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CRÍTICAS FILMES

Meu Anjo

Meu Anjo
  • Publicado em: outubro 23, 2018

Meu Anjo [Gueule d’ange, França, 2018] é um drama francês sobre famílias fragmentadas, solidão e relação entre pais e filhos. No caso, a relação entre a Marlène e sua filha, Ellie.

Como forma de respeitar ao leitor, aviso que a crítica terá alguns spoilers.

Marlène, interpretada por Marion Cotillard, é uma jovem linda, frágil, alcoólatra e egoísta, com quem antipatizamos quase desde a primeira cena. O filme inicia na sua festa de casamento, onde ela faz um discurso, já bêbada, para uma constrangida família do noivo, agradecendo à “quinta” chance que está recebendo. Na mesma festa, comete um erro que lhe custará o casamento antes mesmo do seu início.

A aversão que sentimos por Marlène vem da perspectiva a partir da qual a história é contada. Os fatos se desenrolam sob o olhar de Ellie [Ayline Aksoy-Etaix], a negligenciada filha de oito anos, protagonista do filme. Este ponto narrativo é bem construído e um dos acertos da diretora Vanessa Filho.

Ellie  é uma criança forçada a crescer antes do tempo, para cuidar de si e da mãe. Confusa e sem outros referenciais adultos, começa a beber as sobras dos copos de Marlène e a se vestir como ela, fugindo ao padrão das demais crianças da sua turma no colégio. Inevitavelmente, passa a sofrer bullying, o que só aumenta o seu isolamento.

Em meio à vida caótica, Marlène resolve levar Ellie a uma festa. Lá, enamora-se por alguém, manda a filha para casa de táxi no meio da noite e some. Abandona Ellie à própria sorte. A menina passa dias tentando contato com a mãe pelo celular, sem sucesso. Um dia, visitando sozinha um parque de diversões, encontra Julio (Alban Lenoir), que conhecia de vista. Bisbilhotava-o no prédio, onde Julio comparecia seguidamente para tentar visitar o pai, que nunca lhe abria a porta do apartamento. Ellie passa a seguir Julio e os dois estabelecem uma estranha relação, onde ele acaba substituindo a figura do pai que a menina nunca conheceu.

A história trabalha com personagens isolados e perdidos. Cada um deles sequer sabe o que busca. Entre eles, Ellie navega perdida, deixando uma sensação de angústia no público.

Meu Anjo tem boas ideias, mas que não foram bem exploradas e executadas em sua maioria.

Além da perspectiva de narrativa, que já mencionei, seu outro ponto alto, é a interpretação de Marion Cotillard. Ela transmite perfeita credibilidade ao egoísmo e sofrimento de Marlène. Ao vazio da existência da personagem e aos momentos nos quais ela consegue perceber a si mesma, perceber a sua filha, e envergonha-se. Ayline Aksoy-Etaix tem uma atuação, no máximo, razoável. Considerando que ela é o verdadeiro centro do filme, isso é um problema. Já Alban Lenoir foi prejudicado pelo roteiro. Não se consegue entender o seu passado. São dadas poucas pistas dos motivos que o levam a viver isolado, do porquê o pai não o recebe e, de resto, daquilo que o fez ter uma personalidade retraída e introspectiva.

O roteiro, a partir do abandono de Ellie, revela-se um problema. Ela passa vários dias sozinha, indo ao colégio somente quando quer, bebendo, perambulando nas ruas e adotando outras atitudes erráticas, sem que qualquer um estranhe o que está acontecendo. A relação que estabelece com Julio também parece forçada. Qualquer adulto, perseguido insistentemente por uma criança de oito anos, tentaria, ao menos, falar com os pais dela. A direção e o roteiro de Vanessa Filho incorrem no pior dos pecados para um drama: torná-lo quase inverossímil.

De resto, a fotografia, a montagem e a trilha sonora não chamam a atenção, quer para prejudicar, quer para conceder brilho ao filme. Seu formato assemelha-se a daqueles produzidos para tela pequena.

Em conclusão, Meu Anjo é um drama que trata de temas atuais, em uma sociedade com famílias e pessoas fragmentadas, que gera angústia no público, mas que não chega a emocionar.

Estrelado pela atriz Francesa, Marion Cotillard , vencedora do Oscar de Melhor Atriz, pelo filme Piaf – Um Hino ao Amor  em 2007,  e outros títulos de destaque como:  A Origem (2010), Meia-Noite em Paris (2011), Ferrugem e Osso (2012), Dois Dias, Uma Noite (2014), Macbeth (2015) e Aliados (2016), Meu Anjo relata a história da menina  Elli e sua mãe que se  esforçam para fugir do tédio e do serviço social, que considera Marlène personagem vivida Marion Cotillard , incapaz de criar a filha. Quando a mãe se afunda em mais uma noite de excessos e bebidas, ela decide deixar Elli sozinha e ir atrás de um homem que acabou de conhecer. Sem pai ou nenhum familiar por perto, a criança precisa se virar sozinha e enfrentar o julgamento das pessoas, e o bullying dos colegas de escola pelo comportamento inadequado de sua mãe, enquanto a mesma não volta para casa.

Marion Cotillard além de atriz é garota-propaganda da bolsa Lady Dior desde 2008 e já apareceu em mais de 300 capas de revistas, entre elas estão Vogue, Marie Claire, Elle, Variety, Harper’s Bazaar, Vanity Fair, Madame Figaro, Glamour, Grazia, W, The Hollywood Reporter e Wall Street Journal Magazine. A atriz também foi escolhida para ser a capa da primeira edição da Dior Magazine, em Setembro de 2012, além de ser a atriz francesa mais rendável do século XXI de acordo com o site PureMedias. Os filmes estrelados pela atriz arrecadaram mais de $3 bilhões nas bilheterias mundiais e venderam mais de 37 milhões de ingressos na França, de 2001 a 2014.

Vale muito prestar atenção na atuação da atriz mirim Ayline Etaix que mesmo sendo seu primeiro papel nos cinemas rouba a cena no papel da personagem Elli.

Título Original: Gueule D’Ange

Direção: Vanessa Filho

Roteiro: Vanessa Filho, Diastéme, François Pirot

Produção: Carole Lambert

Fotografia: Guillaume Schiffman

Edição: Sophie Reine

Gênero: Drama

País: França

Ano: 2018

Duração: 108 min

Classificação: A Definir

Elenco: Marion Cotillard, Alban Lenoir, Ayline Etaix, Amelie Daure

Written By
Daniel Nonohay

Nasceu em 1973 e mora em Porto Alegre. É casado e pai de duas filhas. Juiz do trabalho, escreveu o seu primeiro romance à mão, em dois cadernos pautados, quando tinha 17 anos. Em 2016, lançou o romance Um Passeio no Jardim da Vingança, pela Editora Novo Século. Publica regularmente outros textos em seu site, www.danielnonohay.com.br. É, também, autor de artigos técnicos, na área do Direito, e políticos que foram publicados em livros, jornais e sites. Organizou livros de coletâneas. É colorado. Atuou como professor e é pós-graduado em Direito do Trabalho, Direito Processual do Trabalho e Direito Previdenciário. Foi Presidente da Associação dos Magistrados do Trabalho do Rio Grande do Sul. Atualmente, aproveita cada segundo livre para escrever, a sua grande paixão.

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