(Antes de mais nada, essa lista só reflete o ponto de vista do autor que vos escreve. Há diversas outras análises de outros autores do site que podem divergir desta).
Então vamos lá!
Será que 2018 foi melhor que 2017?
Difícil responder, já que se formos considerar o impacto em relação ao que apontei na lista do ano passado, as coisas não parecem ter mudado tanto. As franquias bilionárias continuam a apelar para seu coração e bolso, os ótimos filmes “de festival” continuam passando despercebidos do grande público e o cinema nacional permanece produzindo obras excelentes (ruins também, como qualquer outro, ao contrário do que os detratores imaginam).
Foram 513 filmes assistidos no ano (meu maior número até agora). Entre eles, filmes repetidos que costumo rever como tradição ou outro motivo qualquer. Tirando esses, foram 412. Se considerarmos, ainda, somente os que foram lançados comercialmente no Brasil em 2018, sobram 158.
Sempre encontro muita dificuldade em escolher 10 filmes que supostamente são os melhores dentre todos esses que vi porque isso implica quantificar a arte em algo tão reducionista como uma nota. Da mesma forma que ano passado, se eu reescrevesse a matéria, provavelmente alguns nomes entrariam, outros sairiam, e por aí vai. Mesmo assim, colocarei depois os destaques que não entraram na lista principal, mas que também merecem ser lembrados.
Como não podia faltar, as tragédias cinematográficas não ficaram de fora e fiz questão de incluí-las com o maior carinho.
(Não coloquei em ordem de preferência, mas sim considerando a ordem de lançamento)
OS DEZ PIORES FILMES DE 2018
50 Tons de Liberdade (James Foley)
A franquia que sempre garante um lugarzinho na lista não poderia ficar de fora dessa. As mesmas características que sempre fazem o exemplar figurar aqui estão presentes novamente: diálogos sofríveis, atuações ruins, uma “trama” que não existe e a constatação de que eles definitivamente não sabem diferenciar um apelo sexual mais forte de relacionamento abusivo.
Os Farofeiros (Roberto Santucci)
As comédias da Globo também tem cadeira garantida aqui sempre. Além de um humor ruim (muito), uma direção de novela que se disfarça de cinema e a recorrente falta de estrutura que faz com que esses longas sejam um compilado de esquetes jogadas, ele ainda tem a capacidade de usar de forma desastrosa o recurso de se auto referenciar na tentativa de puxar a orelha “daqueles que só falam mal de filme brasileiro”: uma ironia terrível, já que se usa como pior exemplo
.
15h17 – Trem Para Paris (Clint Eastwood)
Mal dá para reconhecer nosso velho pistoleiro sem nome nessa tentativa de traçar a tentativa de um ataque terrorista em um trem no caminho de Amsterdã para a capital francesa. O fato de praticamente todo o longa ser uma irrelevante colagem das férias dos protagonistas que não vai a lugar algum, a escalação dos próprios militares como atores é ainda mais prejudicial para nossa identificação com a história. Os bons momentos finais somem diante de um nada restante.
Uma Dobra no Tempo (Ava DuVernay)
Aqui também é um sério caso onde não reconhecemos a mesma pessoa por trás das câmeras. A mesma diretora dos ótimos A 13ª Emenda e Selma – Uma Luta Pela Igualdade parece ter sido obrigada gastar seu tempo nesse longo e insuportável embuste de auto-ajuda.
Exorcismos e Demônios (Xavier Gens)
Outro gênero que sempre aparece entre os piores é o terror. Suas fórmulas e convenções costumam sofrer sempre nas mãos da mesmice quando não conseguem escapar das armadilhas dos clichês, histórias ruins e sustos fáceis. Este é uma coleção de tudo isso no subgênero da possessão.
Verdade ou Desafio (Jeff Wadlow)
Ainda não terminamos com o terror. Esse ainda é difícil até chamar assim, já que a ridícula premissa de um jogo de verdade ou consequência se soma à inacreditável escolha de representar o mal através de uma risadinha que só tem efeito cômico indesejado.
Acrimônia (Tyler Perry)
Esse não começa tão ruim. Pelo jeito que a história da protagonista se desenrolava, até parecia que iríamos ver uma personagem feminina forte enfrentando alguns obstáculos em busca de seu sucesso pessoal e profissional. Só que Tyler Perry não parece ter percebido que ao transformar sua narrativa em um thriller mal feito da pior espécie e colocar sua protagonista como uma louco barraqueira e vingativa, acabou fazendo um desserviço tremendo diante de nosso atual momento social e político.
Mentes Sombrias (Jennifer Yuh Nelson)
Um longa com bastante tempo de atraso. A distopia adolescente que suga quase tudo que pode de X-Men já não seria revelante 10 anos atrás. Junte com um elenco sem inspiração e uma história mequetrefe para termos um dos piores filmes do ano.
TAU (Federico D´Alessandro)
Escolha um diretor e uma roteirista que parecem ter acabado de descobrir o básico da ficção científica e resolvem fazer um filme que acredita piamente estar questionando diversas ideias sobre inteligência artificial e suas implicações filosóficas. Só que tudo através de um roteiro expositivo, cheio de furos e incapaz de desenvolver as aspirações que estavam guardadas lá no íntimo das intenções dos realizadores. Ahh, e não poderia deixar de mencionar que é da Netflix.
Vende-se Esta Casa (Matt Angel e Suzanne Coote)
A Netflix entregou mais um loga ruim esse ano (e tem mais). Este é até difícil definir em termos do que achou que estava fazendo e o que fez de fato. Uma pretensa atmosfera de suspense inexistente em um filme de invasão à domicílio com reviravoltas ruins.
