Adaptar jogos para que se tornem filmes não é uma tarefa fácil. Quer prova maior que a inexistência de um God of War até hoje? Então, não é de se estranhar a demora para que retomassem as aventuras de Lara Croft em Tomb Raider: A Origem.
O longa se passa nos dias atuais e mostra uma aventureira, sem dúvida, porém muito mais frágil e realista que a versão de Angelina Jolie. Interpretada por Alicia vikander, essa versão de Lara veio para exorcizar a má impressão do segundo filme da franquia anterior, além de trazer uma heroína muito mais próxima da versão dos games, no caso o jogo de 2013.
Para fazer uma análise mais completa, alguns pequenos spoilers estarão presentes, porém nada que atrapalhe sua experiência ao assistir o filme. Muito consta dos trailers. De qualquer forma, fica o aviso. Boa leitura!
A história.
A trama é muito parecida com a do jogo da Crystal Dynamics. Na verdade, serve como ligação para explicar como Lara acabou na ilha de Yamatai.
No filme, encontramos uma Croft menos perigosa, inexperiente e órfã. Isso não a impede de buscar seu pai, dado como morto por todos, exceto por ela.
Após uma boa cena de perseguição com bike, Lara acaba presa e sob a tutela de Ana Miller (Kristin Scott Thomas), funcionária da empresa de seu pai que a convence a assinar os papéis que declaram a morte de Lord Richard Croft (Dominic West) e, por consequência, selará o destino de Lara à frente das empresas da família.
Um dos presentes deixados pelo pai leva a jovem para Hong Kong. Em meio a muita confusão e cenas bem gravadas de perseguição, ela e Lu Ren (Daniel Wu) partem em busca de respostas para seus passados. Eles vão para Yamatai, uma desabitada ilha que possui uma história de morte e medo.
Interligação entre passado e presente.
A gana em encontrar o pai é uma constante na vida de Lara. Ela é praticamente aquilo que seu pai moldou. Ótima arqueira, atlética e uma pessoa digna. Para destacar esse vínculo com o passado, o diretor Roar Uthaug optou por usar flashbacks onde Richard e Lara interagem. Esse recurso é usado muitas vezes no filme, quase sempre com uma música mais triste ao fundo e com uma coloração próxima à sépia.
Maldição e morte.
A ilha Yamatai não é realmente um bom lugar para se visitar. Cercada por pedras e com o mar bravio, poucos chegam até o lugar com vida. Lara e Lu passam por maus bocados até chegar à ilha, mas os perigos do mar e das pedras são pequenos perto daquilo que os aguarda em Yamatai.
A partir da chegada deles, o que o espectador verá é quase uma reconstituição do game. A violência não tem moderação
Quanto à maldição da tumba, a explicação ficou bem mais coerente do que a simples inclusão do sobrenatural.
Motivação do vilão.
Esse é um ponto fraco do filme. O homem mau é feito pelo ator Walton Goggins que faz o papel de Mathias Vogel.
Mathias está na ilha há tempos e informa que só poderá sair ao encontrar a tumba de Himiko, a rainha da morte. Há algo importantíssimo lá, tão importante a ponto de o próprio pai de Lara lutar para que ele não viesse à tona.
O problema de Vogel está na contenção de seus atos. Ele mata e escraviza, porém seus confrontos com a pequena Croft parecem sem empolgação. Ela é um inimigo e ele é um assassino cujo preparo para o combate deveria ser maior.
Claro que alguém poderá afirmar que ele é só um líder, cujo poder sobre os capangas lhe dá mais imponência, ainda que ele não seja um perito. Seja como for, para variar, o embate final parece moldado para que a heroína vença.
Comparação com o game.
Muita, muita coisa é praticamente igual ou está incluída no filme para destacar o jogo.
A ilha é a mesma, incluindo os perigos. Lara enfrenta puzzles, corredeiras, construções que são demolidas, tiros e a floresta. O uso do arco é outra característica própria do game.
Tomadas escuras e ângulos mais ousados estão presentes tanto no jogo quanto no filme.
O que é possível concluir é que além de um verdadeiro reboot para a franquia, Tomb Raider: A Origem é um claro preparo para o jogo que será lançado em setembro: Shadow of the Tomb Raider, onde a personagem já mostra a evolução que a aproxima da Lara Croft tradicional.
Claramente esse é um filme para cativar os fãs dos jogos, em especial o de 2013, basta ver que praticamente os cenários são idênticos, assim como o visual de Alicia Vikander é exatamente o mesmo.
A vulnerabilidade da personagem é um trunfo, já que isso a distancia de outros cujas habilidades os transformam em quase super-humanos. Essa “fraqueza” é demonstrada emocionalmente, através do medo e até por ferimentos, fatos que a aproximam de pessoas comuns.
Perto da morte.
A todo momento contemplamos a jovem Lara se expondo ao perigo e, principalmente, à morte. Sua fragilidade e a possibilidade de sua morte (algo que sabemos que não ocorrerá) é palpável. Mas sobre isso já falamos. O que os roteiristas optaram é incluir situações onde Croft tenha que escolher a sua vida ou a do inimigo. Ela mata e demonstra claro preparo no combate corpo a corpo, porém em situações anteriores, ela recuou diante de um inimigo mais fraco.
Alguns detalhes precisam ser acertados para dar mais coerência à trama no próximo filme (que certamente acontecerá).
Nota final.
Tomb Raider: A Origem é um filme bom. Não encontraremos nada de extraordinário, talvez fruto do temor de altos investimentos diante da possibilidade de fracasso. Comparativamente há traços de filmes como Caçadores da Arca Perdida e outros de aventureiros, só que com muito mais apuro visual.
O roteiro é previsível, ainda mais se você for um dos jogadores da franquia ou cinéfilo. Isso, óbvio, não minimiza a obra, mas ressalta que é preciso mais coragem para criar algo impactante e condizente com o histórico de Lara e a franquia. Curiosamente, uma das roteiristas, Geneva Robertson-Dworet, também trabalhará em Capitã Marvel.
Enfim, Tomb Raider é entretenimento que pode evoluir em um próximo longa mais audacioso.