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FILMES CRÍTICAS

Crítica: Megatubarão | Jason Statham vs Megalodon

Crítica: Megatubarão | Jason Statham vs Megalodon
  • Publicado em: agosto 9, 2018

Em 1975, um jovem Steven Spielberg lançava Tubarão (Jaws), uma aposta de produtores que arriscavam seus investimentos na nova geração da American New Wave1. O sucesso não poderia ter sido maior e o filme virou o marco definitivo na história dos grandes blockbusters. Além de ter ajudado a definir os grandes lançamentos de verão, a qualidade da obra era resultado da excepcional condução de Spielberg e do trabalho milagroso da famosa montadora Verna Fields (procure sobre os bastidores e a pós-produção e verão do que estou falando…). Anos depois, em 2013, o oposto em termos de… bom, de tudo, era transformado em Sharknado (Sharknado), um parente distante declaradamente galhofa que mistura tornados com tubarões em situações absurdas (nem precisava enfatizar não é mesmo!?). Essas duas obras tão diferentes curiosamente representam dois extremos na abordagem: o suspense e o tom mais sério do primeiro diametralmente oposto à sátira mal executada do segundo. Entre eles, vários derivados navegaram entre temáticas e estilos, como Do Fundo do Mar (1999), Mar Aberto (2003), e os mais recentes Águas Rasas (2016) e Medo Profundo (2017) – crítica aqui.

Em algum lugar dessa gradação se encontra este novo Megatubarão (The Meg, 2018), adaptado do livro Meg: A Novel of Deep Terror (Steve Alten, 1997), cuja trama se passa no Oceano Atlântico, em uma estação de pesquisa financiada pelo bilionário Morris (Rainn Wilson). Após a descoberta de uma região inexplorada em uma fossa abissal, um acidente ocorre quando eles são atacados pelo Megalodon, um tubarão pré-histórico de mais de 20 metros de comprimento. O oceanógrafo Zhang (Winston Chao), então, recorre ao socorrista da marinha especializado em resgates profundos, Jonas Taylor (Jason Statham), que agora tem de enfrentar a criatura enquanto tenta se redimir de escolhas passadas.

Logo nos primeiros momentos do longa, a linha da suspensão de descrença é delineada logo de cara. Esse não é o tipo de obra em que vamos perder nosso tempo e investimento questionando os absurdos científicos e os exageros de forma geral. Se já não tinha ficado claro pelos trailers, a ideia aqui é aceitar a empreitada como uma diversão descompromissada. Temos um astro do gênero de ação – que traz sempre consigo uma canastrice particular dos filmes que costuma fazer – e um roteiro em que o vilão é um tubarão gigante. Admitindo a dificuldade de levar a premissa muito a sério, sobra uma estrutura que mais se apoia na aventura com um pouco de humor negro do que em quaisquer outras pretensões – fora, claro, a intenção de faturar alto na China, um país que costuma dar muita bilheteria e adora histórias de monstros gigantes. Com coprodução do país, os títulos traduzidos para o chinês e a presença de vários atores orientais já deixam claro o objetivo da familiaridade com este gigantesco mercado.

Com isso, o roteiro de Dean Georgaris e os irmãos Jon e Erich Hoeber não faz questão de colocar o protagonista em uma caracterização particularmente substancial. Jonas é o típico herói desacreditado por si mesmo – representado pelo artifício da bebida e o pessimismo – e que necessita apenas de um empurrão para que rapidamente retorne em boa forma e com as virtudes lá em cima, sendo simpático com a criança do filme – interpretada com uma avançada técnica de atuação (fofura) pela pequena Sophia Cai – e colocando sempre sua vida atrás de todos os outros personagens. Tudo isso pela já conhecida fisicalidade do ator e da maneira como ele se comunica basicamente através de frases de efeito cuja eficácia varia de acordo com o humor da cena. Boa parte de nosso envolvimento depende, portanto, do carisma do ator, e isso ele tem na medida e pronto para se encaixar entre um mínimo (bem pouco) de alcance dramático e estamina.

