Obras do porte de O Exorcista, A Profecia, It – A Coisa, Um Lugar Silencioso, A Bruxa, Mama, O Iluminado, Ao Cair da Noite e outros que dão preferência ao terror psicológico e suspense são sucesso não à toa. Esses filmes citados (e séries do porte de Hannibal, American Horror Story, Penny Dreadful, Mestres do Horror) mostram que o medo não precisa ser “escancarado” para realmente assustar.
Quando assisti Annabelle 2, vi um grande potencial por conta da abordagem mais apurada em relação ao primeiro filme. Havia um boa quantidade de jump scares, mas a trama teve potencial para cativar a platéia e assustar sem que só os medos provocados por sons e imagens inesperadas fossem o ponto principal.
A partir daí, o interesse por Invocação do Mal e demais filmes da franquia aumentou. Alguns são muito bons, outros medianos, mas o fato é que a franquia tem potencial e sabe cativar o espectador.
Com base nisso, as expectativas sobre A Freira aumentaram. Aumentaram, friso, por causa da esperança em que não mais fossem privilegiados os jump scares. Eu queria muito que a trama que contaria a origem de uma criatura tão maligna fosse levada mais a sério, algo que obviamente prenderia mais a atenção do público e traria resultados mais impactantes. Eu compreendo que o terror deva ser dosado, apresentado gradualmente para que não fiquemos “cansados” do terror físico e da escatologia. Ora, os filmes acima citados são verdadeiras lições de como o medo deve ocupar o coração e a mente do espectador. Com um ótimo roteiro e a apresentação gradual daquilo que deve ser assustador, posso afirmar categoricamente que a tensão e o pânico estão à flor da pele de quem assiste. A inclusão dos sustos rápidos e impactantes existe há décadas, porém isso está ganhando mais espaço em produções atuais, talvez por ser mais simples do que fazer um roteiro e uma filmagem que cativem pela qualidade e o suspense.
A Freira, antecipo, é um filme bom. O que impede que seja um filme ótimo é justamente o excesso de jump scares. Ao longo da trama tudo aquilo que poderia trazer o pavor acaba, em função da superexposição, perdendo impacto. A personagem principal, a vilã por assim dizer, sofre com o excesso de exposição, algo que já havíamos visto em Invocação do Mal 2. Por que não optaram por usar as tomadas e as aparições de forma mais coerente e em menos quantidade? Ao longo do longa-metragem, ficamos – como já citei – “preparados” para o medo… e isso não é bom para um filme tão importante para uma franquia que se propõe assustar.
Outro ponto que não me agradou é a utilização do famigerado ‘alívio cômico’, agora na figura do personagem Frenchie (Jonas Bloquet). Nada contra a atuação dele, mas qual a necessidade de humor (leve ou não) em uma produção voltada para o horror, o medo? Eu não consigo entender, assim como não aceitei o humor inserido em Thor Ragnarok, uma história que deveria ser dramática e triste por abordar a morte de milhares.
Há pontos muito positivos na trama. A interação entre a irmã Irene (Taissa Farmiga) e o padre Burke (Demián Bichir) ficou absolutamente perfeita. A troca de conhecimentos ganha força quando nos deparamos com uma mulher que ainda tem um resquício de dúvida sobre sua escolha (ser religiosa) e um homem dedicado a extirpar o mal em sua forma mais sombria. Acertaram também ao transformar essa obra em um prequel para o que vimos em Invocação, já que a história se passa na metade do século XX. Com isso, a franquia ganha uma cronologia coerente e com potencial para muito mais.
Com um direcionamento para um conflito final no qual será preciso realmente encarar o mal sob a forma da Freira (Bonnie Aarons), cujo passado é mostrado, o longa mostra que tem potencial para muito mais. A produção foi extremamente coerente em vários pontos, enquanto optou pelo mais fácil em outros, o que deixou a obra mediana. É um filme com muitas passagens realmente assustadoras e, em contrapartida, tem outras que não convencem por haver o exagero de cenas similares e também o excesso para que o bem e o mal estejam equilibrados ao final.
Por fim, A Freira veio para reforçar a franquia de Invocação do Mal, mesmo apresentando algumas pequenas falhas que diminuíram o poder de aterrorizar aguardado. Claro que eu presenciei muitas pessoas gritando e escondendo o rosto com as mãos em várias passagens, o que reforça o título deste post: a obra é aterrorizante para aqueles que são impactados pelos sustos da técnica de jump scare, porém não provoca o medo que só o suspense e a sugestão podem trazer. Gosta de terror mais óbvio? Esse é seu filme. Gosta de suspense e uma trama mais elaborada e provocante? Há pequenas passagens com esse teor, mas não o suficiente para classificar o filme como o Exorcista do século XXI. Eu, honestamente, aguardarei um novo filme da franquia que possa dar ao público a dose de terror que é necessária para transformar a obra em algo memorável, tal qual os filmes citados no início do texto.