Pagliacci tem estreia prevista para o dia 26 de abril. O documentário, basicamente, aborda o processo de construção do espetáculo que dá título à obra, desde seu planejamento até a estreia, já sem a presença do saudoso Domingos Montagner.
“Se lágrimas um dia derrubei, certamente, por meio de suas graças, elas secarei. Obrigado por se valer da alegria para de novo despertar em nós o riso que contagia.” (Franz Lima)
Pagliacci é um espetáculo, um Espetáculo com “e” maiúsculo. Uma ode à profissão de palhaço, ao ofício de trazer alegria. É, antes de tudo, um renascimento diante de uma tragédia, diante da perda de um amigo querido.
Desde o primeiro minuto do filme a emoção se mostra quase incontrolável. Eu, como espectador, me emociono e contenho as lágrimas, enquanto o riso me cerca.
Conhecer os bastidores de algo tão grandioso é um presente.
“O paraíso não é sério, é só inocente…”
A essência do circo é trazer a alegria. Homens e mulheres são, durante a apresentação, seres mágicos, capazes de fazer-nos esquecer dos problemas, mas, sobretudo, capazes de levar-nos a um mundo mágico, inigualável e pleno de alegria.
Cada depoimento do documentário traz à tona essa lembrança.
Conhecer os bastidores de algo tão grandioso, e ao mesmo tempo tão simples, é uma dádiva. Vivemos todas as dificuldades que eles vivem para que o resultado final seja um só: nossos deleite e riso.
Depoimentos exaltam a dedicação e o amor pela profissão e pelo circo nutrida por Domingos Montagner: “Seja o jardineiro de sua arte, não o arquiteto. Cultive o amor por aquilo que faz…”.
Fê e Duma, ou se preferirem Fernando e Domingos, são irmãos na arte. Um complementou durante anos o trabalho do outro. O grande, bonito e aristocrático Duma fazia o contraponto e os ganchos para o atrapalhado, pequeno e inteligente Fê. As cenas onde os dois atuam juntos, ainda que pequenas e rápidas em função da edição, emocionam e mostram o quanto eles eram próximos. Dá saudade…
Prosseguimos nessa jornada de risos, tristezas e realizações. Isso é viver! Não há como fugir daquilo que é inevitável, porém uma coisa fica bem clara para qualquer um que vive do circo e por ele: as dificuldades e intempéries são coisas que não podem ser evitadas, mas isso jamais diminuirá o prazer de se apresentar em um palco, de trazer alegria e emoção às pessoas que, infelizmente, vivem mais em função do ganho que do bem viver.
A dura realidade circense é mostrada. Ela tem incontáveis percalços e muito se perdeu ao longo das décadas. O circo de hoje é uma parcela bem pequena do que vimos nos anos 60 e 70, apenas para citar. Isso, contudo, não impede que o encanto permaneça. Lona grande ou pequena, itinerante ou fixo, a verdade está nos momentos felizes proporcionados pelos homens, mulheres e crianças que transformam esse ofício em uma paixão.
O longa-metragem é tão fluido, feito com tanto amor, que o final se aproxima e percebemos isso. Não sabemos o instante exato em que acabará, o que não impede que o sintamos. Então, em um dos mais emocionantes momentos desta obra, temos o prazer de presenciar o encontro entre Fernando Sampaio (Fê) e Roger , o palhaço Picolino. Aluno e Mestre conversam e matam as saudades. O respeito que Fê tem por Roger é de causar comoção. Novamente, não há como evitar as lágrimas. Esse amor fraterno e o respeito que um pai dedicaria ao filho são de tocar o coração.
E o espetáculo tem que continuar. Novas cenas mostram que o LaLumina prosseguiu, apesar da grande perda. A morte de Domingos Montagner, o eterno Duma, foi sentido e trouxe uma temporária tristeza ao picadeiro. Assim é a vida. Mas é fato que Duma não ficaria feliz ao ver a ausência dos sorrisos nos rostos de seus amados companheiros de circo.
E eles prosseguiram…
Ao final de tudo, um emocionante depoimento do próprio Duma, cedido ao GShow, serve para nos mostrar o quanto ele era circense, qual o tamanho do seu amor pelo circo onde aprendeu e foi moldado a ser o homem que se tornou.
Entre músicas, risos e uma profusão de emoções, Pagliacci comprovou ser um dos mais intensos e tocantes documentários que vi na vida. Uma obra para ser vista várias vezes, pois a cada repetição algo de novo tocará o espectador.
Que as luzes se mantenham acesas no picadeiro da vida, pois todos somos mortais, mas nada pode apagar o brilho que um circo traz consigo.