Para fechar, há outros que merecem destaque negativo:
A Mata Negra (Rodrigo Aragão)
22 Milhas (Peter Berg)
Cam (Daniel Goldhaber) – Netflix
O Que de Verdade Importa (Paco Arango)
A Freira (Corin Hardy)
O Paciente – O Caso Tancredo Neves (Sergio Rezende)
Upgrade (Leigh Whannell) – Netflix
No Olho do Furacão (Rob Cohen)
A Maldição da Casa Winchester (Michael e Peter Spierig) – leia a crítica.
O Paradoxo Cloverfield (Julius Onah) – Netflix
A Vida em Si (Dan Fogelman)
Bird Box (Suzanne Bier) – Netflix
O Grande Circo Místico (Cacá Diegues)
Venom (Ruben Fleischier)
Podres de Ricos (Jon M. Chu)
Slender Man (Sylvain White)
Extinção (Ben Young) – Netflix
O Diabo e o Padre Amorth (William Friedkin)
Próxima Parada: Apocalipse (David M, Rosenthal) – Netflix
Desejo de Matar (Eli Roth)
Motorrad (Vicente Amorin)
OS DEZ MELHORES FILMES DE 2018
Me Chame Pelo Seu Nome (Luca Guadagnino)
A história de Elio e Oliver ganha uma abordagem calma e de observação em um longa que vai construindo aos poucos, nos pequenos detalhes e conflitos, uma tocante ode aos amores de verão. Ainda produziu um dos melhores diálogos do cinema em 2018.
Três Anúncios Para um Crime (Martin McDonagh)
Uma história com caminhos surpreendentes, ótimos diálogos e atuações justamente premiadas fazem deste um dos melhores do ano. Consegue misturar com habilidade um humor incômodo com as temáticas de racismo e vingança.
Lady Bird (Greta Gerwig)
Leia a crítica.
Projeto Flórida (Sean Baker)
O universo particular de um conjunto habitacional nas proximidades da Disney escancara a diferença entre a magia vendida de um e a realidade despida de outro. A abordagem é na rotina quase naturalista da câmera fluida que segue os olhares de uma criança. O ponto de vista infantil é o escudo que vai rachando à medida que a vida no Projeto Flórida vai acontecendo.
Hereditário (Ari Aster)
Se o terror tem vários representantes entre os piores todos os anos, dessa vez ele trouxe uma novidade muito interessante. Hereditário é um primor em construção de tensão, além de investir tempo em seus personagens e convidar o espectador a aceitar um pouco do absurdo desesperador do desconhecido. Se fosse resumir em uma palavra, seria AGONIA.
Ponto Cego (Carlos López Estrada)
Uma excelente surpresa. Veio sem nenhum alarde e ensinou como tratar um tema pesado em uma narrativa que vai gradativamente transformando o humor em um incômodo que deixa marcas após a sessão.
Infiltrado na Klan (Spike Lee)
Um diretor que tem um histórico marcante em tratar do racismo mais uma adaptação de um acontecimento surpreendentemente real resulta num outro excelente longa atemporal sobre o preconceito. Tudo sem precisar apelar para nenhum exagero e com toques precisos de humor. E claro, provocativo e atual.
Um Lugar Silencioso (John Krasinski)
Uma prova de que dá para fazer um ótimo terror tradicional sem apelar para inúmeros clichês. Quando um filme se apoia no silêncio e investe em sua narrativa visual para contar sua história, não podia dar errado.
Missão: Impossível – Efeito Fallout (Christopher McQuarrie)
Não podia faltar um legítimo representante de ação para 2018 e Tom Cruise mais uma vez determinou para o restante como se faz coisa do jeito certo. Sequências grandiosas, direção precisa e o compromisso com a “verossimilhança” absurda que só esse gênero proporciona.
Arábia (Affonso Uchoa e João Dumans)
Há outros filmes nacionais que eu também incluiria aqui, mas escolhi este porque foi o que mais me deixou positivamente incomodado depois da sessão. É uma ficção quase documentário sobre as andanças de um personagem que busca um emprego e um sentido para viver em meio às dificuldades da crise. Um roadmovie tocante e muito honesto que atinge muito mais do que parece superficialmente.
Outros filmes excelentes que merecem ser mencionados:
Roma (Alfonso Cuarón) – Netflix – leia a crítica.
A Forma da Água (Guillermo del Toro) – leia a crítica.
Robin Williams: Come Inside My Mind (Marina Zenovich) – HBO
A Balada de Buster Scruggs (Irmãos Coen) – Netflix
Sem Amor (Andrei Zvyagintsev)
Alguma Coisa Assim (Esmir Filho)
Viva – A Vida é uma Festa (Lee Unkritch)
The Square (Ruben Ostlund)
Visages, Villages (Agnès Varda)
Trama Fantasma (Paul Thomas Anderson) – leia a crítica.
Todos os Paulos do Mundo (Gustavo Ribeiro e Rodrigo de Oliveira)
As Boas Maneiras (Juliana Rojas e Marco Dutra)
Custódia (Xavier Legrand)
Você Nunca Esteve Realmente Aqui (Lynn Ramsay)
Buscando… (Aneesh Chaganty)
Nasce Uma Estrela (Bradley Cooper) – leia a crítica.
O Beijo no Asfalto (Murilo Benício)
Aniquilação (Alex Garland)
Ilha dos Cachorros (Wes Anderson) – leia a crítica.
As Viúvas (Steve McQueen)