Algumas coisas acontecem para que outras deem sequência. Verdade seja dita, eu não iria assistir ao documentário O Processo, visto que dei prioridade para ver Pagliacci. Porém um problema técnico impediu a sessão de Pagliacci e, consequentemente, eu e outros críticos fomos remanejados para a cabine de O Processo.
Até aí, tudo tranquilo.
Esse documentário, dirigido por Maria Augusta Ramos, aborda momentos importantes que antecederam ao impeachment de Dilma Rousseff e culmina com a saída dela da presidência, fatos que a maioria do público tem conhecimento, ainda que parcial. O que incomodou foi o direcionamento que a diretora e sua equipe de edição deram às quase 450 horas de filmagens. Digo isso porque é visível a parcialidade da diretora ao destacar duas vertentes no docmentário: os apoiadores de Dilma (ênfase em Lindberg Farias e Gleisi Hoffmann) que são mostrados como pessoas centradas e quase serenas diante dos comentários nas várias sessões do processo de impeachment e, por outro lado, o relator do processo e seus apoiadores (incluindo a advogada Janaína Paschoal) mostrados como quase imbecis, figuras caricatas e – algumas vezes – perto da loucura.
Não há exagero em minhas palavras. O Processo é uma ferramenta que serviu para documentar o impeachment, mas que só agora surge para semear a dúvida às vésperas de uma eleição presidencial. Julgo ser isso incondizente com o que rege a Justiça Eleitoral e, por esse simples fato, já não consegui me agradar ao ver o documentário. Ressalto que essa é minha opinião, pois a Lei nº 9.504/1997 não enquadra esse tipo de mídia como propaganda, o que não impede de ser um material partidário.
Contudo, os problemas não param por aí. Outro grande entrave dessa produção está no tom adotado pela diretora ao estabelecer duas vertentes: a dos defensores de Dilma e Lula (citado providencialmente ao final) e o grupo de conspiradores que buscavam a derrocada da Presidente. Vamos analisar friamente o contexto da época: Dilma já não possuía condições políticas para governar e isso foi imprescindível para que as manobras políticas, inclusive de ex-apoiadores, surgissem para que sua saída ocorresse; o segundo fato está na óbvia manipulação dos atos de Dilma por parte de Lula que, via de regra, atuava como um “ponto eletrônico” e ditava quais seriam suas diretrizes. Além do mais, um interessante e importante tema não abordado gerou o que alguns chamaram de golpe, isto é, a nomeação de Michel Temer (vice de Dilma) ao cargo de Presidente. Temer tem envolvimento com todas as manobras políticas que o governo Rousseff fez. Na condição de vice-presidente, ele deveria ter ciência dos fatos que ocorrem em seu governo. Ninguém governa sozinho e isso também ocorreu com Dilma. A parceria simplesmente se desfez para que os crimes de Temer fossem julgados o mais tarde possível e, lembro, isso acontece exatamente neste momento em que escrevo o texto. Voltando aos problemas da produção, Maria Augusta optou por definir, através de sua edição, um grupo de mártires (liderados, repito, por Lindberg e Hoffmann) que mais parecem heróis, seja através de olhares distantes e palavras bonitas, seja com o uso de cenas claramente dirigidas, onde até o caminhar é lento. Por outro lado, todo o histórico como professora e advogada de Janaína Paschoal foi lançado aos porcos, principalmente com a inclusão de cenas dela (que faço questão de destacar que são reais) onde ela se exalta e adquire tom cartunesco, quase teatral. Por que não foram lançados os momentos de serenidade e consciência da advogada?
Manobras e política.
Qualquer um com um mínimo de conhecimento político sabe que é impossível governar sem articular. Partidos fazem coligações, políticos mudam de partidos, favores são oferecidos em troca de apoio. Essa é a nossa política e que se repete em muitos países do mundo. Claro, esse é o jeito errado de fazer política, porém até o momento é nossa realidade.
Quando o assunto é corrupção e manobras no Brasil, uma coisa tem que estar bem clara: pouquíssimos são os inocentes. Com base nisto, posso afirmar que Lula, Temer, Dilma, Aécio, Renan, Gilmar Mendes e uma infinidade de pilantras são os responsáveis não só por destruir a economia brasileira, como também formam uma quadrilha que, diante das câmeras, faz questão de mostrar o ódio um contra o outro, mas que na verdade são amigos na hora da partilha dos bens. Em suma, eles mataram indiretamente milhares de brasileiros ao sucatear a saúde, a segurança, ao aumentar em milhões o número de desempregados. O crime de corrupção deveria ser inafiançável, punido com no mínimo 50 anos de cadeia e sem direito a delação e outros fatores que levam o cara a cumprir, dos 30 anos ditos como pena máxima, apenas 4 ou 5, provavelmente em regime aberto ou domiciliar.
A inclusão de políticos franceses que apoiavam Dilma não aumentou a credibilidade do documentário. Afinal, representantes políticos populistas existem em muitos países, principalmente se levarmos em conta o quanto isso pode ser rentável para os poderosos. A aparente distribuição de rendas e bens traz benefícios de curto prazo e estragos que duram anos. Vide a atual situação do país.
Conclusão.
Este é um documentário tendencioso, feito para destacar a seriedade do PT e dos governos Lula e Dilma, algo que não se sustenta diante das condenações, impeachment e incontáveis denúncias. Isso também é válido para a maioria dos políticos e partidos, apenas para deixar registro.
Enquanto houver esse descontrole no uso do dinheiro público, impostos abusivos (parece até que moramos em Nottingham, na época de Robin Hood) e uma legislação que favoreça o político corrupto, pouco teremos a comemorar.
O Processo é uma obra fraca, editada com grande parcialidade e voltada a exaltar uma mulher que não teve pertinência como governante desse país. Sonho com o dia em que o êxodo do país acabará, onde o futuro realmente será promissor e teremos novamente orgulho de dizer que somos brasileiros. Por enquanto, o poder é sombrio, corrupto e suga os cofres públicos. E até o fim deste ano pouca coisa mudará.
Que a esperança resista…