O Inferno é aqui. Resenha de um sombrio livro sobre serial killers.

O Inferno é Aqui se mostra uma obra atípica, sobretudo por sua coragem de abordar a temática da loucura e dos serial killers com extremo realismo. Acrescentemos a essa trama a presença de demônios (quantos matadores já afirmaram que foram “ordenados” a praticar seus crimes?) e uma excelente diagramação que ganha ainda mais destaque com os desenhos da ilustradora Suzana Saito. Oscilando entre um romance e uma fotonovela, permeado por diálogos entre os assassinos e seus mentores, este é um livro para quem realmente tem coragem de encarar o mal em sua essência.

Como é de se imaginar, uma obra com diferentes mídias requer um trabalho impecável de produção. Especialista em dirigir cenas, o escritor realizou com o auxílio do parceiro de produção, Bruno Frede, artista de vfx (efeitos visuais), uma exaustiva sessão fotográfica, com 15 horas de duração – 12 para a produção das imagens e três para limpar o sangue cenográfico do set fotográfico. E sabem o que é melhor que isso? Os resultados. O livro está impecável no quesito gráfico e as cenas fotográficas fluem com facilidade entre as palavras, as colagens e os desenhos.

A narrativa aborda a vida de um casal de matadores, um homem que não tem seu nome citado e uma mulher chamada apenas de V. Eles nutrem uma relação doentia e extremamente fatal para qualquer um que esteja próximo a eles. O psicopata é guiado e atormentado por demônios, ao passo que V age por pura maldade e sadismo. Eles sentem (e isso está descrito de forma brutal) prazer ao matar, quase sempre pelos motivos mais fúteis. Essas ações causam, acreditem, mais incômodo do que cenas similares em cenas, resultado direto da boa escrita de Schuck e da combinação dos elementos visuais inseridos (desenhos, letreiramento e fotos).

Aos poucos somos inseridos na mente dos assassinos. Isso é desgastante e provoca um mal-estar incomum. Há uma carga narrativa forte e que passa a clara sensação de realmente estarmos acompanhando o casal de predadores. É possível sentir que eles também nos veem.

E o que parecia ser uma trama de horror e morte ganha novos ares quando o autor insere uma criança na vida do casal. Na verdade, a criança é inserida, removida e reinserida na trama, fatos que aumentam o clima sobrenatural presente em toda a história. Essa criança, Tippi, serve como um freio a algumas ações dos matadores, mas também é cobiçada pelos demônios que atormentam o psicopata. Tippi comprova que até os maus podem amar e será de vital importância no decorrer do livro.

Enfim, se vocês querem ler (e ver) uma história competente e bem estruturada sobre os serial killers (sem o glamour de séries como Hannibal e Dexter), saiba que este livro é para vocês. E apesar de ser uma narrativa ficcional, O Inferno é Aqui serve para lembrar sobre o potencial destrutivo de alguns seres humanos e a total ausência de amor e piedade pelo próximo.

Livro recomendado para os que têm coração forte. Sem brincadeiras!