1968 – Para jamais esquecer
Para que as pessoas não se esqueçam dos tempos mais sombrios da política brasileira, Virgílio Pedro Rigonatti, autor de Cravo Vermelho, fez uma lista do que acontecia no Brasil e pelo mundo, durante o emblemático ano de 1968 – auge da Ditadura Militar.Inclusive, cada passagem é contada com maestria em sua obra. Foram muitas batalhas, muita repressão e tragédias. E também foi palco de muitos acontecimentos pelo mundo.
A Batalha da Rua Maria Antônia
FFCL (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras) X Universidade Mackenzie. Um conflito que tomou a Rua Maria Antônia, envolvendo os alunos dessas duas renomadas faculdades, no dia 3 de outubro de 1968. As consequências desse confronto foram a morte de um estudante secundário e um incêndio no prédio da USP. Motivo? Parte dos mackenzistas eram participantes do Comando de Caça aos Comunistas (CCC), enquanto, uspianos eram ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE). Essa oposição marcou uma época de muita tensão, resultando na batalha.
O restaurante estudantil Calabouço
Muitas lutas foram travadas após a morte de Edson Luís de Lima Souto, estudante secundarista de 17 anos, pelas mãos de policiais da Ditadura Mundial, em de 28 de março de 1968, enquanto 300 estudantes jantavam no restaurante Calabouço. O episódio rendeu a primeira grande manifestação pública, que acarretaria três meses depois na Marcha dos 100 mil, um dos principais protestos da Ditadura. Este contexto, levou à intensificação da reação do governo Costa e Silva, que estabeleceu o AI-5.
Ato Institucional Número Cinco – AI5
Foram dezessete grandes decretos emitidos pela Ditadura Militar, e o AI5 foi o quinto deles, institucionalizado no dia 13 de dezembro de 1968. Foi, sem dúvidas, o ato mais severo de todos, pois a tortura se tornou institucional, um instrumento do Estado para reprimir. Dentre as inúmeras consequências da aplicação do ato, as mais destoantes são: o Presidente da República pode fechar o Congresso Nacional e as Assembleias Legislativas dos estados; o governo federal podia intervir em estados e municípios, suspendendo as autoridades locais; derivou a permissão para censura prévia de músicas, cinemas, teatro, televisão e, principalmente, imprensa e meios de comunicação; as reuniões políticas sem autorização do governo também eram ilegais. Começaram os tempos difíceis e a Ditadura Militar tomou uma força descomunal.
A prisão de Ibiúna
Em 12 de outubro de 1968, durante o 30º Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Ibiúna, cerca de mil estudantes foram presos. Este seria o encontro que definiria o futuro do movimento estudantil, com a eleição da presidência da UNE, que fracassou ao ser invadida pela manhã do fatídico dia.
O assassinato de Martin Luther King
Um dos protagonistas mais importantes do ativismo pelos direitos dos negros e pastor protestante, Luther King lutava em campanha contra a violência e incentivando o amor ao próximo. O ganhador do Prêmio Nobel da Paz pelo combate à desigualdade racial através da não violência, entre outros muitos feitos, foi assassinado no dia 4 de abril de 1968, por motivos até hoje desconhecidos. Alguns acreditam que seja motivado por racismo, outros apontam a máfia e o governo como os mandantes da execução. Não se sabe, mas a certeza é que foi por causa da ascensão e mudanças que a sua luta promoveu.
O assassinato de Robert Kennedy
Três tiros, no dia 5 de junho de 1968, atingiram o senador. Depois disso, o mundo noticiava o assassinato de Robert Kennedy. O palestino Sirhan Sirhan havia matado o irmão de John Kennedy. As teorias conspiratórias para sua morte são muitas, porém a mais comentada delas é a suposta promessa de Kennedy para acabar com a Guerra do Vietnã.
Barricadas de Paris
Considerada a maior greve já feita na Europa, as Barricadas de Paris aconteceram durante o governo do general Charles De Gaulle. A partir de uma série de conflitos entre os estudantes e a polícia, barricadas nas ruas e pedras para enfrentamento por parte dos alunos, que fez as autoridades bater em retirada e depois de se reagruparem, insistirem na dispersão dos manifestantes com muito mais violência. A motivação foi a invasão das forças armadas na Universidade de Sorbonne, inclusive essa ação movimentou uma passeata em 6 de maio de 1968, que juntou em um primeiro momento 2 mil estudantes, professores e simpatizantes. Após 10 dias ergueram-se outras barricadas e ataques, que resultou em mais violência. O motim só foi evitado após uma proposta eleitoral por parte do general.
A Primavera de Praga
Movimento liderado por Alexander Dubcek teve a intenção de humanizar o Partido Comunista na Tchecoslováquia, conquistando a antipatia dos “stalinistas”. Após assumir em 1968 o governo do país, Dubcek começa uma jornada para reformar políticas, sociais, econômicas e culturais, que fez a Primavera de Praga. Entre as variadas conquistas, a liberdade de imprensa permitiu a organização política, a contragosto da ex-URSS e alguns países ao redor. A resistência do governante em fazer parte das relações políticas dos outros Estados, originou uma invasão das tropas da URSS e do Pacto de Varsóvia, em Praga, para reprimir o movimento reformista. A população reagiu com estratégias de boicotes e resistências. No fim, Dubcek foi sequestrado, levado à Moscou e obrigado a restabelecer relações com a ex-URSS.
Intensificação da Guerra do Vietnã
No ano de 1968, a Guerra do Vietnã tomou uma proporção bem maior com a invasão das tropas do lado Norte e os vietcongues, que foi chamada de Ofensiva de Tet. A ofensiva ocupou a capital Saigon, do Vietnã do Sul, e até mesmo a embaixada norte-americana. Este foi o momento que mais derramou sangue em toda a guerra, que perdurou por mais sete anos.