Infelizmente, esse descompromisso vem sempre acompanhado da habilidade dos realizadores em transitar entre a linha que separa o “se levar a sério” e o autocomentário. Nem sempre o diretor Jon Turteltaub (Jamaica Abaixo de Zero, A Lenda do Tesouro Perdido, O Aprendiz de Feiticeiro) consegue equilibrar as duas coisas e o resultado é uma narrativa que oscila de forma indecisa entre as abordagens. Dessa maneira, os personagens que compõe os núcleos da ação não passam de características unidimensionais ambulantes que servem apenas como artifício para apelar aos sentimentos de empatia mais primários do público. Pode-se argumentar que a tendência ao dito “pipocão” justamente utilize esses estereótipos como ferramenta, mas isso demandaria ao menos um certo grau de simpatia. Com exceção talvez de Jonas, a criança e sua mãe, Suyin (Bingbing Li), o restante dos personagens raramente conseguem arrancar alguma ruga de preocupação do espectador. Fora isso, há a tentativa de romance bastante insossa entre o protagonista e Suyin, a insistência em investir emocionalmente em situações cujos dramas pouco tem de profundidade e a constante indecisão de usar os clichês como autorreferência ou de realmente acreditar neles – nesse caso, só observar como a tentativa de transformar DJ (Page Kennedy) subitamente em um incessante alívio cômico ou acreditar que Suyin não é típica donzela em perigo resultam no efeito contrário.

Já no quesito da ação e da aventura, o diretor escolhe se manter na segurança, quando deveria ser o contrário. Em um momento atual onde o público está mais do que acostumado com grandes sequências e muito CGI, o longa aposta muito baixo e jamais consegue de fato produzir algo interessante para quem espera um pouquinho mais. A direção raramente sai da burocracia e o mínimo de tensão que se atinge é como consequência de uma abordagem sem muita imaginação. Já sabemos quando a criatura vai aparecer e quando não vai, além de prever diversas situações apenas com um conhecimento básico sobre a estrutura de um roteiro (nenhum filme de tubarão vai simplesmente acabar no meio, não é!?). Não há particularmente nenhuma sequência memorável, o que poderia ter sido alcançado se Turteltaub insistisse mais no nonsense declarado e não apenas quisesse criar situações genéricas vistas em qualquer outro exemplar do gênero. Além disso, o trabalho do cineasta na ação em si se mostra decepcionante na maioria das vezes, recorrendo a planos muito fechados e picotados em momentos onde deveríamos justamente ter um vislumbre da grande ameaça e seus estragos (fato que também só faz piorar e experiência em 3D). Basta observar como a montagem tende a esconder o impacto e a desorientar a geografia sempre que o clímax de um ataque pede justamente o contrário.

Para não dizer que não há qualidades, a forma como Morris é retratado no filme serve tanto como um alívio cômico (melhor que DJ) como um representante (confesso não saber ao certo se é proposital ou não) das reações de vergonha alheia em consequência de alguns diálogos pavorosos ditos por vários personagens. Um bom exemplo é quando Zhang faz um discurso que parece ter saído de um trabalho escolar da 3ª série sobre como o homem destrói a natureza, fazendo com que os nossos protestos sejam imediatamente traduzidos pela impaciência de Morris num raro momento onde a obra se reconhece como ela realmente é. Justamente o que faltava mais no filme, impedindo que tudo soasse tão bobo. A criatura, do contrário, até aparece ameaçadora e seu design funciona muito pela decisão de não exagerar na dose na hora de escancará-la para o público.

Megatubarão perde muito ao tentar encontrar seu caminho entre o que há de mais dramático e o máximo que se pode chegar de uma sátira. A impressão é que falta coragem para dar um passo maior rumo a algo mais descontraído, exagerado e verdadeiramente divertido. Dessa vez, eles tinham nossa total “permissão” para isso.

Nota: 

1Nova Hollywood, ou American New Wave, é um movimento cinematográfico ocorrido nos EUA do fim da década de 60 até o início da década de 80. Marcando o fim da Hollywood Clássica, este movimento transformou significativamente o cinema americano através de uma geração de cineastas influenciados por vanguardas europeias, como a Nouvelle Vague e o Neo-realismo Italiano. Dentre os mais famosos estão Robert Altman, Peter Bogdanovich, Martin Scorsese, Francis Ford Coppola, Brian de Palma, William Friedkin, George Lucas, Terrence Malick, Arthur Penn, Roman Polanski e Steven Spielberg.

Trailer

Data de lançamento: 09 de agosto de 2018 (1h 52min)

Direção: Jon Turteltaub

Elenco: Jason Statham, Bingbing Li, Rainn Wilson, Cliff Curtis, Winston Chao, Shuya Sophia Cai, Ruby Rose, Page Kennedy, Robert Taylor

Sinopse: Na fossa mais profunda do Oceano Pacífico, a tripulação de um submarino fica presa dentro do local após ser atacada por uma criatura pré-histórica que se achava estar extinta, um tubarão de mais de 20 metros de comprimento, o Megalodon. Para salvá-los, oceanógrafo chinês (Winston Chao) contrata Jonas Taylor (Jason Statham), um mergulhador especializado em resgates em água profundas que já encontrou com a criatura anteriormente.

 

 

Written By
Joao Rafael

Apaixonado por Cinema e constantemente tentando aprender seus caminhos.

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