futuro tem um visual e demais atributos que o deixam datado. Apesar disso é muito fácil assisti-lo e aproveitar a trama, sem que essa peculiaridade atrapalhe. Na sequência do longa, o passar do tempo é coerente e mostra que há de fato um planejamento na franquia (algo perdido durante os demais filmes e, aparentemente, recuperado com O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio).
Contrastes.
Kyke Reese (Michael Biehn) não possui recursos e é obrigado a roubar. Seu instinto de sobrevivência e o senso de dever o mantêm no caminho para defender uma mulher chamada Sarah Connor (Linda Hamilton), mas ele não tem o sangue frio e a crueldade que o Exterminador tem. Nada pode para a máquina, enquanto Kyle é apenas um humano perdido em uma época à qual não pertence.
Esse contraste é usado durante todo o filme para destacar que há pouco equilíbrio na luta de uma pessoa contra as máquinas que dominam o mundo há algumas décadas. Essa alegoria pode ser compreendida como uma crítica ao domínio das máquinas em fábricas e outros lugares nos quais elas vieram para substituir algo extremamente obsoleto: o ser humano.
Assassinatos.
Não há preocupação com o politicamente correto, o que deixa o filme mais impactante no quesito “mortes”. A caçada por Sarah Connor feita pelo Exterminador deixa um grande número de vítimas mortas, algumas com alto grau de crueldade e isenção total de compaixão. Estamos falando de uma máquina, afinal.
E por falar no politicamente correto…
James Cameron não dá margem para frescuras. O longa tem cenas de nudez masculina, assassinatos, mostra uma polícia esforçada, mas despreparada para o que o futuro enviou, diálogos críveis, bebidas e cigarro e o comportamento típico dos anos 80.
O primeiro confronto.
A primeira cena de combate entre Kyle Reese (Michael Biehn) e o Exterminador culmina na célebre frase que foi incorporada por Schwarzenegger nos demais filmes: “Come with me if you wanna live”.
Coadjuvantes e curiosidades.
Bill Paxton e Brian Thompson aparecem no início do filme como punks que tentam matar o Exterminador. O ator Earl Boen dá vida ao doutor Silberman, um dos responsáveis por traçar um perfil psicológico de Kyle.
Durante a metade do filme em diante, os estragos feitos ao monstro mecânico diminuem seu aspecto humano. Animatronics foram usados para mostrar Schwarzenegger movendo tendões mecânicos e arrancando um olho.
O melhor amigo de Arnold, Franco Columbu, faz uma versão do ano de 2029 do Exterminador. Franco faleceu recentemente, fato que abalou extremamente Schwarzenegger.
Schwarzenegger surge como o vilão máximo do filme, um enviado do futuro que matará tudo e todos até que alcance Sarah Connor. Curiosamente, a partir do segundo filme da franquia, o T-800 surge como uma versão menos maléfica, fato devido ao sucesso do ator em Hollywood.
Serial Killer.
A caçada a Sarah gera uma comoção na cidade. Duas mulheres são mortas e elas têm o mesmo nome. Elas foram executadas pelo Exterminador e ele não irá parar até cumprir sua missão.
Um ponto interessante dessa trama é a inclusão de uma temática comum e temida nos anos 80: os assassinos seriais. O T-800 segue um padrão e ele é incluído no rol de serial killers pela polícia local, representada pelo Detetive Vukovich (Lance Henriksen) e o tenente Ed Traxler (Paul Winfield).
O fim da caçada.
Após a clássica cena do massacre na delegacia, Sarah e Kyle são perseguidos pela cidade inteira. Algumas cenas convencem, outras não, pois os efeitos são fracos, principalmente quando comparamos com a tecnologia do cinema atual.
O ponto de destaque fica para o surgimento do T-800 no formato de um esqueleto cibernético. A animação foi feita com stop motion, tal como visto em Simbad e outras obras que usaram este recurso. Este confronto gera a morte de Kyle e a destruição do Terminator que sucumbe, ironicamente, diante de uma máquina usada por Sarah.
Com todos esses atributos, O Exterminador do Futuro entrou para a história do cinema por ter uma linguagem coerente, atuações convincentes e uma ideia que gerou uma das mais bem sucedidas franquias de ficção científica, além de alicerçar a carreira do astro Arnold Schwarzenegger.