A prisão.
Localizada na Guiana Francesa, a Ilha do Diabo foi um local destinado para os criminosos – quase em sua maioria – deportados da França. Henri não foi diferente, mas teve um tratamento diferenciado logo de início, tal era sua fama. Papillon sempre mostrou-se disposto a fugir da ilha, mesmo antes de chegar à prisão. Para que tal intento se concretizasse, ele ofereceu proteção a Dega, um falsário respeitado pela fortuna que detinha, porém sempre ameaçado de morte em prol desse mesmo dinheiro. Amaldiçoado por suas famas e sem outra opção, a parceira entre Dega e Papillon tornou-se inevitável. É sobre essa cooperação e as consequências do desejo de fuga que o filme trata – analisando superficialmente.
O diretor soube conduzir de forma brilhante a obra. Durante todo o filme o espectador acaba por se esquecer dos motivos que levaram aqueles homens à condenação, restando apenas um vínculo entre os personagens e nós, suas testemunhas. É impossível não sentir compaixão diante do sofrimento (aparentemente infindável) de Papillon e Dega. Mortes e traição são constantes em suas trajetórias.
Amizade.
O que começou como uma relação quase comercial (eu o protejo, você me dá o dinheiro para financiar a fuga) vai ganhando ares de algo fraternal. Tal sensação ganha ênfase por conta das atuações de McQueen e Hoffman, impecáveis em seus personagens. Evidente que o ótimo roteiro também reforça essas atuações, principalmente com a exibição do envelhecimento dos presos de forma gradual e dolorosa.
Mas, não importa o quanto sofram, eles sempre são fiéis à amizade que criaram.
Tortura
Um tema difícil de ser abordado, a tortura recebeu a visão que tinha no presídio: ela era uma arma usada para quebrar a resistência e a vontade de viver do encarcerado. Para cada falta mais grave, a Direção da prisão condenava o indivíduo a uma pena alternativa que o manteria em absoluto isolamento por dois anos. Mas isso não era o suficiente… Caso persistisse na rebeldia, o preso teria “privilégios” cortados, ficando sem luz e comida por um longo período, recebendo apenas uma cota mínima de água para sobreviver. Compartilhar um ambiente com seus próprios excrementos, insetos e na quase total ausência de uma presença humana era um castigo que, certamente, levaria um homem à loucura.
Lealdade
Diante de cada nova agrura, Papillon e Dega demonstram um senso de lealdade incrível. Cabe a Papillon a árdua tarefa de provar a todos que sua amizade e seu caráter não cederiam sequer às torturas. É durante as passagens pela solitária que vemos o quanto o espírito humano é forte. É durante essas mesmas passagens que percebemos o quanto o corpo humano pode sofrer frente às maldades e loucura.
Fuga
É sobre a esperança que esse filme aborda, concluo.
Espaço-tempo
O filme respeita a trama original. Ele é baseado na obra homônima do próprio Charrière, escrita com base em suas memórias na prisão.
Passado na década de 1930, Papillon mostra, sem o falso pudor de hoje, a rotina de um presídio de segurança máxima sob a visão dos presos. Mostra que o pensamento da época era voltado para o ‘aprendizado através do sofrimento’.
Destaque para a fidelidade da produção nas indumentárias e no comportamento também dos guardas. O diretor do filme buscou ser o mais realista possível… e conseguiu.
Lepra e nativos
O livro
A produção cinematográfica foi óbviamente inspirada no livro homônimo de autoria do próprio Henri Charrière. O sucesso do livro levou ao surgimento do filme, proporcionando ao próprio Papillon uma renda bem considerável. Em 2013, a editora Bertrand Brasil republicou o livro.